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Embraer pode deixar de ser brasileira

Em dezembro do ano passado, o jornal americano Wall Street Journal, anunciou que o governo brasileiro estaria negociando com empresários dos Estados Unidos a venda da terceira maior empresa brasileira, a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), para a norte-americana Boeing. No último dia 5 de julho, a imprensa nacional anunciou um memorando de entendimento entre as duas empresas que, embora considerado vago pelo mercado de ações, demonstrou que a negociação para tal “parceria” estaria avançando.

A Embraer foi privatizada em 1994 pelo governo Itamar Franco. O consórcio liderado pelo Banco Bozano Simonsen adquiriu 71,37% das ações ordinárias. A participação da União na Embraer caiu para menos de 20%. Porém, embora o governo brasileiro não seja acionista majoritário, ele detém uma ação especial, chamada golden share, que lhe dá o poder de veto em decisões importantes, como as que envolvem a transferência de controle acionário.

A Boeing prevê a criação de uma empresa de aviação comercial. Ela compraria 80% da divisão de aviões comerciais da Embraer que representou, no ano passado, 58% da receita líquida gerada pela companhia. Nesse acordo, o governo brasileiro manteria seus 20%, mas não teria uma golden share. Esse tipo de ação só se manteria na empresa que agrupa os demais negócios da Embraer: os mercados de defesa e segurança, aviação executiva e agrícola.

As negociações entre as diretorias da Boeing e da Embraer correm a toque de caixa no mandato do presidente golpista Michel Temer, uma vez que a instabilidade política do país não garante o prosseguimento dos acordos após as eleições. Políticos petistas já declararam oposição à ideia. Há também o receio de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que recentemente proibiu o Governo Federal de vender ações estatais sem o aval do Congresso, possa se posicionar sobre esse caso.

Já o ex-ministro da Fazenda e pré-candidato à presidência pelo MDB, Henrique Meirelles, como membro do Conselho de Administração da “Azul Linhas Aéreas Brasileiras”, fez consulta ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o assunto. Para ele, as "golden shares" são um entrave aos investimentos e mal vistas pelo mercado. O processo está nas mãos do TCU aguardando votação.

Meirelles, como bom serviçal do capital internacional, tem como foco agradar ao mercado. Com a Embraer, a Boeing poderá entrar no segmento de aviões regionais para fazer frente à fusão da europeia Airbus com a canadense Bombardier e lutar pela liderança deste mercado. A Embraer já possui um produto altamente competitivo: os jatos regionais E-Jets, e a segunda geração deles, os E2, que estão em fase de certificação. Porém, a entrega da Embraer ao controle estrangeiro está diretamente relacionada à questão da segurança nacional. O professor da Unicamp, especialista em indústria aeroespacial, Marcos José Barbieri Ferreira, alerta que o setor de defesa da empresa não se sustenta sozinho: "A área de defesa traz novas tecnologias. Já a comercial gera escala e rentabilidade. Se eu vender uma parte, a outra não se manterá a longo prazo (...). E a venda do controle não é vantajosa, pois a Embraer deixaria de existir como empresa global e se transformaria numa subsidiária, o centro de decisões iria para o exterior. Isso poderá afetar principalmente a parte de desenvolvimento de aviões, que possivelmente seria absorvida pela Boeing".

Situação dos trabalhadores e a paralisia sindical

A maior fábrica da Embraer, situada em São José dos Campos-SP, emprega 13 mil pessoas, além dos terceirizados em áreas como limpeza e alimentação e funcionários de outras 40 empresas metalúrgicas que prestam serviços para ela. Logo, a operação colocará em risco cerca de 25 mil empregos, pois os novos projetos da empresa irão para os Estados Unidos.

Porém, diante de mais um crime de lesa-pátria e da ameaça de desemprego no setor, a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São José, ligada à CSP-Conlutas e ao PSTU, numa capitulação vergonhosa, afirmou que vai “pedir” ao governo do presidente Michel Temer e ao Congresso Nacional que vetem a operação de venda da Embraer. No popular, irão pedir para o “cabrito vigiar a horta”.

Com as privatizações e venda de empresas nacionais lucrativas, o Brasil vai perdendo cada vez mais a sua soberania nacional. O golpe em 2016 foi para acelerar esses planos. A CSP-Conlutas e o PSTU não só negam que houve um golpe de Estado no Brasil, como se recusam a fazer a verdadeira luta contra a destruição da economia nacional e o direito dos trabalhadores. Apenas nas ruas, em greves, com manifestações e ocupações dos postos de trabalho é que conseguiremos barrar de vez a política de expropriação e roubo do patrimônio nacional.

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