A polarização que se consolidou na atual campanha eleitoral deve ser encarada como mote para expor os projetos políticos em disputa e o lugar dos interesses da classe trabalhadora neles. É urgente debater a pauta econômica para os trabalhadores, que já se sentem empobrecidos e ameaçados pelo desemprego e é através dela que se pode organizar a luta contra o avanço da direita que, diante da crise econômica, precisa instalar a superexploração dos trabalhadores. A revogação da EC 95, que congelou os gastos sociais por 20 anos, em nome do pagamento da fraudulenta dívida pública, a venda das estatais e fechamento de postos de trabalho, a Reforma Trabalhista, a aprovação da terceirização irrestrita, o fim do Ensino Médio público, os ataques às universidades públicas, a desindustrialização do país, a desnacionalização das riquezas naturais, são temas que colocam na ordem do dia a necessidade de mobilização dos trabalhadores.
No sistema capitalista, as eleições fazem prevalecer os interesses econômicos de uma elite que se apropria do Estado para garantir seus lucros. Para que os trabalhadores organizados consigam participar minimamente do jogo das eleições é preciso que façam concessões e acordos que limitam ou inviabilizam, dependendo da conjuntura econômica, governar com e para o povo. Desde a derrubada do governo Dilma, eleito com 54 milhões de votos, a máscara dessa democracia elitista tem caído lentamente diante dos olhos da população.
Para as eleições de 2018, foi criada uma farsa jurídica que colocou na cadeia o ex-presidente Lula, preferido do povo para ganhar em primeiro turno. Porém, apesar de todas as manipulações midiáticas, a população manteve a bancada parlamentar do Partido dos Trabalhadores do mesmo tamanho e levou Fernando Haddad ao segundo turno. Junto a ele, levou também Jair Bolsonaro, um candidato ignorante e descontrolado que representa o outro lado da moeda da campanha promovida pela burguesia contra o populismo do PT. A campanha antipetista não logrou o êxito esperado e a direita tradicional, representada pelo impopular governo Temer, foi massacrada nas urnas, abrindo espaço para a “nova” direita extremista do PSL de Bolsonaro. Desesperada, a burguesia tenta agora se agrupar em torno do nome do ex-capitão do exército para tentar controlar ao máximo o provável novo governo.
A luta deve ser organizada desde já
Desde o resultado do primeiro turno, a campanha de Fernando Haddad tornou-se a cada dia mais conciliatória e defensiva em relação aos ataques contra o PT e os direitos democráticos da população, ficando a reboque do conservadorismo fomentado pela campanha fascista de Bolsonaro. Cabe aos setores revolucionários se posicionar como a ala mais lúcida e sincera na defesa dos interesses da classe trabalhadora nesse contexto. O voto em Haddad deve ter como objetivo desmoralizar a própria noção de democracia burguesa, uma vez que os trabalhadores ainda nutrem ilusões nas eleições. No processo de esgotamento dessas ilusões, avança a consciência crítica das massas, tornando possível organizar a luta nas ruas.
Essa situação abre brechas para a organização da luta. A Frente Brasil Popular deve restabelecer a iniciativa de organizar o Congresso do Povo e a campanha pela libertação de Lula deve se fortalecer. A CUT e seus sindicatos devem iniciar desde já a resistência contra os ataques que estão por vir e pela retomada dos direitos conquistados, unificando as data-bases, chamando a Greve Geral. Para isso, é preciso convocar assembleias, fortalecer a imprensa operária, utilizar todos os recursos existentes para promover a agitação entre os trabalhadores e esclarecê-los sobre a necessidade da luta. Não é hora de baixar a cabeça para o avanço conservador, pois fascistas se derrotam nas ruas.