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E o Flávio Bolsonaro?

O crime ocorrido em Brumadinho, no último dia 25 de janeiro, foi o maior crime socioambiental e trabalhista do Brasil, com mais de cem mortes registradas até o momento e outras centenas de desaparecidos. Matou ainda milhares de animais domésticos e destruiu completamente a fauna e a flora do local. Segundo a pesquisa da Fiocruz, publicada no último dia 5 de fevereiro, a população afetada pelo rompimento da barragem ainda corre sérios riscos de sofrer com surto de doenças como leptospirose, dengue, esquistossomose e febre amarela. Isso sem falar nas doenças respiratórias, problemas de hipertensão e transtornos mentais como depressão e ansiedade que deverão aumentar. 

Obviamente que a gravidade desse crime, de total responsabilidade da empresa Vale, é imensa e merece toda a atenção. Contudo, ainda no mês de janeiro outros escândalos não menos grave assolaram o País. Uma série de acusações de corrupção e de envolvimento da família Bolsonaro com milícias veio à tona, mas foi totalmente secundarizada pela imprensa burguesa.

A primeira acusação envolvia o ex-motorista e assessor da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz. Segundo o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O jornal O Globo afirmou ainda que entre 2014 e 2015 outros R$ 5,8 milhões entraram e saíram da conta do motorista. O dinheiro foi redistribuído ao clã Bolsonaro. Apenas na conta de Flávio Bolsonaro, entre junho e julho de 2017, foram 48 depósitos no valor de R$2.000, além de cheques depositados na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro, que totalizaram R$24.000. Tudo indica que Queiroz era um laranja da família.

Após a publicação do relatório pelos meios de comunicação, Queiroz “tomou chá de sumiço”. Quando reapareceu, foi em uma entrevista à rede bandeirantes, em que afirmava que seus rendimentos suspeitos eram frutos de venda de carros e que seu sumiço se devia a um problema de saúde. Tudo muito suspeito. Tal caso tornou-se ainda pior quando, no dia 17 de janeiro, Flávio Bolsonaro, sob a prerrogativa do foro privilegiado, algo tão criticado por todos na família Bolsonaro, pediu a suspensão das apurações, que foi aceito liminarmente pelo ministro Luiz Fux.

 

Elo com milícias

 

Agravando ainda mais a situação, no dia 22 de janeiro, uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro tentou prender o capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido pela alcunha de “Gordinho”, considerado pelo Ministério Público do estado como a maior liderança do “Escritório do Crime”, um dos maiores grupos milicianos do Rio de Janeiro e, ao que tudo indica, com ligações diretas com o assassinato da vereadora carioca do PSOL, Marielle Franco. 

“Coincidentemente” a mãe e esposa de “Gordinho” eram lotadas no gabinete de Flávio Bolsonaro. Este, enquanto deputado estadual pelo Rio, chegou a afirmar que Nóbrega e outros policiais, com claros indícios de ligações com grupos milicianos, eram dignos de “menção de louvor e congratulações” por parte dos parlamentares cariocas. 

O jornal Folha de São Paulo soltou um infográfico (o famoso “power point”) que mostrava as ligações de toda a família Bolsonaro, amigos e assessores parlamentares da família, com os policias envolvidos com grupos milicianos e com a morte de Marielle Franco. Tudo indica que, se pesquisado a fundo, poderá ser constatada a participação do clã Bolsonaro no homicídio da vereadora.

Cabe ressaltar que as milícias são extremamente poderosas no Rio de Janeiro. Segundo o sociólogo e ex-pró-reitor de Extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), José Cláudio, em entrevista à rede de notícias Publica, “a milícia é o Estado. São formadas pelos próprios agentes do Estado. É um matador, é um miliciano que é deputado, que é vereador. É um miliciano que é Secretário de Meio Ambiente. Sem essa conexão direta com a estrutura do Estado não haveria milícia na atuação que ela tem hoje”. 

José Cláudio afirmou ainda que a ligação com políticos, como Flávio Bolsonaro, é comum: “esse vínculo lhe dá poder naquela comunidade. Ele vai ser chamado agora na comunidade: ‘Olha é o cara que tem um poder junto lá ao Deputado, qualquer coisa a gente resolve, fala com ele, que ele fala com a mãe e com a esposa e elas falam diretamente com o Flávio e isso é resolvido. Cinco décadas de grupo de extermínio resultaram em 70% de votação em Bolsonaro na Baixada”. 

O caso de Queiroz estava como uma das principais pautas de imprensa no começo do mês de janeiro. No dia 22, como dito, a ligação da família Bolsonaro com as milícias cariocas se tornou escancarada. E, finalmente, no dia 25 de janeiro, rompeu a barragem de Brumadinho. Esse último caso acabou por “varrer” as investigações em torno dos crimes da família Bolsonaro. Flavio, Queiroz e a turma toda saíram dos holofotes. 

Coincidência? É óbvio que não. A direita sempre se utiliza das mazelas da classe operária, mesmo em se tratando de crimes como o ocorrido em Brumadinho, para atacar ainda mais os trabalhadores e fazer “esquecer” os assuntos cruéis e inconcebíveis que envolvem seus agentes de plantão. Não bastasse todo o sofrimento e estrago promovido pela política de privatizações, sendo a Vale o caso mais emblemático (contando com a conivência de integrantes dos poderes legislativo, executivo e judiciário), o Estado burguês ainda “joga” com o deslocamento da atenção da população, causada pelo crime da Vale, para tentar blindar seus representantes e manter a salvo seus interesses. A burguesia é tanto responsável pelos crimes das mineradoras quanto pelos crimes das milícias que o clã Bolsonaro ora tenta esquivar-se de parceria. Cabe aos segmentos oprimidos da sociedade se organizarem para dar um basta à ganância e mazelas dos senhores do capital e seus lacaios.


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