Em viagem realizada entre 17 e 19 de março deste ano, o representante da extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL), foi aos Estados Unidos se encontrar com o presidente norte-americano, Donald Trump. Na prática, a reunião teve por objetivo formalizar o processo de entrega da economia e da política brasileira aos interesses imperialistas estadunidenses. Bolsonaro, mais uma vez, protagonizou um vexame internacional, ficando claro para o mundo a sua condição de capacho do imperialismo.
Em companhia do filho, Eduardo Bolsonaro; do “superministro” da economia, Paulo Guedes, e do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, Jair Bolsonaro assinou um tratado permitindo que os Estados Unidos usem comercialmente a base de lançamentos de foguetes de Alcântara, no Maranhão. Tal medida é um ataque contra a soberania nacional, pois abre uma importante base militar brasileira para uso e ingerência de outro exército, o estadunidense. Isso sem falar que dá aos EUA poderes para mobilizar um possível conflito com a Venezuela. Diante de tantas “benesses”, o que o governo brasileiro pediu em troca? Absolutamente nada.
Bolsonaro também assinou um Decreto em que isenta os cidadãos estadunidenses, japoneses, canadenses e australianos da exigência do visto para entrar no Brasil. A “justificativa” é que isto “alavancaria” o nosso turismo. Porém, não exigiu a reciprocidade. Resultado: os brasileiros continuarão a ser humilhados em viagens aos EUA, que dificulta cada vez mais a entrada de imigrantes, mesmo como turistas. Num claro caso patológico de “síndrome de vira-latas”, Eduardo Bolsonaro defendeu a política do governo norte-americano de dificultar o acesso aos brasileiros, já que estes, segundo do deputado, iriam aproveitar a “brecha” aos entrar nos EUA para viver ilegalmente: “quantos americanos vão vir morar ilegalmente no Brasil, aproveitar essa brecha para entrar aqui como turista e passar a viver ilegalmente? Agora vamos fazer a pergunta contrária: se os EUA permitem que o brasileiro entre lá sem visto, quantos brasileiros vão para os Estados Unidos se passando por turistas e vão passar a viver ilegalmente aqui?”, declarou.
O discurso do filho de Bolsonaro e dos supostos defensores do “Brasil acima de tudo”, reflete o preconceito e o completo desprezo da extrema-direita brasileira pela Nação que se propõem a “dirigir”. Trata-se da velha fala que afirma que “nada presta do Brasil”, enquanto “tudo o que é bom vem de fora”. Não podemos esquecer que, para defender os Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro chamou os imigrantes brasileiros que vivem nos EUA de “vergonha nacional”.
Além disso, em evento que não estava programado na agenda oficial da visita, o presidente, seu filho e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, foram à Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). Oficialmente, foi dito que a reunião era para tratar sobre o “combate” ao narcotráfico e ao crime organizado. Porém, ao que tudo indica, tratou-se de receber os agradecimentos pela perseguição política, protagonizada por Sérgio Moro, à esquerda brasileira, que culminou na prisão política de Lula. Como denunciado por diversas vezes, a Operação Lava Jato atuou no Brasil como o “braço” dos Estados Unidos – uma determinação direta do imperialismo norte-americano. Sem dúvidas, as orientações para os próximos passos também foi tema de debate no encontro.
“Superministro” ou “bobo da corte”?
A “cereja do bolo” desse vexame internacional protagonizado pelo governo brasileiro foi a atuação do “superministro” Paulo Guedes, apontado como o principal “bobo da corte” da comitiva. Em discurso proferido no dia 18 de março, em ocasião da assinatura do Tratado que entregou a base de Alcântara, Guedes não mediu esforços para bajular os EUA: “O presidente ama a América e eu amo a América (…) Eu estudei aqui. Amo a Disney, Coca-Cola, jeans”. Isso sem falar do momento em que implorou para que Trump deixasse o Brasil entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE): “Por favor, deixem-nos entrar na OCDE. Os EUA são a única barreira para isso. Mas se não der, tudo bem, sem problema. Vamos em frente”. As falas revelam a mais profunda subserviência do governo aos norte-americanos. Diante do mundo, Bolsonaro e sua turma colocaram o Brasil aos pés dos EUA.
Guedes também aproveitou a “oportunidade” para colocar o Brasil à venda: “estamos abertos para negócios. Se vocês forem lá podem comprar várias coisas, podem comprar imóveis.
Nós estamos vendendo. Sexta-feira passada nós vendemos 12 aeroportos. Daqui a três, quatro meses, nós vamos vender petróleo, o pré-sal. Estamos abertos para investimentos privados”, afirmou o ministro da economia.
Longe da imagem de um chefe de Estado que vai fazer acordos políticos e econômicos, Bolsonaro e sua comitiva apareceram ao mundo como um “bando” de adolescentes eufóricos em uma viagem à Disney . Em sua conta nas redes sociais, o presidente brasileiro afirmou que deixou a América “com a sensação de missão cumprida”. Antes de mais nada, Bolsonaro precisa ser alertado que não deixou a América, ainda. Ele “preside” o Brasil, país que faz parte do continente americano. Quanto a “missão cumprida”, de fato, se o objetivo era oficializar a entrega do Brasil e de suas riquezas aos interesses do imperialismo, o presidente realmente a desempenhou muito bem sua função.
Ao povo, resta apenas a luta real, nas ruas, como forma de barrar tal investida.