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Crime de Brumadinho: reflexo das privatizações

Passados três meses do crime da Vale, na cidade de Brumadinho, o rastro de destruição deixado é assustador: foram centenas de mortos e dezenas de desaparecidos, isso sem falar na devastação do meio-ambiente e das vidas dos moradores. Longe de ser um “acidente”, o rompimento foi reflexo da negligência, para dizer o mínimo, da empresa predatória, movida por sua sanha por lucros.

 
Trata-se, em última instância, do reflexo direto da política de privatização. A principal empresa estratégica brasileira no ramo da mineração e infraestrutura, uma das maiores empresas de mineração do mundo, foi leiloada em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Esse, inclusive, foi o primeiro crime envolvendo a Vale: a Empresa foi “vendida” por R$ 3,3 bilhões, quando, na verdade, somente as suas reservas minerais eram calculadas em mais de R$ 100 bilhões à época. Em pouco mais de 20 anos, a privatização deixou como resultado os dois maiores crimes ambientais e trabalhista da história do Brasil. Isso porque, além de Córrego do Feijão, a Vale também controlava a barragem de Mariana, no distrito de Bento Rodrigues (MG), que rompeu em 2015. A barragem de Fundão abrigava cerca de 56,6 milhões de m³de lama de rejeito e estava sob a responsabilidade da mineradora Samarco, um dos braços da Vale e da BHP Billiton. Esse rompimento despejou 43,7 milhões de m³ de rejeitos (lama tóxica) e arrasou a cidade, aniquilando tudo a volta, além de um saldo de 19 mortos e milhares de desabrigados. A lama contaminada atingiu afluentes e o Rio Doce, indo de Minas Gerais até o Espírito Santo, atingindo diretamente 11 cidades e vários distritos. Milhares de moradores da região ribeirinha ficaram sem água e sem trabalho. Até hoje, nenhuma medida foi tomada no sentido de punir os responsáveis e as indenizações não foram pagas, escancarando o descaso dos capitalistas. 

Outro dado importante é que apesar de o crime ser de responsabilidade do setor privado, quem trabalhou (e continua trabalhando) resgatando as vítimas e dando todo o suporte necessário foram empregados públicos, trabalhadores, que vale salientar, realizaram a tarefa com salários atrasados. É o setor público quem está socorrendo o privado.

No período em que a Vale foi estatal, desde sua fundação, em 1942, até sua privatização, em 1997, nenhum crime ambiental e trabalhista havia sido registrado. De 1997 até agora (primeiro bimestre de 2019), 12 crimes já foram registrados, sendo os de Mariana e Brumadinho que mais nefastas consequências trouxeram aos trabalhadores, à população e ao meio ambiente. O crime socioambiental e trabalhista de Brumadinho, ocorrido no dia 25 de janeiro, supera o de Mariana no número de mortos e dimensão dos problemas a médio e longo prazo. A lama atingiu o Rio Paraopeba, que era um dos mais recomendados para pesca, por sua diversidade de fauna, além de ser responsável pelo abastecimento de água de parte de Belo Horizonte, Betim, Contagem e das cidades próximas às suas margens, sendo responsável pelo abastecimento de água de milhões de casas e fonte de renda de famílias que dependem da pesca e agricultura. São um milhão de m³ de lama e rejeitos químicos que foram lançados de encontro a prédios, casa e a natureza. Isto nos mostra o quão prejudicial e criminosa é a política de privatização. 

As empresas privadas não se importam com as vidas dos trabalhadores que ali residiam. Tanto é assim que um documento interno da Vale, um estudo de análise de risco, relativo à hipótese de rompimento de barragem de rejeitos, fixou seu parâmetro para indenização por perda de vida humana em US$ 2,6 milhões de dólares. Ou seja, a Vale precificou cada vida humana de seus trabalhadores em R$ 9,8 milhões. Agora, no entanto, tenta impor às famílias o preço de R$ 300 mil para cada vítima do crime de Brumadinho. Isso sem falar que a Empresa vem trabalhando para conceder estabilidade no emprego por apenas 10 meses, ao passo que a própria lei garante estabilidade ao trabalhador vítima de acidente de trabalho por 12 meses. Além disso, a proposta da Vale, de indenização dos danos materiais, é rebaixada e discriminatória, por utilizar como critério o pagamento parcial do salário dos trabalhadores mortos (2/3 do que receberiam até a idade de 75 anos). Esta proposta, além de não contemplar a integralidade do salário, resultará em absurdas diferenças de valores nas indenizações. Por exemplo, os familiares de um trabalhador falecido que tinha salário de R$ 2 mil deverão receber, segundo o critério da VALE, 10 vezes menos que a família de um trabalhador com salário de R$ 20 mil.

Como se vê, para o grande capital, as vidas destruídas não significam absolutamente nada, a única preocupação é com o lucro que advém de suas práticas predatórias. Enquanto o lucro for garantido, ele sempre estará em primeiro plano, e as vidas da população, dos trabalhadores e o meio-ambiente sempre estarão ameaçados.
Enquanto a população de Brumadinho é enganada, tanto pelas autoridades governamentais, quanto pela própria Vale, as mineradoras ganham projeção e têm papel de mando do Estado, como se donas dele fossem, o que não podemos admitir. 

É preciso defender a população atingida, defender as famílias do crime cometido e denunciar as impunidades.

É preciso lutar contra esses ataques. Chega de tantos desmandos.

Não à privatização!

Privatização é coisa de ladrão e de criminosos!

Reestatização da Vale e das demais estatais privatizadas!


 


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