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Para general, tráfico de droga internacional em aeronave militar oficial foi “falta de sorte”

Na última semana de junho, o País foi “sacudido” por mais um escândalo de repercussão internacional envolvendo o governo de Jair Bolsonaro  (PSL). Um sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) que estava na comitiva que levaria o presidente à cúpula do G-20, no Japão, foi preso em Sevilha, na Espanha, durante uma escala. O militar, Manoel da Silva Rodrigues, integrante da tripulação da equipe avançada de Bolsonaro, transportava 39 quilos de cocaína, divididos em 37 pacotes dentro de sua mala, em uma aeronave militar oficial. A apreensão é uma das maiores já efetuadas no aeroporto de Sevilha e configura tráfico internacional de drogas. Rodrigues ingressou na FAB em 2000 e passou a integrar o quadro de tripulantes da aeronave VC2, que leva as equipes de apoio nas viagens oficiais da Presidência, a partir de 2016.

O  presidente usou suas redes sociais para afirmar que havia sido “informado” do caso e que “caso o crime fosse comprovado, o militar seria julgado e condenado nas formas da lei”. Segundo o porta-voz da Aeronáutica, major Daniel Oliveira, em voos destinados para o transporte de pessoas, a inspeção de bagagens é feita pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), sob o comando do General Augusto Heleno. Mas, como o voo em questão era de uma aeronave reserva, a checagem das bagagens deveria ser feita apenas pela FAB. Porém, Oliveira não confirmou se a checagem foi feita. A investigação no Brasil será feita pela Justiça Militar e corre sob sigilo. Já na Espanha, o sargento será julgado como civil. 

Bolsonaro tentou se esquivar das acusações contra sua equipe, utilizando uma tática demagógica para convencer a população de que as Forças Armadas brasileiras não são corruptas e seguem princípios éticos e morais. Porém, historicamente, esta lógica se mostra longe da realidade. De acordo com o historiador Pedro Henrique Campos, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em entrevista à BBC Brasil, a prática do pagamento de propinas por empreiteiras se consolidou como “método” durante os anos da Ditadura Militar. Outros casos como o do superfaturamento na compra de fragatas britânicas, cujo governo brasileiro recusou a ajuda do Reino Unido para investigação do caso, e também o ressarcimento de pelo menos 500 mil libras ao País provam que os governos militares não foram menos corruptos que qualquer outro governo burguês.

De acordo com denúncias do Ministério Público Militar, nos últimos 10 anos, pelo menos R$ 191 milhões teriam sido desviados nas Forças Armadas. Boa parte do valor é resultado de crimes como fraudes a licitações, corrupção passiva e ativa, peculato e estelionato. Um levantamento feito pelo site UOL, com base em 60 denúncias do MPM, revela que os crimes são cometidos tanto por praças (cabos e soldados) como por oficiais do alto escalão, considerados a elite entre os militares. Militares no sul do País chegaram a vender peças de um tanque de guerra, que no mercado internacional chegariam a R$ 100 mil, por menos de mil reais para um ferro velho.

 

Narcotráfico e política

 

O envolvimento de políticos da direita com o narcotráfico não é novidade para a população. Em 2013, o piloto de um helicóptero transportando 445kg de pasta base de cocaína foi preso ao pousar numa fazenda no Espírito Santo. O helicóptero pertencia ao hoje senador Zezé Perrela (MDB), que não foi indiciado pelo caso e chegou a ser Secretário Nacional do Futebol no governo Temer. Horas antes da apreensão pela Polícia Federal, a aeronave parou para abastecer em local próximo à pista construída pelo governo de Aécio Neves, em Cláudio-MG, o que colocou o político tucano sob suspeição. Perrela nunca foi indiciado pelo caso que ficou conhecido como “helicoca”. Passados seis anos, ainda não houve respostas para a origem e destino da cocaína. Durante a campanha eleitoral de 2014, em que Aécio Neves era o candidato da direita para evitar a reeleição de Dilma Rousseff, o portal Diário do Centro do Mundo recebeu ordem judicial para retirar do ar suas reportagens investigativas sobre a apreensão. 

 

O capitalismo cai de podre

 

De acordo com o General Augusto Heleno, ministro-chefe do GSI, responsável pela segurança da comitiva presidencial e notório colecionador de polêmicas com suas declarações truculentas contra as liberdades democráticas, o caso da prisão do militar brasileiro na Espanha com 39 kg de cocaína em sua mala, num avião da FAB, foi apenas “falta de sorte” por acontecer em um evento mundial. O general relativiza a gravidade do crime ao afirmar que acredita “que o G20 seja composto pelos chefes de Estado dos 20 países economicamente mais importantes do mundo. Se mudar isso aí a imagem do Brasil por causa disso, realmente só se a gente não estivesse sabendo da quantidade de tráfico de drogas que tem no mundo. É mais uma”. 
Como qualquer outra instituição criada nos marcos do capitalismo, as Forças Armadas existem para defender e proteger uma casta de parasitas, a Burguesia, e oprimir a classe trabalhadora. Os casos de assassinatos promovidos pelos militares do Exército durante as intervenções no Rio de Janeiro e no Haiti apenas demonstram a conivência dos militares e do Estado em matar pretos e pobres e proteger os interesses das burguesias nacionais e internacionais. As instituições criadas para sustentar o capitalismo são passíveis de corrupção  porque o sistema, que visa o lucro, só sobrevive através dela. 

É preciso olhar para este caso como mais uma demonstração da relação entre o governo Bolsonaro e o crime organizado, com a conivência das Forças Armadas que, teoricamente, existem para garantir a Lei e a Ordem.

A falência das Instituições burguesas é fruto da crise econômica. Em seu desespero para manter seus lucros, a burguesia perde qualquer pudor e revela seu controle sobre o mundo em todas as direções, inclusive na da contravenção. Para a classe trabalhadora resta evoluir a consciência de que toda e qualquer política que não seja a da tomada dos meios de produção e o fim da exploração de uma classe sobre a outra irá se provar ineficaz no combate a este processo.
 


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