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Fiocruz: governo censura pesquisa para adotar política de repressão

Um estudo chamado “Terceiro levantamento nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira”, feito pela Fundação Oswaldo Cruz, fruto de quatro anos de pesquisa, entre 2014 e 2018, ouviu mais de 16 mil pessoas e envolveu mais de 500 profissionais de diferentes áreas: entrevistadores de campo, pesquisadores da área de epidemiologia e estatística. A pesquisa nacional, feita em domicílios, revelou que o Brasil possui 3,5 milhões de consumidores de drogas ilícitas.

Desde 2017 o Ministério da Justiça vem impedindo a divulgação da pesquisa que conclui que o Brasil não vive uma epidemia de drogas. No caso do governo Bolsonaro, Sérgio Moro afirma que não vai usar a pesquisa para desenhar a Política Nacional de Drogas e o Ministério da Saúde também não reconhece o estudo. Os dados que desagradaram o governo são os que revelam que o consumo de crack ocorre entre 0,9% dos brasileiros, enquanto outras drogas, como álcool (16%), maconha (7,7%) cocaína (3%) e solventes (2,8%) lideram o ranking. De acordo com a pesquisa, o Brasil não vive uma epidemia do uso de drogas. Houve um pequeno aumento do uso de álcool e o cenário de uso era mais ou menos esperado. Para a coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas da Universidade de Brasília, Andrea Gallassi, “ignorar os dados da pesquisa é de uma irresponsabilidade enorme. As informações são essenciais para pensar nas políticas voltadas para essa população.” Ela afirma que o levantamento da Fiocruz foi feito seguindo rigorosamente normas científicas. Para ela, “não existe razão, a não ser uma razão ideológica do governo, em negar a divulgação desses dados”.

A questão é que os dados atrapalham a intenção do governo de se fazer uma política antidrogas voltadas para a repressão violenta contra os usuários, pois os casos mais problemáticos são os relacionados ao consumo de crack. O governo insiste em dizer que há uma epidemia do uso de drogas para justificar a política de repressão que quer adotar contra a população pobre, negra e periférica.

O Ministro da Cidadania, Osmar Terra também colocou em xeque a credibilidade da Fiocruz. Segundo ele, “a Fiocruz trabalha há muitos anos para provar que não é problema o consumo de drogas. A Fiocruz tem um papel extraordinário nas pesquisas sobre vacinas, sobre medicamentos, mas infelizmente na área de pesquisa sobre drogas é um grupo totalmente comprometido com a liberação, que quer mostrar que não tem epidemia”. Tudo isso não passa de mais um ataque à produção científica nacional com argumentos ideológicos, já que a pauta sobre a liberalização das drogas pertence à esquerda. Porém, a defesa da liberalização das drogas não ignora o problema que representa o consumo, mas entende a dependência química como problema de saúde pública. Pesquisas como essas devem servir para orientar políticas públicas de saúde.  
    
O que o governo de extrema direita de Bolsonaro quer fazer é punir o usuário, como forma de reprimir a população, enquanto não combate o narcotráfico. Muito pelo contrário, há cada vez mais indícios da ligação de membros do governo com milícias cariocas que, dentre suas várias atividades ilícitas, está o tráfico de drogas.


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