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Trump e o impeachment

No último dia 24 de setembro, foi dado início ao processo de impeachment do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. A notícia teve um impacto inicial “bombástico”, mas é preciso ter atenção com o seu conteúdo aparentemente dramático. O impeachment nos EUA, caso venha a se concretizar, não seria uma mudança tão impressionante quanto se espera.

Neste sentido, é importante ressaltar alguns pontos. Primeiro: a ideia de remover o Trump da Presidência não é nova e já vem sendo discutida desde sua eleição. De fato, sua política fascistóide e seu completo descaso com o mínimo de proteção e regulação que o Estado estadunidense oferece à população causaram de imediato uma repulsa. Vários protestos, de cunho mais liberal, foram realizados logo após sua posse, em 2017. Eventos notáveis, tais como a Marcha das Mulheres, que reuniu milhões de manifestantes nas ruas das maiores cidades do País tiveram resultados de pouca expressão. Certamente, a repulsa a um presidente de extrema-direita  carrega uma força potencialmente revolucionária, porém, a cooptação da indignação pelos quadros do Partido Democrata retirou os elementos mais à esquerda da retórica anti-Trump para substituí-los por uma oposição liberal, na qual o Partido aparece como a “salvação” dos EUA, sobretudo por meio de figuras tais como Barack Obama ou Hillary Clinton.

Segundo: não existe oposição séria nos Estados Unidos. A política oficial se resume ao Partido Democrata, que varia de centro-esquerda à centro-direita, e ao Partido Republicano, que varia de centro-direita ao fascismo aberto. Somente esses dois partidos teriam condições de eleger presidentes e têm recursos suficientes para eleger uma bancada de peso no Congresso estadunidense (os deputados) ou no Senado. Qualquer "Resistência" que parta dos Democratas tem apenas um objetivo: colocar um Democrata no poder.

Os mais “ingênuos” poderiam perguntar: mas tal troca não seria melhor que Trump? Certamente. Mas Obama, seu antecessor, bombardeou parte do Oriente Médio em guerras imperialistas, reduzindo boa parte da Síria e do Iraque às cinzas; aumentou a produção de petróleo e da destruição ambiental em números assustadores e retornou as inimizades com o Estado russo, criando momentos de tensão que quase levaram o País à guerra nuclear.

Os Democratas não podem, por definição, mudar a maneira como a política econômica americana é conduzida, pois eles e os Republicanos não passam de “farinha do mesmo saco”, só que, no último caso, com um “verniz” progressista ou menos fascista. Não podemos deixar de destacar, também, que Bernie Sanders, o candidato mais radical das próximas eleições, tecnicamente não faz parte do Partido Democrata, mas precisa concorrer como Democrata para ter alguma chance de ganhar o pleito devido a maneira como o sistema eleitoral americano é estabelecido.

 

As acusações

 

Trump foi acusado de diversas coisas ao longo dos anos, mas o processo de impeachment faz parte de acusações recentes. De início, o presidente dos EUA foi denunciado de ter contatos com a Rússia, de Vladimir Putin, que supostamente teria influenciado as eleições americanas a favor de Trump. A discussão sobre o impeachment nos últimos dois anos foi pensada, em grande medida, em virtude desta denúncia, mas o "dossiê Muller",  amplamente discutido na imprensa, aparentemente foi incapaz de provar essa conexão, talvez porque interesses dos setores do Exército e da Polícia secreta, o FBI, não quiseram que Trump “perdesse” o cargo.

A recente acusação, por outro lado, parte de um evento ocorrido em setembro: aparentemente, Trump teria pedido para contatos no governo ucraniano (sem relação com o governo de Putin, mencionado acima) informações confidenciais e “fofocas” a respeito do filho de Joe Biden, o candidato do partido Democrata com maior intenção de voto no momento. O filho de Joe Biden fazia parte da diretoria de uma empresa que tem negócios na Ucrânia. Temendo perder a reeleição, ele teria cometido lesa-pátria, envolvendo governos externos para a manipulação de assuntos internos do País. Tal acusação seria certamente suficiente para a remoção de um presidente do cargo, caso fosse confirmada. Para tanto, seria necessária uma votação de maioria simples no Congresso para que se iniciasse um julgamento realizado pelo Senado dos EUA.

É importante lembrar que as ameaças de impeachment de Trump têm funcionado para desviar a atenção de questões importantes que colocam o governo em xeque. A desigualdade social nos EUA é a maior da história e as promessas de geração de emprego e proteção da economia nacional de Trump não se concretizam   devido à crise sem precedentes do capitalismo. Na verdade, a fragilidade de Trump está exatamente pelo fato de ser um governo de crise. Se ele for afastado por impeachment, seu vice, Mike Pence, subiria ao poder. Pence é um fascista de vertente evangélica radical e apoiador da aplicação de medidas antipopulares.

O fato é que os capitalistas estão a cada dia mais incapazes de dirigir e dominar a sociedade através da sua maquinaria “democrática”. Todos os governos desse período de crise estão sob ameaça constante. A mudança de um presidente Republicano para outro, ou mesmo sua substituição por um Democrata, será irrelevante se não for levada adiante por uma organização revolucionária do povo estadunidense.


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