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Entrevista com a Assembleia de Mulheres Brasileiras contra o fascismo (MBCF) que atuam na Catalunha – Espanha

O Jornal Gazeta Operária (JGO) entrevistou em Barcelona, Espanha, o movimento de Mulheres Brasileiras Contra o Fascismo (MBCF), um movimento feminista, diverso e suprapartidário de esquerda, que nasceu com o objetivo de denunciar a morte de Marielle Franco, fazer resistência ao governo de Jair Bolsonaro e atuar contra os discursos de ódio contra mulheres, negros, LGBT, imigrantes e outros que sofrem as consequências do avanço da extrema-direita. Trata-se de um grupo de mulheres brasileiras em diáspora, que mesmo morando fora do Brasil não deixaram de atuar contra os retrocessos e ameaças à democracia brasileira, denunciando ao mundo os retrocessos e a violação dos direitos no Brasil, pelos direitos das mulheres e contra o discurso de ódio. Elas assumiram na Espanha a pauta política dos direitos humanos, do direito à autodeterminação dos povos para lutar contra o avanço do fascismo em todo mundo.

JGO: Como e quais motivações deram origem ao movimento?

MBCF: Após o assassinato da vereadora Marielle Franco, um grupo de mulheres se reuniu para debater a questão e iniciar um processo mais organizado para denunciar, não somente a morte de uma mulher negra, da favela, lésbica, vereadora, mas para denunciar o crescimento da violência contra as mulheres e o aumento dos casos de crimes de ódio cada vez mais presentes na realidade brasileira.

A proposta do grupo foi de manter a militância nas ruas, nos debates, e criar espaços para denunciar internacionalmente as ações que estão sendo praticadas no Brasil contra os direitos, a democracia e contras as próprias mulheres. Então, o grupo nasce da necessidade das brasileiras que residem em Barcelona de atuar politicamente frente aos retrocessos que estavam acontecendo no Brasil. Com o #ELENÃO fomentado pelo grupo, a atuação política em Barcelona se destacou como movimento mais forte, com mais mobilização social no exterior, chamando a atenção do mundo para a situação do Brasil.

Esse ponto de encontro, que teve como eixo desencadeador o assassinato de Marielle Franco, se consolidou como um movimento permanente de mulheres, fruto da sinergia entre as mulheres com indignação, que estão fisicamente longe do Brasil, mas que em sentimento e sofrimento estão intimamente ligadas as questões políticas e sociais por que passa o País. São mulheres de diversos espaços de atuação política, no Brasil e na Espanha, que se organizaram a partir da necessidade de lutar, mesmo estando longe fisicamente, para denunciar e se organizar para fazer frente a luta pelos direitos dos povos. Esse grupo inicial foi se somando com outras brasileiras que também estão em luta contra o fascismo, contra o avanço da extrema-direita, pela construção do feminismo.

A Assembleia Mulheres Brasileiras contra o fascismo se consolidou como movimento permanente de luta, por entender que a eleição de um candidato de extrema-direita no Brasil reforçaria crimes como feminicídio, misoginia, racismo e outras manifestações institucionais e individuais contra a população pobre e excluída no Brasil.

JGO: Quais as principais pautas e atividades desenvolvidas pelo movimento?

MBCF: A atuação da Assembleia de Mulheres acontece em três níveis que estão se consolidando cada vez mais como estratégia política.

O primeiro nível de ação é a realização e participação em atos e protestos que visam denunciar a situação do Brasil. São atos contra o fascismo, racismo, a lgbtfobia etc. São ações de rua, que visam denunciar a situação de violação dos direitos dos povos. Nestes aspectos dialogam com pautas internacionais, que são semelhantes as situações de violência vivenciadas no Brasil, mas vão além, se somam a diversos movimentos internacionais de luta contra o fascismo, pelos direitos humanos.

Ações como participação da Greve Geral, na Espanha, contra o retrocesso dos direitos dos trabalhadores. Contra a prisão dos políticos e ativistas catalães condenados pelo Supremo Tribunal Espanhol; a organização das ações em Barcelona do Movimento Indígena que circulou toda Europa, com a pauta “Sangue Indígena, Nenhuma Gota Mais”. A estratégia é a ocupação das ruas como forma de denunciar perante a sociedade a perda e violação dos direitos dos trabalhadores em todo o mundo.

O nível segundo de atuação política da MBCF é a ocupação da mídia com pautas que denunciam a situação do Brasil, mas propõem debates sobre as principais questões em evidência no cenário nacional e internacional. Para isso, o Movimento criou um intenso processo de agitação e propaganda nos diversos canais de mídia social, como as plataformas do Youtube, Facebook, Instagram e Twitter além do intenso debate nos grupos do wthassapp que circulam diariamente informações sobre todos os acontecimentos políticos no Brasil.

Nessa estratégia elaboram-se pautas de debate, abaixo-assinados, petições, manifestações públicas de ações contra o avanço do fascismo etc. Recentemente, as MBCF publicaram o primeiro boletim de Mujeres Brasileñas Contra el Fascismo Boletín nº 1 de 2019, que refletem sobre o papel da comunicação e a influência deste mecanismo na eleição do atual presidente da extrema-direita no Brasil,  tratam de denunciar os principais retrocessos nas políticas brasileiras e refletir sobre a organização das mulheres como forma de enfrentamento à violência e ao aumento do feminicídio.

O terceiro nível de atuação está se estruturando para fazer um intenso trabalho de formação política das mulheres, como forma de capacitação e qualificação da atuação. Para tratar do debate sobre acolhimento e autocuidado, especialmente de mulheres que viveram situação de racismo, violência, e qualquer tipo de preconceito, foi criado o Ciclo Mulheres, que realiza de forma permanente atividades de formação, a exemplo do Ciclo Cinema, onde apresentamos documentários, especialmente brasileiros, para a comunidade catalã e brasileira e o Ciclo Leitura, aberto a toda comunidade catalã, como forma descolonizar o pensamento, atuando no  debate e formação através de leituras de ativistas e outros textos que possam contribuir com a formação das mulheres e homens.

Um conjunto de ações no mês que debate, no Brasil, a consciência negra e o mês Marielle Franco são agendas intensas de debate com diversos grupos sociais em Barcelona, sobre a violência, o racismo, a homofobia, organização da luta dos povos pelos seus direitos;

JGO: Qual a relação que o MBCF tem a política no Brasil, e com outros movimentos sociais no Brasil

MBCF: Não existe uma relação orgânica com outros movimentos sociais no Brasil, o que realizamos é uma soma de pautas com demandas que a sociedade brasileira, movimentos e partidos estão denunciando no Brasil. As nossas pautas vão se articulando com várias demandas de grupos e organizações, brasileiros e internacionais, que somam nas pautas que estamos defendendo.

Internacionalmente há uma relação forte com as organizações e grupos que lutam contra o avanço do fascismo, especialmente na Espanha, que viveu quase quatro décadas de uma ditadura fascista franquista, e que tem partidos de extrema-direita que reivindicam esse legado fascista.

A luta das Mulheres Brasileiras conta o fascismo se aproxima de diversos grupos políticos sociais supra partidários de esquerda, a exemplo da frente de Unidade Contra o Fascismo e o Racismo, que têm como objetivo enfrentar o debate sobre fascismo e racismo nos discursos e nas práticas da extrema-direita.

Nossa pauta é sempre estar nas ruas, nos movimentos sociais, nas organizações, participando de espaços políticas de decisão, apoiando iniciativas de outros grupos, na denúncia da situação que os brasileiros estão sofrendo, atuando em diferentes espaços tanto no âmbito político, quanto no âmbito social e no âmbito da formação.

 


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