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Sobre a greve geral na França

A França encontra-se em um momento de agudização da luta de classes, acirrada desde o início de dezembro. No fim do ano passado, o movimento dos “coletes amarelos” (“gilets jaunes”) completou um ano de atividade. Porém, por se tratar de um movimento descentralizado, sem a presença das organizações classistas, ele não conseguiu o impacto que a verdadeira tática da luta de classes, as greves que paralisam a produção, pode alcançar. O movimento não tinha demandas unânimes para além de uma forte oposição à Macron.

Contudo, o anúncio da reforma do sistema de aposentadoria francês, feito pelo primeiro-ministro Edouard Philippe, em dezembro do ano passado, revoltou ainda mais os trabalhadores e forçou as direções sindicais a ingressarem no movimento e a decretarem a Greve Geral, inclusive as direções mais burocratizadas, como a CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho), maior e mais antiga central sindical da França, que até então apoiava o governo Macron e se negava a mobilizar sua base. A partir daí, trabalhadores sindicalizados e independentes têm se unido nos protestos de rua. A greve  afeta setores fundamentais da economia francesa. No setor privado, a vanguarda da mobilização está na maior parte das refinarias de petróleo do País.

 

Superar as direções burocráticas e enfrentar a investida neoliberal

 

Emmanuel Macron, eleito como o “menor dos males” nas últimas eleições, em oposição a candidata abertamente neofacista, Marine Le Pen, baseou suas propostas eleitorais em uma série de reformas dos direitos trabalhistas, dos impostos, das aposentadorias, etc. Neoliberal que é, seu papel de fato é de agente dos interesses do Capital, com a função de desmontar o  sistema socialdemocrata francês.
Quando Macron abaixou os impostos aos ricos e, em seguida, jogou o desfalque em cima do proletariado francês, o povo saiu às ruas no movimento dos “coletes amarelos”, contestando fortemente as medidas do governo. Como resposta, veio a repressão brutal por parte das “autoridades”. Contudo, os protestos já se estendem por mais de um ano e não têm sinal de parar.

Ocorre que com o acirramento das propostas do governo  Macron, e com a continuidade da repressão brutal aos coletes amarelos, os trabalhadores superaram a crise de direção de seus sindicatos e levaram o País para a greve geral, incidente, sobretudo, nos setores de transporte. É importante notar que as greves gerais na França funcionam geralmente com uma manutenção de contingente mínimo e não com uma paralização total dos serviços. Ainda assim, a greve se manteve durante o período de natal e ano novo, causando sérios problemas para a indústria turística francesa. Isto fez com que o movimento conseguisse arrancar algumas concessões do governo – nomeadamente, o bloqueio do aumento da idade mínima para aposentadoria e a prorrogação do estabelecimento das reformas.

Os sindicatos burocratizados já estão se dando por satisfeitos e procurando desmobilizar os trabalhadores. A base, por outro lado, indica querer seguir firme na luta, apesar da greve já durar quase dois meses.

Na última quinta-feira, 16 de dezembro, de acordo com a CGT (Confederação Geral do Trabalho), cerca de 250.000 pessoas participaram da mobilização, mais de 82.000 em 50 cidades fora de Paris.

Apesar de o desfecho ser completamente incerto, o fato é que  movimentos dessa natureza são indicativos do momento atual do capitalismo: lutas de classe acirradas entre o Capital, que procura extrair o máximo possível dos trabalhadores, e a resistência desesperada dos explorados para manter seus direitos arduamente conquistados durantes as lutas do século XX – um momento propício para atividades revolucionárias, mas potencialmente possível de ser cooptado pela direita, como ocorreu no Brasil com as jornadas de 2013. Por isso, o passo dos sindicatos e centrais sindicais francesas entrarem na disputa foi importante, no sentido de acirrar a disputa pelos rumos em que a insatisfação social do povo francês irá tomar.


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