Um incêndio no transformador 1 da subestação de Macapá, de propriedade da empresa espanhola Isolux Corsa, que começou na última terça feira, dia 3, causou perda total na unidade e provocou um blecaute que afetou praticamente toda a população do estado de Amapá. Quase 700 mil pessoas ficaram mais de quatro dias sem energia elétrica.
De acordo com o engenheiro Ikaro Chaves, funcionário da Eletronorte, em entrevista ao Brasil 247, “É muito provável que tenha havido negligência por parte da empresa. Esses equipamentos não deveriam ter falhado. E se eles tivessem falhado, deveriam ter redundância. E mesmo se a redundância tivesse falhado também, seria necessário ter equipamento sobressalente para que elas voltassem rapidamente ao funcionamento, o que não aconteceu”. O engenheiro também afirma que, provavelmente, esta não vai ser a última falha causada pela irresponsabilidade de empresas privadas. Em outros estados em que a privatização do setor ocorreu, como Rondônia, Acre e Goiás, a população está sofrendo com os aumentos abusivos das tarifas e as constantes quedas de energia, que afetam o abastecimento de água e geram problemas em cadeia.
Na maioria das cidades do Amapá a população ficou completamente sem energia, o que afetou serviços essenciais como abastecimento de água, fonte de internet, refrigeração de comidas no comércio e nas próprias residências dos moradores. O aumento abusivo dos preços dos alimentos também afeta a população. Caminhões pipa abasteceram, com água não potável, hospitais, unidades básicas de saúde (UBSs) e alguns bairros da capital Macapá
O Ministério de Minas e Energia prevê o restabelecimento no fornecimento de energia para todo o estado somente para o próximo fim de semana, sem dia definido. Foi divulgado neste domingo (8), um cronograma de rodízio de fornecimento de energia elétrica nas cidades atingidas pelo apagão. O sistema funciona com duração de pelo menos 6 horas para cada região. Ou seja, o caos se manterá na rotina dos amapaenses por um tempo absurdo.
Após o anúncio do governo de que a normalidade seria restabelecida apenas dentro de 10 dias, os moradores de bairros da periferia de Macapá, os mais duramente atingidos pela crise, fizeram protestos na madrugada de sábado (7) e domingo (8), sendo reprimidos com balas de borracha pela força policial.
A empresa espanhola Isolux tem histórico de maus serviços prestados em outros países. De acordo com o diretor do Sindicato dos Urbanitários do Maranhão (STIU/MA), Wellington Diniz, em 2014, a Isolux deu um prejuízo de US$ 476 milhões ao estado de Indiana, nos Estados Unidos, onde também prestava serviços. No caso do acidente na Concessionária Linhas do Macapá, a empresa não conseguiu fazer o reparo e pediu ajuda à estatal brasileira Eletrobras, que enviou técnicos do Pará, Maranhão e Rondônia para solucionar o problema. Diniz afirma que Bolsonaro e seu ministro das Minas e Energia, o militar Bento Albuquerque, “vêm dizendo que a Eletrobras não tem capacidade de investimento, e apostam na privatização, só que na hora em que acontece um acidente como este são os técnicos da Eletrobras que são convocados para prestarem socorro à empresa internacional porque ela não tem capacidade para resolver o problema”.
A Eletrobras é uma das empresas que o governo Bolsonaro anunciou, em agosto deste ano, que iria privatizar. A equipe econômica do Governo Federal, capitaneada por Paulo Guedes, justifica a privatização alegando os altos custos para a manutenção, serviços ruins e caros e, principalmente, o suposto prejuízo que as estatais estariam dando. Porém, em balanço divulgado pela Empresa, apenas no terceiro semestre de 2019, a Eletrobras registrou lucro líquido de R$ 716 milhões. Em período acumulado de nove meses, o lucro alcança R$ 7,624 bilhões. No entanto, para muito além do lucro, a função da empresa pública é garantir o bom atendimento à população, que tem direito aos serviços de produção e distribuição de energia.
Casos como este do Amapá, assim como os acidentes em Brumadinho e Mariana, sob responsabilidade da Vale, privatizada a preço de banana no governo FHC, comprovam que ao capital privado só interessa o lucro. Ao anunciar a privatização de setores cruciais para o desenvolvimento do país, o atual governo mostra que não tem nenhum interesse em melhorar a economia brasileira, mas como serviçal do capital financeiro, busca aplicar a política de “terra arrasada” na economia brasileira para favorecer o imperialismo. Os trabalhadores devem lutar intransigentemente contra essa política lesa-pátria, defendendo seus interesses e a soberania nacional. Não às privatizações!!