Não é segredo para ninguém que o governo Bolsonaro pode ser caracterizado pela necropolítica. No cenário da pandemia de Covid-19, o seu poder político tem sido usado para ditar como algumas pessoas podem viver e como outras devem morrer. São mais de 225 mil mortos e 9 milhões de infectados. Os mais pobres, em piores condições sociais, são os mais afetados. Para os que continuam vivos e saudáveis, há de se lidar com um cenário em que 14 milhões de pessoas estão desempregadas e mais de 30 milhões de trabalhadores estão na informalidade, sem nenhuma garantia trabalhista, de acordo com o IBGE.
Nesse período de pandemia, os profissionais de educação foram submetidos à medidas impostas sem discussão com as comunidades escolares. A introdução do ensino remoto em todos os níveis da educação resultou em excesso de trabalho para os professores e exclusão de grande parte dos estudantes.
A manutenção do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), mesmo sob protestos de entidades representativas do campo educacional e científico, como Fórum Nacional Popular de Educação, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, União Nacional dos Estudantes e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. O resultado não poderia ser outro que não a abstenção de 58% dos candidatos.
Agora, mesmo em um cenário em que a pandemia se agrava sem que haja um plano de vacinação eficiente, governos municipais, estaduais e federal, sob intensa pressão do setor empresarial, ameaçam reabrir as escolas, que não sofreram nenhuma melhoria estrutural enquanto estiveram fechadas. Se o momento não é de afrouxar as medidas de proteção sanitária, a volta às aulas presenciais mostra que mesmo os governantes que se dizem oposição à Bolsonaro são protagonistas da necropolítica. É necessário que as entidades de luta dos profissionais da educação se mobilizem para organizar uma Greve Nacional da Educação, contra o retorno às aulas sem imunização e contra todos os ataques à educação pública de qualidade.