O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, foi eleito ontem, em primeiro turno, presidente da Câmara, após vencer com 302 votos o deputado Baleia Rossi (MDB-São Paulo), que recebeu 145 votos. Bolsonarista, Arthur Lira certamente será um porta-voz de Bolsonaro no Congresso.
No Senado, o candidato também apoiado por Jair Bolsonaro, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), elegeu-se presidente da casa. Simone Tebet (MDB-MS) obteve 21 votos. Diferentemente da disputa no Congresso, Pacheco, embora também tenha sido apoiado pelo presidente, afirma correr em raia própria, não sendo declaradamente um “homem de Bolsonaro”, se caracterizando mais como um homem dos amplos segmentos da burguesia. Naturalmente, com o decorrer dos acontecimentos, este apoio pode se tornar mais ou menos declarado.
O que vai por terra, porém, é a máscara de Jair Bolsonaro. Eleito sob a égide de combate à chamada velha política, o presidente nada mais fez do que reproduzi-la. Para eleger seus indicados, Bolsonaro liberou bilhões do orçamento e distribuiu promessas de cargos. De acordo com o Estadão, na planilha informal do governo, 40, dos 235 que declararam apoio ao candidato de Bolsonaro, aparecem beneficiários de 1,2 bilhão de reais em recursos extra para obras em seus Estados. O populismo de direita, comum em momentos de crise do capitalismo, se repete como farsa.
Mais do que isso, a “velha política” de Bolsonaro ainda será mais cara. Para continuar governando, o ex-capitão do exército terá que liberar ainda mais verbas para os parlamentares. Isso ocorrerá porque o chamado “centrão” caminha, como sempre, ao sabor da onda do momento, e o desgaste da política bolsonarista está cada vez mais evidente, conforme mostram as carreatas gigantescas que tomaram conta do país nas últimas semanas, pedindo o impeachment do presidente.
Isso em um cenário que tende a piorar, dada a verdadeira política de desmonte da economia nacional do Governo Federal. O fim do auxílio emergencial, as crescentes taxas de desemprego e informalidade no trabalho, além da péssima gestão da pandemia de Covid-19 realizada por Bolsonaro, deverão aumentar a pressão popular contrária ao presidente. Para manter a estabilidade do seu governo a partir do apoio dos parlamentares, Bolsonaro terá que empregar ainda mais dinheiro público.
O papel da esquerda
Neste cenário, a parte majoritária da esquerda se articulou junto à candidatura de Baleia Rossi para o Congresso e de Rodrigo Pacheco para o Senado. Pelo próprio desgaste inevitável do governo Bolsonaro, um caminho melhor teria sido o Partido dos Trabalhadores lançar candidatura própria, principalmente no Congresso, onde possui a segunda maior bancada, para realmente disputar o jogo político e, no mínimo, marcar posição em defesa dos interesses dos trabalhadores e dos setores oprimidos da sociedade. Assim não jogaria água no moinho daqueles que, com ou sem Bolsonaro, sempre atuarão em defesa dos interesses patronais.
Neste momento, apoiar candidaturas apenas por serem, em discurso, contra ou isentos com relação ao presidente da República significa uma sinalização a uma conformação de Frente Ampla, com setores da direita, contra Bolsonaro. Estes setores, que agora, inclusive, estão se posicionando contrários aos crimes cometidos pela Operação Lava-Jato no passado, para criar algum grau de aproximação com o PT, não hesitarão, no momento em que lhes convir, em quebrar qualquer aliança em favor da defesa dos interesses econômicos dos empresários.
Na conjuntura de crise do capitalismo, em que a explosão da insatisfação popular será eminente, o que os setores progressistas precisam fazer para mobilizar as massas em defesa dos direitos dos trabalhadores é a conformação de uma Frente Única das forças de esquerda, de maneira a articular uma verdadeira posição de embate com a camarilha fascista que governa este país e lutar pela emancipação política do conjunto da população explorada. As eleições para o Congresso e o Senado ainda terão inúmeros desdobramentos. Nos cabe analisá-los e defender a intervenção dos trabalhadores com os métodos da luta de classes, com a certeza de que o próximo momento será de miséria para o grosso da população brasileira.