O básico da alimentação dos brasileiros torna-se, a cada dia, mais escasso na mesa da população. Os alimentos preferenciais, recomendados inclusive por nutricionistas, como arroz, feijão, carne, legumes e salada, tiveram nos últimos 12 meses uma disparada nos preços de 19,4%, quase o triplo da taxa oficial de inflação do período, que foi de 5,20%. É a maior onda de alta dos alimentos nos últimos 18 meses, que vem acompanhada com uma variação real média de menos 0,53% no salário dos trabalhadores e trabalhadoras, já descontada a inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados foram levantados pelo Departamento de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que também observou que reajustes iguais ao INPC ficaram em cerca de 29% das negociações salariais analisadas, mas que apenas 10% das negociações resultaram em ganhos reais.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os produtos alimentícios que mais tiveram alta foram, o óleo de soja (87,89%), o arroz (69,80%), a batata (47,84%) e o leite longa vida (20,52%). Considerados em grupos alimentícios, cereais, leguminosas e oleaginosas tiveram aumento de 57,83%, óleos e gorduras de 55,98%, tubérculos, raízes e legumes de 31,62%, carnes 29,51% e frutas 27,09%.
Outro levantamento do Dieese, mostra que no 4° trimestre de 2020 o rendimento médio dos trabalhadores, recebido pelas pessoas ocupadas de 14 anos ou mais, foi de R$ 2.482,00. Levando em consideração que o preço da cesta básica para uma única pessoa em São Paulo em fevereiro deste ano, custou R$ 639,47, além das outras despesas como aluguel, tarifas de água e luz etc., pode-se ter noção do rombo no orçamento dos brasileiros.
A inflação destrói o poder de compra do real. Um levantamento feito pelo matemático financeiro, José Dutra Vieira Sobrinho, ao Investe News, mostra que uma cédula de R $100,00 compra hoje o equivalente a 16% do que compraria no lançamento do plano real. Ou seja, com uma nota de R$ 100,00 você adquire um bem ou serviço que adquiriu por R $16,00 em julho de 1994.
O projeto de privatização da Petrobrás e de entrega do refino do petróleo nacional à corporações estrangeiras afetam os preços dos combustíveis, o que gera mais alta nos preços dos alimentos. Atualmente a empresa adota uma política de paridade de preços dos combustíveis com o mercado internacional. E com isso a gasolina, o diesel e o gás de cozinha variam acompanhando as flutuações de preço do petróleo e a taxa de câmbio. Os reajustes da gasolina pressionam o IPCA que voltou a acelerar e fechou o mês de fevereiro em 0,86% contra 0,25% e janeiro – é a maior taxa para o mês desde 2016, segundo o IBGE.
A queda do poder de compra do real afeta de maneira mais agressiva os desempregados e informais que perderam o auxílio emergencial há três meses. A aprovação da PEC 186, agora Emenda Constitucional (EC) 109, trouxe de volta um miserável auxílio de 250 reais, em média, por alguns meses. Em troca de sua aprovação, o governo Bolsonaro conseguiu fazer avançar as medidas para penalizar servidores e serviços públicos e promover um verdadeiro arrocho fiscal que trará mais dificuldades para a sobrevivência dos trabalhadores. Somente em luta organizada, em greves combativas, os trabalhadores conseguirão defender suas vidas e seus direitos conquistados.