Apesar da pressão exercida pela grande imprensa, agências de pesquisa e grandes bancos, Donald Trump venceu as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Mesmo depois de ter sido derrotado na votação popular, por 200 mil votos, ele conseguiu 306 delegados contra 203 de Hillary Clinton, de acordo com o sistema de representação indireta. Os Republicanos também conseguiram manter a maioria na Câmara dos Representantes e no Senado.
A burguesia norte-americana se dividiu. A aposta fundamental dos monopólios, principalmente dos bancos e da grande imprensa, era em Hillary Clinton, um elemento testado e do “establishment”. Mas a vitória de Trump não representou uma “casualidade”. Ele contou com o apoio de setores da indústria do petróleo e gás, em cima da promessa de “independência energética”, contra os tratados climáticos, reforçando o carvão mineral e a produção a partir do xisto. Os grandes laboratórios apostaram no fim do “ObamaCare” e o aumento dos preços dos remédios básicos. O complexo industrial militar fez uma aposta dupla, pois Trump prometeu o aumento do orçamento de Defesa, que Obama tinha reduzido. As grandes construtoras e as fornecedoras de matérias primas investiram no compromisso de projetos de infraestrutura. As grandes empresas envolvidas nas privatizações, como o sistema carcerário, apostaram no aumento das mesmas.
A divisão da burguesia demonstra que cresce um racha importante causado pela crise mundial. O fato de Trump não ser um homem do aparato do Partido Republicano e, ainda, contar com inimigos de peso no mesmo, expõe ainda mais o grau dessa crise.
Trump pode retomar o desenvolvimento?
A perspectiva de “se voltar para dentro” em busca do desenvolvimento no sentido capitalista não é uma perspectiva nova. A última tentativa importante foi realizada por François Hollande, presidente da França, eleito em 2012, mas fracassou de maneira contundente devido ao enorme parasitismo.
A política de Trump busca rejeitar os grandes tratados de “livre comércio”, tais como o NAFTA (entre Canadá, Estados Unidos e México), o ATP (Aliança Trans Pacífica) e o ATA (Aliança Trans Atlântica). Significa também reduzir os investimentos militares em âmbito internacional, cortando gastos com a OTAN e no Pacífico. Trump prometeu, principalmente, o fortalecimento da marinha e da aviação.
A política de Trump não representa nenhuma novidade. É a mesma política que Hitler aplicou na Alemanha para conter a crise: militarizar a economia e a sociedade, e fortalecer o complexo industrial militar com o objetivo de ir para a guerra mais tarde. Devido à incapacidade do capitalismo de extrair lucros da produção, somente uma enorme destruição de forças produtivas poderia trazer um fôlego temporário.
A militarização da economia implica num enorme rebaixamento dos salários e deterioração das condições de vida.
Qual será o impacto de Governo Trump no mundo?
As relações com a Rússia tendem a melhorar na Ucrânia e na tentativa de estabilizar o Oriente Médio. Mas a política é contraditória já que Trump voltará a priorizar as relações com os aliados tradicionais, Israel e Arábia Saudita.
Com a China, a pressão militar na região Pacífico da Ásia tende a diminuir. Mas, ao mesmo tempo, as contradições econômicas devem aumentar consideravelmente.
Na América Latina, a política de priorizar o fortalecimento interno em detrimento de uma política externa agressiva, num primeiro momento, é pouco provável que seja aplicada. A crise dos monopólios é enorme. O mais provável é que continue a tentativa de acelerar o saque da região.
A dívida pública e a especulação financeira continuarão exercendo forte pressão. Um novo calote como o de 1971, quando Nixon unilateralmente cancelou a conversibilidade do dólar em ouro, está colocado, por exemplo, por meio de uma aceleração da inflação. Desta maneira, os títulos públicos se tornariam pó. O Brasil detém mais de US$ 256 bilhões nesses títulos. Evidentemente, isso aceleraria as contradições.
A diminuição da presença militar facilitaria o expansionismo chinês, principalmente a partir da “Nova Rota da Seda", que busca facilitar a circulação de mercadorias entre a China e a Europa, tendo como pivô a Rússia.
Conforme a crise avança, as contradições aumentam. É a política do “salve-se quem puder”. Depois de 2008, as contradições entre as potências imperialistas e regionais ficaram colocadas no primeiro plano. Mas já há sintomas de que a frente única inter-imperialista, estabelecida a partir da Segunda Guerra Mundial e liderada pelos Estados Unidos, apresenta importantes rachas. A ATA foi rejeitada pela Europa. Houve enormes multas aplicadas contra a Volkswagen e o Deutsche Bank nos Estados Unidos e contra a Apple pela União Europeia.
As políticas colocadas em cena pela burguesia imperialista têm como objetivo salvar os monopólios em crise. E, conforme a crise avança, cada vez mais aparece em cena a última carta: o fascismo.