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Fortalecimento da Direita na América Latina

No ano em que se comemoram os 50 anos da queda em combate do Comandante Ernesto Che Guevara e os 100 anos da Revolução Russa, assistimos a uma brutal ofensiva das forças de direita e das oligarquias conservadoras, aliadas do imperialismo. As forças progressistas, e de esquerda, latino-americanas, enfrentam os desafios de continuar impulsionando o ciclo de combate ao grande capital.

Esta ofensiva se apresenta em diferentes contextos, segundo o marco da correlação de forças dentro de cada país. Contudo, está evidentemente colocado que opera mediante uma estratégia de desestabilização e assédio regional face aos avanços alcançados pelos movimentos populares nos últimos anos.

A esquerda latino americana passa por um momento delicado. Nos dois últimos anos, a direita se recolocou no comando dos postos máximos do Executivo no Brasil, Argentina e Peru. Não é de se estranhar que estejamos diante de um presidente golpista (Michel Temer), um grande empresário (Mauricio Macri) e um banqueiro (Pedro Pablo Kuczynski). Não bastasse isso, agora é o Chile que dá mostra de uma guinada à direita com a eleição do ex-presidente, Sebastian Piñera (o pleito se dará no dia 17 de dezembro).

Independentemente do desfecho do próximo 17 de dezembro chileno, o denominado “socialismo do século XXI” continua a acumular fracassos. O kirchnerismo foi derrotado na Argentina por Mauricio Macri fazem pouco mais de dois anos, depois de mais de uma década de poder. Apenas duas semanas depois, em dezembro de 2015, a oposição venezuelana ganhou as eleições legislativas, instaurando o princípio da caótica situação que hoje vemos naquele país.

Da mesma maneira, em fevereiro de 2016, Evo Morales perdeu o referendo que demandava ao povo boliviano, sobre qual era a sua opinião relativa a um quarto mandato presidencial do então chefe de Estado. Quatro meses depois, o executivo do Banco Mundial, Pedro Pablo Kuczynski, ganhou as eleições presidenciais no Peru, depois de impor-se a Keiko Fujimori. A título de nefasto desfecho, em setembro de 2016, a direita ampliou sua rede de controle sobre os governos latino-americanos com a destituição de Dilma Rousseff, no Brasil, e a ascensão do “vampiro” Michel Temer.

O enfraquecimento dos partidos de “centro” e a emergência de novos fenômenos políticos, tanto de centro quanto de direita, é uma tendência atual que se deu em escala internacional. Na América Latina, o que claramente se têm visto é um fortalecimento das direitas regionais, produto da crise dos projetos pós-neoliberais que tiveram seu momento de glória na primeira década desse século.


Identificar as estratégias da direita e contra-atacar


Algumas realidades políticas se agravaram e outras demonstraram que é possível manter a iniciativa política, valendo-se de uma estratégia adequada, para avançar substancialmente e derrotar a ofensiva restauradora da direita.

Devemos identificar todas as estratégias que estão sendo utilizadas pela direita e os setores conservadores nesta etapa histórica de crise global, para contra-atacá-las e tornar possíveis novos avanços das forças de esquerda, populares e progressistas latino-americanas. A esquerda continua disputando os governos, e através destes, o poder que permitirá continuar a mudança de época política da região, reconhecendo as vitórias obtidas e defendendo os avanços alcançados por estes governos – expressão da vontade das massas.

Ainda assim, cabe à esquerda analisar de maneira crítica seus erros que permitiram à direita chegar ao poder e desorganizar o movimento popular e sindical.

Geopoliticamente, a região é um cenário de forte disputa contra os projetos imperialistas. A administração Trump redobrou o assédio contra a República Bolivariana de Venezuela, assim como volta a ameaçar Cuba, congelando o processo de reestabelecimento de relações diplomáticas. Também recrudesceu as relações com os governos de Bolívia, Nicarágua e El Salvador. Em paralelo a isto, aplica uma pressão sistemática contra a população mexicana e redobra a perseguição aos migrantes centro-americanos, caribenhos e sul-americanos. Isto se configura em uma clara violação aos direitos humanos dos trabalhadores, trabalhadoras e suas famílias.

Comemorou-se, recentemente, os 12 anos de derrota do projeto imperialista denominado ALCA (Área de Livre Comercio das Américas), que foi possível graças à articulação política dos grupos progressistas da região, que derrotou o projeto neoliberal de Bush, através da força e recusa dos movimentos sociais.

Ademais, os grupos de direita, continental e internacional, estão se agrupando em torno de um eixo de ataque direto aos direitos da classe trabalhadora. Além disso, buscam desnortear a pequena e média produção voltada para os mercados internos, concorrente dos grandes latifúndios e companhias multinacionais. Este novo ajuste se vale de contornos fascistas: mais agressivo nos planos econômico, político e social do que a estratégia neoliberal vivida na década de 1990. Se expressa através de reformas que jogam por terra os direitos trabalhistas, conseguidos às custas do sangue e da exploração e revolta de trabalhadores e trabalhadoras. Acompanha-se a isto um atroz ataque aos direitos previdenciários; sucateamento e alienação do patrimônio público, através da privatização e terceirização de áreas estratégicas e aumento da dívida externa, resultante do reposicionamento dos países latino-americanos à posição de subserviência.

Este recorte dos direitos humanos e trabalhistas vem acompanhado de garantir às corporações transnacionais e centros de poder financeiro, novos privilégios e ferramentas para assegurar sua acumulação de lucros, pela via dos acordos comerciais como o TPP e o TISA.


Unificar a luta pelo socialismo


Paulatinamente, se encaminha o processo de perda das conquistas latino-americanas. Soberania, integração, autonomia, diversificação produtiva e controle fronteiriço são apenas alguns dos temas do qual o grande capital tem alijado tanto a América Latina quanto o Caribe. Sem estes, não há margem de manobra para que se alcance o desenvolvimento destes Estados.

Os governos de direita vigentes em Argentina, Brasil, Colômbia, Peru e Paraguai intentam transformar os processos construídos durante o último século em não mais do que meros acordos de livre comércio.

O enfrentamento aos planos de ajuste está na ordem do dia. É a única perspectiva que se abre para o nosso entorno regional. Requer a disposição de amplas frentes sociais e políticas que integrem os setores afetados pelo avanço fascista, dado que a disputa política e social não se esgota no plano legislativo vigente.

Neste momento crucial, a unidade das forças de esquerda e dos povos latino-americanos e caribenho é a única arma da classe trabalhadora em sua batalha contra a ofensiva imperialista. Esta unidade, entretanto, tem que fazer o balanço da burocratização das direções das forças de esquerda, de sua política de colaboração com a burguesia que conteve a politização das massas. A unidade deverá ser um passo para ampliar a consciência crítica da população oprimida e resgatar a luta pelo socialismo.


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