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Se 2017 foi ruim, 2018 promete ser ainda pior para o povo negro

O ano de 2017 foi mais um ano de crise do capital. Como sempre, não foram os causadores da crise, os capitalistas, quem a pagaram. Muito pelo contrário, para manter seus lucros, a burguesia joga para a classe trabalhadora a responsabilidade de pagar pela crise. Daí sucede tudo que está sendo colocado em prática, desde as reformas promovidas pelo governo golpista de Michel Temer, que estão massacrando a classe trabalhadora, até a ascensão do fascismo em escala global.

Nesse contexto, foi um ano de ataques e sofrimento para o povo negro. Em primeiro lugar, podemos ressaltar os vários ataques aos espaços religiosos e culturais característicos do mundo afro-brasileiro, como as casas de candomblé, umbanda e congado. No Rio de Janeiro, houve casos de pastores e traficantes se unindo para atacar centros religiosos, mais um fruto do preconceito e obscurantismo.

A repressão estatal, através da polícia, também continuou afetando mais ao povo negro, principalmente a juventude.

A situação é tão grave que a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou, no último dia 07 de novembro, a campanha Vidas Negras, que teoricamente servirá para chamar a atenção do governo para a direta relação entre homicídios e o povo negro. Afinal, como mostra o Mapa da Violência, realizado pelo Governo Federal, um jovem negro tem, estatisticamente, 12 vezes mais chance de ser assassinado do que um jovem branco. É o racismo caminhando de mãos dadas com a violência.

Além disso, como dito, 2017 foi marcado pelos ataques à classe operária, com intuito de salvar o lucro dos capitalistas. Os principais ataques são representados pelas reformas do governo golpista, como a Trabalhista e a da Previdência. O grosso dos mais pobres e, consequentemente, da classe operária brasileira é negra. Segundo pesquisa da ONG britânica Oxfam, somente em 2089, com a progressão salarial atual, é que haverá igualdade de renda entre brancos e negros no Brasil.

No mesmo relatório, mostra que 67% dos negros brasileiros estão incluídos entre os que recebem até 1,5 salário mínimo, enquanto entre brancos esse índice é 45%. Conforme explicou Rafael Georges, cientista político da ONG no Brasil, “cerca de 80% das pessoas negras ganham até dois salários mínimos. Tal como acontece com as mulheres, os negros são menos numerosos em todas as faixas de renda superior a 1,5 salário mínimo, e para cada negro com rendimentos acima de dez salários mínimos, há quatro brancos”.

Isso quando o negro recebe salário. Os dados de desemprego são tão escabrosos quanto os de diferença de renda. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros são 63,7% dos desocupados. Com todos esses dados, a relação é óbvia: atacar a classe trabalhadora é atacar a população negra, que é a sua maioria.


Perspectivas para 2018


Para o povo negro, 2017 foi um ano muito ruim e 2018 promete ser ainda pior. Em primeiro lugar, o fascismo deverá continuar crescendo em escala global. Assim como os judeus, os negros foram vítimas de Hitler e do nazismo na Alemanha, sendo enviados para os campos de concentração e alvos da propaganda racista nazista. Mussolini, ditador fascista da Itália, contemporâneo a Hitler, invadiu a Etiópia para colonizá-la. Sendo Hitler e Mussolini os mais proeminentes fascistas da história da humanidade, podemos afirmar que o fascismo é inimigo histórico das minorias, inclusive do povo negro.

No pleito eleitoral brasileiro de 2018, temos como forte candidato o fascista chamado Jair Bolsonaro. Quanto aos direitos básicos da população negra, o deputado federal já deu seu recado. Em palestra do clube Hebraica no Rio de Janeiro, ele afirmou que, se eleito, acabará com as demarcações de terras indígenas e quilombolas. Mais que isso, afirmou: "Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem pra procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gastado com eles". Pela fala, foi condenado a pagar R$50 mil por danos morais. Porém, deixou bem claro o racista que é e como tratará os direitos do povo negro caso seja eleito.

Do outro lado, como forte candidato, está Lula. Sua política sempre foi e continua sendo a de conciliação de classes. Essa política nada diz respeito a uma melhora real das condições de vida da classe trabalhadora e, consequentemente, do povo negro. Isso se houver eleições, porque a possibilidade de uma ditadura do tipo militar no Brasil é real. Além da repressão, a Ditadura Militar foi o principal momento de concentração de renda no Brasil. Foi um dos fomentadores desse abismo de classes existentes ainda hoje.

A ditadura é uma possibilidade porque tudo indica a continuidade da crise econômica. Com isso, haverá o prosseguimento do massacre promovido aos trabalhadores. Se 2017 foi um ano particularmente ruim, a perspectiva é mais do mesmo para o povo negro no ano que vem.


Unidade na luta


Mesmo com todos esses ataques, há uma notável paralisia do movimento negro. A falta de grandes mobilizações no último dia 20 de novembro, em que se comemorava a Consciência Negra, é indício disso. Os partidos da esquerda seguem sem fazer trabalho na base negra, como nos centros religiosos, nas ocupações urbanas e nas áreas favelizadas. Não adianta termos todos os dados, que mostram a opressão racial no Brasil, e não agirmos para com ela acabar. Não adianta apenas analisar o mundo. É necessário buscar transformá-lo.

É imediata a necessidade da luta para manter as pequenas conquistas do movimento negro e ampliá-las. Tudo que foi conquistado estará em jogo no próximo ano. Cotas, criminalização do racismo, demarcação de terras quilombolas, tudo será perdido com a retirada de direitos que está sendo colocada em prática.

Isso denota que a libertação do povo negro no capitalismo é ilusória. Quando se luta por direitos “a conta gotas”, sem quebrar com a lógica do próprio capitalismo, tudo caí por terra na primeira grande crise econômica. Afinal, no capitalismo, é apenas a manutenção de lucros da grande burguesia que importa. Quando se concede algo para a classe trabalhadora, geralmente é em momentos de bonança e devido à pressão da luta operária.

Por isso, é necessário a unificação de todos que lutam contra o sistema, sejam negros, mulheres, LGBT's, juventude, etc. Todas essas lutas, apesar de suas particularidades, têm como base comum a opressão econômica por parte do capitalismo. Fazem parte da luta proletária geral. É urgente a necessidade de quebrar com essa base material, lutando pela construção de uma nova forma de sociedade, dentro do socialismo.


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