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A IIIª Internacional e o centralismo democrático

A partir da experiência organizativa da IIª Internacional, uma federação de partidos praticamente independentes, que capitularam ao nacionalismo na primeira oportunidade, Lênin que, desde 1903, havia ficado entre aqueles que defendiam uma organização altamente centralizada e com quadros que tomassem como uma profissão especializada a função de dirigir a revolução socialista, passou a defender a criação de uma Internacional também centralizada como partido mundial da revolução. Para ser militante da internacional, ou seja, do partido da revolução mundial, não bastaria apenas concordar com seu programa, era preciso também estar inserido num organismo do partido e defender a sua política no movimento de massas. Foi esse ponto que levou à cisão do Partido Social Democrata Russo em Bolcheviques e Mencheviques.

Lênin abriu uma batalha muito grande no interior do partido russo e não conseguiu convencer de imediato os principais quadros sobre a necessidade de uma organização altamente centralizada. Mesmo Trotsky, que concordava em quase tudo com ele, neste ponto ficou com os mencheviques, e só em 1917 foi convencido. Martov era o principal dirigente que se opunha à concepção de Lênin na Rússia. Rosa Luxemburgo, na Alemanha, também discordava porque achava que este centralismo levaria à ditadura do Comitê Central. Com a vitória da revolução russa, ficou demonstrada a necessidade de assumir o centralismo democrático: a mais ampla discussão interna com a mais determinada centralização no cumprimento das deliberações. A vitória só foi possível porque existia um partido revolucionário, formado por militantes profissionais capazes de dirigir o processo de luta contra o governo reformista (integrado por várias organizações de “esquerda” que administravam a sobrevivência do capitalismo na Rússia).

O 3º Congresso da Internacional Comunista coloca a questão do centralismo democrático da seguinte forma: “O centralismo democrático na organização do Partido Comunista deve ser uma verdadeira síntese, uma fusão da centralização e da democracia operária. Essa fusão só pode ser obtida por uma atividade comum permanente, por uma luta igualmente comum e permanente do conjunto do partido.

A centralização no Partido Comunista não deve ser formal e mecânica; deve ser uma centralização da atividade comunista; isto é, a formação de uma direção poderosa, pronta para o ataque e ao mesmo tempo capaz de adaptação.”


O “anarquismo” da pequena burguesia

Em 1921, Paul Levy foi expulso do Partido Comunista Unificado Alemão, do qual era um dos dirigentes, por criticar publicamente o Partido por ter organizado um levante prematuro que levou ao massacre de aproximadamente dois mil trabalhadores na Alemanha. Apesar sua postura correta em relação à atuação precipitada e sectária do partido, as críticas de Levy não estavam de acordo com o centralismo democrático que torna a organização coesa. Foi contra esta tendência ao ultra esquerdismo, à rejeição da atuação nos sindicatos, nas eleições burguesas e o desleixo à disciplina partidária que Lênin escreveu “Esquerdismo: doença infantil do comunismo”, onde explica que: “A experiência da ditadura proletária triunfante na Rússia, repito, demonstrou, de modo palpável, a quem não sabe pensar ou a quem não teve oportunidade de refletir sobre esse problema, que a centralização incondicional e a disciplina mais severa do proletariado constituem uma das condições fundamentais da vitória sobre a burguesia”.

Mais adiante, Lênin explicita os valores sob os quais se constrói a disciplina revolucionária e a necessidade dela para a derrubada da burguesia: “A primeira pergunta que surge é a seguinte: como se mantém a disciplina do partido revolucionário do proletariado? Como é ela comprovada? Como é fortalecida? Em primeiro lugar, pela consciência da vanguarda proletária e por sua fidelidade à revolução, por sua firmeza, seu espírito de sacrifício, seu heroísmo. Segundo, por sua capacidade de ligar-se, aproximar-se e, até certo ponto, se quiserem, de fundir-se com as mais amplas massas trabalhadoras, antes de tudo com as massas proletárias, mas também com as massas trabalhadoras não proletárias. Finalmente, pela justeza da linha política seguida por essa vanguarda, pela justeza de sua estratégia, e de sua tática políticas, com a condição de que as mais amplas massas se convençam disso por experiência própria. Sem essas condições é impossível haver disciplina num partido revolucionário realmente capaz de ser o partido da classe avançada, fadada a derrubar a burguesia e a transformar toda a sociedade”.

A pequena burguesia, por sua condição de classe, é vacilante e apegada a valores morais da burguesia. Apega-se em demasia a formalidade e às confissões vazias. Acredita por demais e se rejubila com seu próprio esforço, mas tem dificuldades de ver na classe operária o sujeito da revolução. Desespera-se facilmente e impacienta-se com a lentidão da consciência das massas: “O pequeno-burguês ‘enfurecido’ pelos horrores do capitalismo é, como o anarquismo, um fenômeno social comum a todos os países capitalistas. São por demais conhecidas a inconstância e a esterilidade dessas veleidades revolucionárias, assim como a facilidade com que se transformam rapidamente em submissão, apatia, fantasias, e mesmo num entusiasmo ‘furioso’ por essa ou aquela tendência burguesa ‘em moda’. Contudo, o reconhecimento teórico, abstrato, de tais verdades não é suficiente, de modo algum, para proteger um partido revolucionário dos antigos erros, que sempre acontecem por motivos inesperados, com ligeira variação de forma, com aparência ou contornos nunca vistos, anteriormente, numa situação original (mais ou menos original).”


A Revolução Russa e a III Internacional

A Revolução Russa derrotou os oportunistas e os reformistas, apesar deles terem resistido a todo custo e assassinado, na Alemanha, dois grandes revolucionários: Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. A IIIª Internacional nasceu como reação ao oportunismo e intimamente associada ao formato organizativo dos Bolcheviques. Grigori Zinoviev, Primeiro Secretário do Comitê Executivo, disse: “Desde seu nascimento, a IIIª Internacional liga seu destino ao da Revolução Russa”. Podemos encontrar nas resoluções dos seus Congressos uma luta encarniçada contra o oportunismo e o sectarismo. No Segundo Congresso foram aprovadas as 21 condições para participar da Internacional, elas eram uma barreira contra os reformistas e os centristas. Todos os partidos deveriam chamar-se Partido Comunista (seção da Internacional Comunista) e deveriam realizar Congressos extraordinários para discutir as 21 condições e excluir quem fosse contra elas.

Diversos partidos na Europa se dividiram em relação às condições colocadas para ingressar na Internacional Comunista. Alguns grupos não as aceitavam, mas também não queriam ficar na IIª Internacional. Estes centristas vieram a formar a “União Internacional de Partidos Socialistas”.

Uma das questões centrais do Segundo Congresso foi sobre a participação dos comunistas nos sindicatos, onde ficou resolvido que: “os comunistas devem entrar neles para formar quadros de combate contra o capitalismo e transformá-los em escolas de comunistas. A atitude dos comunistas nos sindicatos deve ter como resultado liberar as massas dos dirigentes oportunistas que estão entregues à burguesia”.

O Terceiro e o Quarto Congressos, 1921 e 1922, foram de combate ao sectarismo. Os processos revolucionários que ocorriam na Europa eram de grande interesse para a Internacional e deles dependiam, em grande medida, a vitória da Revolução na Rússia. Para Lênin, os comunistas devem tomar parte nas eleições parlamentares, militar nos sindicatos reacionários, “estar e agir em todo lugar onde houver trabalhadores, em todo lugar onde puderem se dirigir a eles”.


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