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Rock e direitos civis (parte I)

Publicaremos, em três edições, uma pesquisa sobre o “Rock e direitos civis”, desenvolvidas pelo estudioso ativista cultural, Raimundo Costa – Ray, para análise e reflexão dos leitores do Jornal Gazeta Operária.


David Crosby um dos grandes nomes do rock n’ roll, afirmou que “o grande legado do rock seria a luta pelos direitos civis” – depoimento no documentário “The History of Rock n’ Roll / The Rock Explods” -

Com certeza sua afirmação decorre de sua militância musical comprometida com engajamento político social, o que pode ser constatado em sua obra artística. Crosby integrou a banda “Byrds” na primeira metade da década de 1960 com quem gravou em 1964 “Mr Tambourin Man”, da autoria de Bob Dylan, com uso de guitarras e contrabaixo elétricos. A contar do álbum “Younger Than Yestaerday”- os Byrds assumiram definitivamente as influências psicodélicas no country rock, com requintes nas composições e arranjos vocais, marca registrada de Crosby nos trabalhos futuros que alcançam o século XXI. 

A sonoridade do álbum “Mr Tambourin Man” passeia pelo folk tradicional e sua fusão com guitarras. Estas sonoridades foram degustadas por Bob Dylan nos álbuns Highway ’61 Revisited de 1965 e Blonde on Blonde de 1966 quando o músico uniu folk e blues alçando novos horizontes para o rock, agora incorporado à poesia. Os álbuns Highway ’61 Revisited de 1965 e Blonde on Blonde de 1966 representam essa fase em que Dylan se reuniu com músicos, sem uma ideia musical definida, apenas interessado em fazer experiências com uso de guitarras, baixo, bateria, órgão e harmônica, instrumentos musicais marcantes na segunda metade dos anos 1960, embalando um discurso emblemático do poeta. Este processo de criação lembra a ideia inicial de realização do filme “O acossado”, de 1960, com direção de Jean Luc Godard. Nos textos, de Blonde on Blonde de 1966 – disco nervoso com ênfase em guitarra, harmônica e órgão -, Dylan discorre de maneira frenética a respeito do patrulhamento da imprensa e do público em geral, em razão de sua busca por novos ares musicais, situação que pode (ou não) ter inspirado Caetano Veloso em seu histórico discurso da música “É Proibido Proibir” quando a interpretou no “III Festival Internacional da Canção de 1968” (promovido pela Rede Globo de Televisão), ocasião em que se apresentou como verdadeiro “frontman” de uma banda de rock n’ roll que era nada mais nada menos do que “Os Mutantes”. O direito a livre manifestação estava instaurado, ainda que em plena ditadura, tendo o rock como bandeira de fundo. 

Até então, Bob Dylan era adepto da corrente tradicional do folk, sem “eletrificação”, e tinha como companheiros, dentre outros: Peter, Paul & Mary; Joan Baez e Leonard Cohen – poeta, compositor e escritor canadense que somente iria assumir os vocais em 1968, álbum “Songs of Leonard Cohen”.

Data de 1963 a participação de Dylan e Baez na marcha dos Direitos Civis sobre Washington.


Rock a partir da segunda metade de 1960


A segunda metade da década de 1960 registra mudanças estéticas musicais e comportamentais da sociedade – seria mera coincidência com a tropicália? -, sedenta de “revoluções” e quebras de paradigmas e novas direções na música e valorização dos direitos civis, o que se espalhou pelo mundo, sendo esta, uma das grandes contribuições do rock, como instrumento de ativismo social em busca da valoração da coletividade. Álbum que espelha esta transformação é o clássico “Revolver” dos Beatles de 1966, com inspiração em Timothy Leary, o “pai” do psicodelismo e “influência” de bandas como Jefferson Air Plaine e Grateful Dead. “Volunteers” álbum clássico do Jefferson Air Plaine contou dentre outras participações especiais de Jerry Garcia, David Crosby e Stephen Stills. Este álbum teve como fonte a natureza, comunidades, ecologia com fundamento pró-anarquismo e oposição às guerras em especial naquele momento contra a guerra do Vietnam. A capa do álbum “Volunteers” retrata seus integrantes com máscaras ao lado da bandeira dos USA, em forte protesto contra a guerra do Vietnam. As fotografias foram realizadas durante uma manifestação realizada em 1967 em diversas cidades norte-americanas como contraponto à guerra do Vietnam, guerra para a qual alguns dos membros do Jefferson Air Plaine haviam sido convocados e se recusaram a atender.

Ainda em relação à guerra do Vietnam, um jamaicano, Jimmy Cliff escreveu e gravou em 1970 Vietnam, música considerada por muitos, inclusive por Bob Dylan, como “a melhor canção de protesto jamais escrita” – fusão do rock com reggae -

O pós 1965 registra o “surgimento” do movimento hippie e experimentação do rock com sonoridades diversas como Harpa, cítara e outros instrumentos e timbres do oriente e outras regiões do planeta. Naturalismo, vida saudável, amor livre; direito de livre expressão e incentivo às trocas de objetos eram bandeiras em contraponto ao individualismo e consumismo pregado pelo capitalismo.


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