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O futebol não é mais do povo

O ingresso brasileiro é o mais inacessível do mundo. De acordo com um levantamento feito por Oliver Seitz, brasileiro que leciona administração esportiva na University College of Football Business em Londres, ao dividir o salário mínimo pela carga horária de trabalho de cada país, depois pelo preço do ingresso mais baixo disponível, verificou-se que o trabalhador brasileiro é um dos que mais trabalha, em horas, para ir ao estádio. Enquanto, por exemplo, o torcedor do alemão Bayern de Munique trabalha uma hora e 48 minutos para ir ao estádio, o torcedor do Clube Atlético Mineiro trabalha oito horas e 15 minutos, enquanto que o do Cruzeiro Esporte Clube trabalha 10 horas e 18 minutos. Dessa forma, só àqueles que recebem muito além do salário mínimo tem condições reais de estar nas arquibancadas. 

No início de 2016, os dois maiores clubes de Belo Horizonte, Atlético e Cruzeiro, protagonizaram grande “guerra midiática” sobre quem poderia utilizar-se do status de “time do povo”. Resgate histórico, dados empíricos, tudo que se fizesse o mínimo sentido, foi utilizado para dar embasamento as afirmações. O interessante é notar que, apesar desses esforços, nas arquibancadas em dias de jogos o que menos se vê é o “povo”. Muito pelo contrário, o que se observa é um público cada vez mais elitizado, uma vez que para manter a orgia financeira que é hoje o futebol, os ingressos estão cada vez mais caros.

A “desculpa” dos clubes para o aumento vertiginoso do preço dos ingressos seria visar o fortalecimento dos programas de sócio-torcedor, tornando-os vantajosos. Mas esses programas também não atendem as classes menos favorecidas. Em primeiro lugar, para se aderir ao programa, é necessário que se tenha um polpudo cartão de crédito para dividir as mensalidades. Em segundo, o próprio preço das mensalidades. O programa do Atlético Mineiro cobra R$ 220 para o torcedor ter acesso a todos os jogos do time. Mais barato, o do Cruzeiro, com acesso integral, cobra R$ 105,00.  Ambos os clubes também têm um programa que não dá acesso a todos os jogos à R$30, apenas dando preferência de compra e descontos nos ingressos. Ou seja, com o ingresso custando cerca de R$ 60,00, ao ir à dois jogos no mês, o torcedor já paga um décimo de salário mínimo.

De opção de lazer popular e acessível, o futebol vai se tornando cada vez mais parecido com o teatro. Um público branco, rico, por vezes sem uma ligação real de paixão com o clube, vem tomando o lugar daqueles que tradicionalmente iam ao Estádio de futebol. 


Futebol e Especulação Financeira


Além do afastamento do torcedor dos estádios, outra vertente importante da elitização do futebol é a “farra” financeira promovida pelos grandes clubes. Embora 80% dos jogadores no Brasil ganhem menos de R$ 1 mil por mês, essa média sobe vertiginosamente quando está em questão os grandes clubes da serie A. O Palmeiras, campeão do último campeonato, desembolsou R$ 9,2 milhões com o elenco profissional. O número de jogadores profissionais são 35, o que leva a uma média salarial de R$ 262.857 mil. Levando para os grandes clubes do futebol internacional, essa média fica ainda mais surpreendente. As últimas notícias dão conta que um clube chinês ofereceu a Lionel Messi um salário de R$ 1 milhão por dia. 

Essa orgia financeira dos clubes chineses, aliás, tem preocupado o governo do país. A Administração Geral do Esporte na China, órgão que regulamenta os esportes no país, criticou duramente os altos gastos dos clubes de futebol para contratar jogadores estrangeiros e ameaçou impor limitações. No site da entidade, estes gastos são chamados de "despesas irracionais" e aponta-se a necessidade do estabelecimento de um teto nas transferências e salários pagos a jogadores internacionais.

De onde sai tanto dinheiro para pagar esses salários e transferências? Tanto no futebol nacional quando no internacional, é comum os jogadores serem “fatiados”, com fundos de investimentos ou mesmo indivíduos possuindo parte do passe do atleta e arcando com suas despesas salariais. A falta de uma fiscalização efetiva garante negócios escusos e enriquecimento ilícito destes investidores, tornando o futebol um dos centros da especulação financeira mundial. Prova disso é o fato de grandes capitalistas, como o bilionário russo Roman Abramovich, ser dono de um dos maiores clubes da Inglaterra, o Chelsea, e ser acusado na Justiça russa de desvio de centenas de milhões de rublos em impostos.

De possibilidade de lazer acessível e esporte que desperta paixões, o futebol vem se tornando um reduto da especulação financeira global, com um afastamento cada vez maior do povo das arquibancadas. A pergunta que fica é: para quem é o futebol? Para Roman Abramovich ou para o povo? Contra a especulação financeira e partindo da premissa que sem torcida não há futebol, nossa posição aqui é terminantemente contra este que vem sendo chamado de “futebol moderno”.


O futebol para ricos


O ingresso brasileiro é o mais inacessível do mundo. De acordo com um levantamento feito por Oliver Seitz, brasileiro que leciona administração esportiva na University College of Football Business em Londres, ao dividir o salário mínimo pela carga horária de trabalho de cada país, depois pelo preço do ingresso mais baixo disponível, verificou-se que o trabalhador brasileiro é um dos que mais trabalha, em horas, para ir ao estádio. Enquanto, por exemplo, o torcedor do alemão Bayern de Munique trabalha uma hora e 48 minutos para ir ao estádio, o torcedor do Clube Atlético Mineiro trabalha oito horas e 15 minutos, enquanto que o do Cruzeiro Esporte Clube trabalha 10 horas e 18 minutos. Dessa forma, só àqueles que recebem muito além do salário mínimo tem condições reais de estar nas arquibancadas. 

No início de 2016, os dois maiores clubes de Belo Horizonte, Atlético e Cruzeiro, protagonizaram grande “guerra midiática” sobre quem poderia utilizar-se do status de “time do povo”. Resgate histórico, dados empíricos, tudo que se fizesse o mínimo sentido, foi utilizado para dar embasamento as afirmações. O interessante é notar que, apesar desses esforços, nas arquibancadas em dias de jogos o que menos se vê é o “povo”. Muito pelo contrário, o que se observa é um público cada vez mais elitizado, uma vez que para manter a orgia financeira que é hoje o futebol, os ingressos estão cada vez mais caros.

A “desculpa” dos clubes para o aumento vertiginoso do preço dos ingressos seria visar o fortalecimento dos programas de sócio-torcedor, tornando-os vantajosos. Mas esses programas também não atendem as classes menos favorecidas. Em primeiro lugar, para se aderir ao programa, é necessário que se tenha um polpudo cartão de crédito para dividir as mensalidades. Em segundo, o próprio preço das mensalidades. O programa do Atlético Mineiro cobra R$ 220 para o torcedor ter acesso a todos os jogos do time. Mais barato, o do Cruzeiro, com acesso integral, cobra R$ 105,00.  Ambos os clubes também têm um programa que não dá acesso a todos os jogos à R$30, apenas dando preferência de compra e descontos nos ingressos. Ou seja, com o ingresso custando cerca de R$ 60,00, ao ir à dois jogos no mês, o torcedor já paga um décimo de salário mínimo.

De opção de lazer popular e acessível, o futebol vai se tornando cada vez mais parecido com o teatro. Um público branco, rico, por vezes sem uma ligação real de paixão com o clube, vem tomando o lugar daqueles que tradicionalmente iam ao Estádio de futebol. 


Futebol e Especulação Financeira


Além do afastamento do torcedor dos estádios, outra vertente importante da elitização do futebol é a “farra” financeira promovida pelos grandes clubes. Embora 80% dos jogadores no Brasil ganhem menos de R$ 1 mil por mês, essa média sobe vertiginosamente quando está em questão os grandes clubes da serie A. O Palmeiras, campeão do último campeonato, desembolsou R$ 9,2 milhões com o elenco profissional. O número de jogadores profissionais são 35, o que leva a uma média salarial de R$ 262.857 mil. Levando para os grandes clubes do futebol internacional, essa média fica ainda mais surpreendente. As últimas notícias dão conta que um clube chinês ofereceu a Lionel Messi um salário de R$ 1 milhão por dia. 

Essa orgia financeira dos clubes chineses, aliás, tem preocupado o governo do país. A Administração Geral do Esporte na China, órgão que regulamenta os esportes no país, criticou duramente os altos gastos dos clubes de futebol para contratar jogadores estrangeiros e ameaçou impor limitações. No site da entidade, estes gastos são chamados de "despesas irracionais" e aponta-se a necessidade do estabelecimento de um teto nas transferências e salários pagos a jogadores internacionais.

De onde sai tanto dinheiro para pagar esses salários e transferências? Tanto no futebol nacional quando no internacional, é comum os jogadores serem “fatiados”, com fundos de investimentos ou mesmo indivíduos possuindo parte do passe do atleta e arcando com suas despesas salariais. A falta de uma fiscalização efetiva garante negócios escusos e enriquecimento ilícito destes investidores, tornando o futebol um dos centros da especulação financeira mundial. Prova disso é o fato de grandes capitalistas, como o bilionário russo Roman Abramovich, ser dono de um dos maiores clubes da Inglaterra, o Chelsea, e ser acusado na Justiça russa de desvio de centenas de milhões de rublos em impostos.

De possibilidade de lazer acessível e esporte que desperta paixões, o futebol vem se tornando um reduto da especulação financeira global, com um afastamento cada vez maior do povo das arquibancadas. A pergunta que fica é: para quem é o futebol? Para Roman Abramovich ou para o povo? Contra a especulação financeira e partindo da premissa que sem torcida não há futebol, nossa posição aqui é terminantemente contra este que vem sendo chamado de “futebol moderno”.


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