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Por um encontro de mulheres verdadeiramente de luta

Nos últimos dias 19 a 21 de maio, aconteceu em Salvador (Bahia), o XX Encontro de Mulheres da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares), com a participação de trabalhadoras de todas as bases sindicais do País. Diante dos brutais ataques que estão sendo impostos pelo governo e pela direção da Empresa e que atingem mais fortemente as mulheres, esse encontro deveria ter sido um marco na organização da luta das ecetistas. Ou seja, um Encontro que tivesse como principal tarefa esclarecer e organizar um plano concreto de lutas para o próximo período.

A necessidade de ação ficou muito clara entre as trabalhadoras de base dos Correios, que em suas intervenções demonstraram a vontade de lutar por seus direitos e por seus empregos. No entanto, observou-se a imensa confusão que a burocracia sindical expõe  os trabalhadores. No caso específico das mulheres, por exemplo, desviam a todo o momento o foco da luta para uma dita "necessidade de criar uma consciência", tentando direcionar as esperanças nas eleições que são totalmente manipuladas e controladas pela direita.  Isso sem falar na tentativa de opor, no discurso, os homens contra as mulheres. Tentam convencer que o problema da opressão das mulheres está relacionado com os homens – o fato de eles serem machistas, se serem “educados” ao machismo e não querer mudar, etc. Ou seja, a exploração das mulheres não seria resultado da luta de classe, tampouco teria sua base nas questões sociais e econômicas, mas em questões “comportamentais” ou de “consciência pessoal”. Assim, ao invés de a classe operária unir forças para lutar contra os exploradores, deveríamos nos dividir e brigar entre si – homens contra mulheres.

Há, por parte da burocracia sindical, um esforço claro para confundir os trabalhadores e, com isso, servir de entrave para as lutas.


Um Encontro de trabalhadoras com falas do patrão


Apesar de nesse Encontro, excepcionalmente, os horários de início das atividades terem sido levados a sério, outros pontos mostraram que o objetivo daencontro de mulheres2 burocracia não é o de esclarecer os trabalhadores, muito menos de organizar uma luta real. Não querem inflamar o sentimento de revolta contra o sistema que os oprime e que, fatidicamente, lhes retirará todos os direitos e até seus empregos, deixando-os em situação de completa miséria. Muito pelo contrário, em alguns momentos, os palestrantes convidados pela burocracia reproduziram o discurso do patrão, falando mal dos sindicatos e dos próprios trabalhadores, com a repetição da campanha caluniosa dos exploradores de que existem muitos “trabalhadores preguiçosos, faltosos e que ainda querem reclamar seus ‘direitos’”. Mesmo que tais trabalhadores de fato existam, o nosso papel enquanto defensores da classe operária não é o de se juntar com o patrão se opondo a determinados trabalhadores e, com isso, corroborando com a Empresa no discurso de que os “trabalhadores têm muitos direitos”. O papel de qualquer sindicalista revolucionário é o de defender irredutivelmente a categoria, obrigando que o patrão comprove que tais acusações são reais, ao invés de se prestar ao papel de capataz. 

No entanto, o que chamou mais atenção foi o discurso aberrante de que os trabalhadores deveriam aceitar os "acordos administrativos" ao invés de lutar por seus direitos e que as “paralisações não trazem resultados e, sim, a mobilização”. Que ao invés de fazer greve, o trabalhador deveria “pressionar” os políticos. Ou seja, parar a produção e atingir o patrão na única linguagem que ele entende (os lucros) seria menos eficaz que “ameaçar” com palavras os parlamentares que estão sendo denunciados por receber meio milhão de reais, semanais, para votar nas propostas que retiram os direitos da população.

Esse discurso totalmente patronal está sendo repercutido na base em um momento crucial para os trabalhadores, onde está colocada a luta em defesa dos empregos e salários e contra a privatização da maior estatal brasileira em número de funcionários. Se os trabalhadores dos Correios não se levantarem e lutarem fortemente contra a privatização, a Empresa será entregue (doada) aos grandes empresários, assim como aconteceu com a Vale do Rio Doce.

Para garantir a privatização, o presidente da ECT, Guilherme Campos, está atuando como um verdadeiro ditador, retirando da categoria até mesmo o direito às férias. Os Correios estão sendo completamente sucateados, sem efetivo, sem manutenção e não é nenhuma “conversa fiada” que vai “convencer” o presidente da ECT a ser “bonzinho” com os trabalhadores. Se não houver luta o resultado não poderá ser outro que não a demissão em massa e a retirada de todos os direitos já conquistados. 

Desde o princípio do encontro percebeu-se a falta de vontade da burocracia sindical de esclarecer os trabalhadores dos graves ataques e de que a única saída é a luta unificada. Não por acaso, foi dado às forças o tempo irrisório de cinco minutos, por pessoal, para se fazer uma análise de conjuntura. Uma piada. Ou seja, foi retirado das trabalhadoras o direito a um amplo e democrático debate político. A burocracia sindical sequer tentou direcionar os debates para a luta unificada.

As companheiras da LPS, em suas intervenções, apesar de, por mais de uma vez, terem suas falas prejudicadas pela mesa organizadora, e ter sua participação na mesa de debates suprimida, defenderam a política de que é necessário construir uma verdadeira Greve Geral, com ocupação das fábricas, ruas e escolas, com o controle da produção pelos trabalhadores, para barrar os ataques que estão sendo impostos à classe operária e, sobretudo, às mulheres. Além de esclarecer que, o problema do machismo não é uma questão individual ou comportamental, mas um problema social e, sendo assim, é necessário atacar a raiz do problema, o capitalismo.

É imprescindível organizar os trabalhadores e as trabalhadoras, não só dos Correios, mas em todas as principais categorias do país, para lutarem. Apenas a luta unificada irá barrar os ataques.


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