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O que está por trás do incêndio do Museu Nacional?

No dia 02 de setembro, a população brasileira assistiu a mais um crime de lesa pátria. O Museu Nacional, localizado no Rio de Janeiro, foi destruído graças a um incêndio de largas proporções. A instituição de quase 200 anos guardava grande parte da história e cultura nacional, como o crânio do primeiro fóssil humano encontrado no Brasil, e mesmo internacional, como múmias, mas graças a essa tragédia anunciada, praticamente todo o acervo, que contava com mais de 20 milhões de itens, foi queimado.

As versões oficiais falam em “trágico acidente”, uma vez que no museu existia um grande número de materiais potencialmente inflamáveis. Contudo, não havia sistema contra incêndios. Trata-se aqui, mais uma vez, de um desastre prometido, aos moldes do que ocorreu em Mariana (MG). Para se ter ideia, essa “bola” já estava sendo “cantada” desde 2004, numa matéria do portal de notícias Agência Brasil, que denunciava os graves riscos de um incêndio no Museu graças ao descaso com a manutenção. Na matéria, o então secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, afirmou que “o museu vai pegar fogo. São fiações expostas, mal conservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade com o patrimônio histórico”.

A situação, que já era ruim, piorou nos últimos anos, principalmente depois do golpe de Estado. Segundo a direção do Museu Nacional, na parte de conservação (obra, reparo na estrutura e prevenção de acidentes), a instituição precisava de R$ 520 mil por ano. Este orçamento foi cumprido integralmente pela última vez apenas em 2013. De lá para cá o que se viu foi um decréscimo crescente a cada ano. Em 2015, esse valor foi de apenas R$ 257 mil, menos de 50% do valor total. Até abril deste ano, os repasses referente a este orçamento foi de apenas R$ 54 mil, pouco mais de 10% do montante estipulado. 

Segundo dados da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, a verba destinada ao Museu Nacional encolheu R$ 336 mi, entre 2013 e 2017.

Antes desse “acidente” fatal, o Museu chegou a ter as visitas suspendidas por falta de verba, conforme denúncia feita pela Veja, em matéria datada de 2016. Já em fevereiro deste ano, em notícia veiculada no jornal O Globo, o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, afirmou que só havia verba para fazer medidas paliativas. 

Também chamou a atenção o fato de o Corpo de Bombeiros ter chegado ao local para combater o incêndio e simplesmente não ter conseguido água suficiente para combater o fogo. Segundo o comandante geral do Corpo de Bombeiros e secretário de Defesa Civil do Rio, Roberto Robadey, “dois hidrantes próximos estavam sem carga. Não adianta ter um pouco de água. O hidrante tem que ter capacidade máxima”. 

O incêndio que atingiu o museu foi apenas mais um dos efeitos do projeto de longo prazo de extinguir o progresso da ciência, da pesquisa e da história do país, reafirmando a posição do Brasil como apenas mais uma colônia do imperialismo. A destruição do Museu Nacional ocorreu ao mesmo tempo em que a Reforma do Ensino Médio retira a matéria História, Filosofia, Sociologia, Biologia, dentre outros, da grade curricular obrigatória. O projeto envolve criar um distanciamento dos estudantes em relação à ciência, levando a criação de trabalhadores estritamente técnicos, sem senso crítico, como demanda o neoliberalismo. Parafraseando Darcy Ribeiro, “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”.

Não é nenhuma “coincidência” que tal tragédia ocorreu durante o governo que já entregou grande parte de nossas riquezas naturais, congelou os gastos públicos por 20 anos, acabou com todas as leis trabalhistas etc. 

A nós, trabalhadores, resta o luto por vermos grande parte de nossa história ser consumida em cinzas. Mas este luto tem que ser apenas um breve momento, ele terá que dar vez à luta. Somente o povo, nas ruas, fará retroceder essa série de ataques. 

A destruição do museu, fruto de uma política de investida contra as massas, deixa claro a intenção dos golpistas para o Brasil. Que tal ataque sirva com um elemento para a nossa mobilização. Somente uma sociedade mais justa poderá conservar nossa história e cultura.  



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