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Derrota de Bolsonaro não interessa apenas às mulheres

A campanha #elenão, contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), ganhou enorme repercussão em toda a sociedade nos últimos dias. Tal empreitada é reflexo da forte rejeição, cada dia mais latente, aos setores da burguesia que compõem a ala da extrema-direita e que, dentre outras coisas, defende a misoginia, o racismo, a homofobia, a tortura, o extermínio da população pobre e favelada, a xenofobia, a entrega do País aos monopólios internacionais etc. Nesse sentido, a campanha representa uma resistência contra a investida fascista da extrema-direita.

O movimento contra o candidato que lidera as (nada confiáveis) pesquisas eleitorais começou e foi impulsionado por grupos de mulheres na internet. O objetivo é evitar a chegada de Bolsonaro ao segundo turno das eleições. Em poucos dias, a página do Facebook intitulada “Todas contra Bolsonaro” ganhou mais de dois milhões de participantes, sendo hackeada logo depois do grande êxito, o que acabou difundindo ainda mais a campanha. Centenas de outras páginas surgiram, juntamente com as manifestações de artistas, lideranças sociais e pessoas anônimas de todo o Brasil. A hashtag “ele não” hoje é a mais usada nas redes sociais. Obviamente que a popularização da campanha tem a ver com o processo eleitoral, que mesmo sendo estritamente controlado pela classe burguesa, cumpre, em primeiro lugar, um papel de forte agitação política entre a classe trabalhadora. Entender o processo eleitoral neste momento é entender a política para o Brasil.

Devido ao caráter classista (machista, misógino e violento) das inúmeras declarações e ações de Bolsonaro, a campanha teve início principalmente entre as mulheres, mas ganhou fácil adesão da população mais explorada. Não poderia ser diferente. Numa sociedade em que o setor mais oprimido da classe trabalhadora está entre as mulheres negras, é bastante compreensível a rejeição a um candidato que se manifesta racista, que afirma que mulheres devem ganhar menos porque engravidam e cujo vice chegou a afirmar que lares liderados por mulheres “criam desajustados”. Não é difícil esclarecer à população a forma como esses preconceitos materializam as exclusões sociais através de políticas econômicas, como a reformas Trabalhista e da Previdência, as quais o ex-capitão do Exército é favorável.

Nesse sentido, o que está colocado para a esquerda é participar do movimento, que teve início principalmente entre setores da pequena-burguesia, buscando fazer evoluir a consciência das massas, evidenciando que o programa defendido por Bolsonaro é, na verdade, o mesmo programa do PSDB, Partido Novo, MDB, PDT e demais direitistas, ou seja: perseguir trabalhadores, aumentar a exploração, retirar direitos e cumprir a agenda imperialista que quer recolonizar o Brasil. 


Tão fascistas quanto Bolsonaro


Para tentar derrotar o populismo do PT, a burguesia tradicional, subserviente ao imperialismo, criou o seu “monstro fascista”, mas, agora, diante da incapacidade de alavancar seus candidatos “plano A”, a exemplo de Geraldo Alckmin (PSDB) e João Amoedo (Novo), precisa controlar a “fera”. Dessa forma, a direita encampa a campanha “ele não” e partidos como o PSDB e até o Movimento Brasil Livre (MBL), defensores das políticas mais truculentas contra as mulheres e toda a classe trabalhadora, resolveram se mostrar “progressistas” para o eleitorado. Mais uma vez tentam se “apossar” de uma agenda que eles são contra (defesa das mulheres, dos negros, homossexuais e dos direitos trabalhistas; contra a violência doméstica; contra a retirada de direitos etc.) para conseguir ganhos eleitorais, impondo a campanha do “terceiro campo” – nem o “extremismo de esquerda, nem o de direita”. 

Os ataques de Bolsonaro não são apenas no campo moral, mas econômicos. O objetivo de seu governo é cortar ainda mais gastos e entregar o País de vez para a iniciativa privada em benefício das corporações imperialistas. Nesse aspecto não se diferencia em nada dos tucanos, de Henrique Meireles (MDB), de Álvaro Dias (PODEMOS) e do Partido Novo que representam a mesma política, mas travestidos de progressistas. Exemplo claro disso é a candidata a vice na chapa de Alckmin, Ana Amélia, cujas declarações públicas não se diferenciam das de Bolsonaro. Também é certo que, caso Bolsonaro vá para o segundo turno com o PT, toda a burguesia irá se unir e defender o candidato fascista.  


Movimento de mulheres, o que elas querem?

 

Quando a crise do capital aperta, o lado mais fraco “da corda”, a exemplo das mulheres, “estoura” primeiro. É por esse motivo que o movimento feminino que se coloca contra a candidatura de Jair Bolsonaro cresceu significativamente e ganhou apoio entre as mulheres da classe trabalhadora, apesar de ter sido impulsionado pela classe pequeno-burguesa.

Sem dúvida, a ascensão de Bolsonaro deve-se à brecha que a esquerda deixou ao evitar a verdadeira luta dos trabalhadores contra os fortes ataques da direita. O que o movimento das mulheres pode representar, nesse momento, é o contraponto ao fascismo. Como um movimento grande e diverso, pode tomar proporções gigantescas em relação ao fortalecimento da ação direta das massas. Isso, claro, se a esquerda não cometer novamente o erro de abandonar a mobilização e se furtar da tarefa de conscientizar e politizar o movimento, como foi no caso da greve dos caminhoneiros. 

Essa campanha pode abrir caminhos para a unidade da classe trabalhadora que, ao expressar sua rejeição ao fascismo e à política econômica da extrema-direita, dificulta sua apropriação pela direita. Não podemos deixar que se repita o que ocorreu em 2013, quando as manifestações, originalmente progressistas, como a do Passe Livre, tornaram-se as marchas coxinhas contra Dilma Rousseff e o PT. É preciso que toda a esquerda organizada - partidos, sindicatos e demais entidades – apoie fortemente esse movimento, dê a ele o tom democrático que precisa ser dado e lhe caracterize como uma luta classista. 

As eleições burguesas, mesmo em tempo de golpe de Estado, devem servir como palanque de agitação e propaganda de uma política para os trabalhadores. Por isso, as forças de esquerda não podem nutrir esperanças de que os problemas da classe trabalhadora se resolverão através das eleições.

Será preciso muita luta nas ruas e em greves para garantir os direitos conquistados e conquistar um governo que atenda as vontades da maioria da classe trabalhadora, que elimine de vez a opressão sobre as mulheres. Por um governo que possa garantir o direito necessário para que as mulheres não sejam subjugadas a seus baixos salários e nem ao patriarcado. Pelo direito ao aborto em quaisquer circunstâncias. Contra a violência e opressão da mulher. 



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