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Trump passa Bolsonaro para trás

Para atender aos mandos do imperialismo norte-americano, Jair Bolsonaro passou a campanha eleitoral inteira afirmando que não faria mais negócios com a China por motivos “ideológicos”. Contudo, o representante da extrema-direita no Brasil foi passado para trás pelos Estados Unidos.  No último dia 27 de fevereiro, o secretário de agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, usou suas redes sociais para anunciar um acordo comercial entre EUA e China, afirmando que “os chineses se comprometeram a comprar mais 10 milhões de toneladas de soja americana”. Em seguida, o próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, postou em suas redes que “se for feito o acordo com a China, nossos grandes fazendeiros americanos serão tratados melhor do que jamais foram tratados antes!”.

O pequeno detalhe, que interessa especificamente ao agronegócio brasileiro, é que a China era a principal compradora dos produtos aqui produzidos, principalmente a soja. De acordo com a rede de notícias agronewsbrasil, há indicações de que com essa compra de soja dos Estados Unidos, os chineses irão diminuir a compra do produto no Brasil. Em entrevista a esta rede, o dono do Grupo Bom Futuro (maior produtor de soja brasileiro), Roberto Machado Bortoncello, afirmou que os produtores brasileiros estão “em um momento de grande apreensão. Estamos fazendo hedging dos custos e colocando o pé no freio em relação às despesas. [...] Os produtores do Brasil terão que reduzir custos e melhorar as operações logísticas para enfrentar essa nova dinâmica global do mercado da soja”.

A situação intensifica as contradições e disputas internas da burguesia. O agronegócio, que tem uma bancada própria no Congresso Nacional e tanto fez campanha para Bolsonaro no último ano, está para entrar em colapso. O trágico é que a economia nacional é completamente dependente do agronegócio, e esse fim da parceria com a China certamente irá levar o País a um novo ciclo de crise econômica, ainda mais aprofundado.


Reconstituindo a enganação


Antes de ser eleito, Bolsonaro, por diversas vezes, afirmou que a China estaria “comprando” o Brasil e prometeu fazer negócios para além do que chamou de comércios “ideológicos”. Em contrapartida, afirmou que iria aprofundar as relações com países como Estados Unidos e Israel, ou seja, fez uma preferência igualmente ideológica.
Tal escolha faz parte de um acordo político. Não podemos esquecer que 2018 foi um ano marcado por uma guerra comercial entre China e Estados Unidos. Bolsonaro, ávido por se tornar um agente do imperialismo estadunidense, não perdeu a chance de mostrar qual lado ideológico tomaria.

Em contrapartida, desde o princípio o governo chinês alertou sobre o risco que o Brasil correria por tomar esse caminho. O editorial do jornal estatal China Dayli, do dia 29 de outubro de 2018, afirmou que “o custo econômico pode ser duro para a economia brasileira, que acaba de sair de sua pior recessão na história [...] Não há razão para que o 'Trump Tropical' revolucione as relações com a China”.
Bolsonaro, garoto de recado de Trump, fingiu não ouvir o alerta do governo chinês e seguiu a determinação dos EUA. Em matéria publicada pela revista Veja, em 29 de dezembro de 2018, foi manchete o fato de que os Estados Unidos queriam restrições aos investimentos chineses no Brasil. Nesta matéria, foi reproduzido uma declaração do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeu, afirmando que: “Tomamos notas de alguns comentários do presidente eleito sobre suas preocupações com o papel da China no Brasil. O tema do papel da China nas Américas está agora em nossas discussões com o Canadá e o México”.

Um dia antes, em 28 de dezembro, o jornal O Globo também publicou uma manchete onde dizia que os “EUA saúdam Bolsonaro por se contrapor à China e a 'tiranos' de Cuba e Venezuela”. No artigo, foi citado um comunicado do departamento de Estado dos EUA em que se falava que “aplaudimos o presidente eleito Jair Bolsonaro por defender a soberania brasileira diante das práticas comerciais e de crédito predatórias chinesas”. Segundo O Globo, uma alta funcionária do departamento de Estado afirmou, em sigilo, que os EUA celebravam o afastamento entre Brasil e China.

Os interesses reais dos Estados Unidos neste afastamento vieram à tona. Os pronunciamentos de Sonny Perdue e Donald Trump sobre a China se comprometer a comprar a soja estadunidense mostra que o objetivo do imperialismo ianque era pegar o mercado chinês da soja para si.

Resumindo os acontecimentos, temos: o governo Bolsonaro, atendendo às ordens dos EUA, deu as costas para a China. A China, por sua vez, passou a comprar soja dos EUA. As duas potências imperialistas saíram vitoriosas nas negociações, lucrando ambas. Já o Brasil saiu como o único prejudicado, pois perdeu seu mercado da venda de soja para o mercado dos EUA. Trump não poderia estar mais agradecido ao governo brasileiro. Um artigo publicado na Folha de São Paulo, no dia 28 de fevereiro, pelo colunista Nelson de Sá, fez a mesma denúncia, acrescentando que a União Europeia, que não comprou carne brasileira nos últimos meses, passará a comprar dos EUA.

 

Brasil se converte em vergonha internacional

 

O presidente do Brasil foi enganado em escala mundial. Foi, literalmente, “feito de bobo” e “passado para trás”. Caiu nas maquinações imperialistas, cujo objetivo é controlar o mercado internacional. O presidente, que se elegeu com o lema “Brasil acima de tudo”, colocou o interesse comercial dos Estados Unidos acima do interesse de uma das suas principais bases aliadas, a bancada ruralista, deixando claro que até o seu “nacionalismo” é de fachada.

De fato, o agronegócio no Brasil é um verdadeiro entrave ao crescimento do País. Trata-se de uma política implantada para salvar os barões da agricultura e pecuária, que insistem em manter o primeiro setor como carro-chefe da economia nacional. Esse é o resultado da desindustrialização que está sendo levada a cabo desde, pelo menos, 1990, que transforma o Brasil em fazenda do mundo. Porém, o fato é que com a China parando de comprar a soja brasileira e passando a comprar dos Estados Unidos, trará como resultado uma crise econômica ainda maior, desemprego em massa e fome para uma parcela significante da população.

É preciso denunciar a política econômica suicida, subserviente e ilógica que Bolsonaro está levando adiante. Não é uma fase, não é um momento. É uma imposição imperialista que o novo governo brasileiro levará a cabo. É preciso lutar contra a entrega do Brasil promovida por Bolsonaro e seus capachos.


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