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Em defesa do materialismo histórico dialético

Karl Marx e Friedrich Engels são produtores de uma extensa obra que teorizou e colocou em prática uma teoria revolucionária. Dedicaram suas vidas à libertação da esmagadora maioria da humanidade de uma pequena casta de parasitas opressores. Nesta teoria e ação prática, o motor é a luta de classes. O fim almejado é a sociedade sem divisões de classes e sem Estado, passando pela etapa da ditadura do proletariado, do desenvolvimento social muito mais isonômico e real do que a falsa democracia burguesa. O método utilizado para essa análise é o materialismo histórico dialético.

Este método, aperfeiçoado por Marx e Engels, é uma clara oposição ao idealismo alemão, sobretudo à sua principal figura teórica, Friedrich Hegel. Partindo da premissa que a realidade é um processo em movimento e não somente uma coisa em sua substância, o idealismo influenciou todo o pensamento filosófico do século XIX. No idealismo, este constante movimento da realidade é a dialética, que necessariamente passa por três fases: tese, que é uma afirmação; antítese, que é a negação ou contradição da afirmação; e síntese, que é o novo que surge do embate dessas ideias opostas. Para Hegel, o trabalho do analista da realidade seria o trabalho da razão, que deve se afastar do senso comum e estar em um ponto de vista absoluto.

Hegel argumentou que o ápice do desenvolvimento humano seria alcançar uma ideia universal anterior, que daria sentido à toda existência. Ou seja, a ideia que admite que a matéria exista. Para explicitar o idealismo filosófico, temos o exemplo do Estado, algo materialmente existente. Para Hegel, o Estado seria a síntese entre os desejos individuais e coletivos, suprindo as suas contradições e sendo o principal palco para a aplicação e realização da liberdade humana. A ideia do Estado seria capaz de solucionar a materialidade das contradições da existência humana em sociedade.

É exatamente essa premissa que Karl Marx e Friedrich Engels “viram de cabeça para baixo”. Os revolucionários discordam que a ideia seja antecessora à matéria. Utilizando-se do método dialético, explicitam que é a realidade material que condiciona a existência das ideias. Para permanecer no mesmo exemplo, na teoria do materialismo histórico dialético, o Estado serve ao interesse material das classes dominantes de manter a desigualdade social. A permanência da desigualdade social centenas de anos após a fundação da concepção do Estado é um exemplo do acerto do materialismo.

Das inúmeras obras de Marx e Engels, duas em especial fazem o combate ao idealismo filosófico: “A Ideologia Alemã”, de Marx, um debate com as ideias do filósofo neo-hegeliano alemão, Ludwig Feuerbach, e “Anti-Duhring”, de Engels, uma polêmica com Karl Eugene Duhring, alemão do final do século XIX.

 

Ideologia Alemã

 

Feuerbach era um filosofo que mesmo se dizendo materialista, permanecia com concepções idealistas hegelianas, sobretudo no que diz respeito a existência de uma “força criadora” que condicionaria a existência humana. A crítica, conforme escreveu Marx nas onze teses que precedem o livro, consiste em: “Feuerbach dissolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência humana não é uma abstração inerente ao indivíduo singular. Em sua realidade, é o conjunto das relações sociais. Por isso, Feuerbach não vê que o próprio ‘sentimento religioso’ é um produto social e que o indivíduo abstrato por ele analisado pertence a uma forma determinada de sociedade”.

Dentre as onze teses principais de discordância com Feuerbach, também se destaca a décima primeira: “os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo”. Ou seja, o conhecimento pelo conhecimento, interpretar o mundo burguês repleto de desigualdades e não atuar praticamente, no sentido de tentar resolver esses problemas materiais, algo tão comum nos meios acadêmicos, é um exercício completamente infértil.

O livro se divide em três tomos: “A Ideologia em Geral, Especialmente a Alemã”; “A Base Real da Ideologia”; e “Comunismo. A Produção da Própria Forma de Intercâmbio”, que consistem em desconstruir os pressupostos filosóficos de Feuerbach. Conforme Marx, “os velhos hegelianos haviam compreendido tudo, desde que tudo fora reduzido a uma categoria da lógica hegeliana. Os jovens hegelianos criticavam tudo, introduzindo sorrateiramente representações religiosas por baixo de tudo ou proclamando tudo como algo teológico. Jovens e velhos hegelianos concordavam na crença no domínio da religião, dos conceitos e do universal no mundo existente. A única diferença era que uns combatiam como usurpação o domínio que os outros aclamavam como legítimo”.

Ao contrário de Feuerbach, que apenas analisou as contradições humanas no plano das ideias, Marx propõe a superação da ordem existente. Para a realização dessa superação, “a subsunção dos indivíduos a determinadas classes não pode ser superada até que se forme uma classe que já não tenha qualquer interesse particular de classe a impor à classe dominante”. Para isso, somente os explorados, organizados enquanto classe, lutando diretamente contra a classe dominante, poderão superar efetivamente a desigualdade na humanidade.

 

Anti-Duhring

 

Contra Eugene Duhring, Engels escreve uma crítica ainda mais vertical e destrutiva. Isso porque Duhring se autoproclamava um gênio que “saltou no palco, não sem um formidável estardalhaço, e anunciou uma revolução total da filosofia, da economia política e do socialismo, realizada por ele”.

Também divido em três tomos – “Filosofia”, “Economia Política” e “Socialismo” – Engels vai, ponto a ponto, destruindo as arrogantes prerrogativas de originalidade e suposta destruição em todo o pensamento vigente que Duhring afirmava estar realizando. Ao contrário, mostrou a importância do acúmulo histórico do pensamento filosófico, sobre a economia política e sobre o socialismo para o desenvolvimento e maturação da análise.

Mais que isso, Engels demonstra como, por mais que se apregoe originalidade, Duhring nada mais fez do que uma cópia mal feita e incorreta (em sua essência) das ideias de Hegel sobre filosofia; dos pensadores liberais como Smith e Ricardo e do próprio Karl Marx na análise sobre economia política. Hegel mostrou que o pensamento de Duhring sobre socialismo era incompleto e, mais que isso, que não sabia lidar com problemas básicos como a desigualdade em relação à mulher, Estado, família e educação.

O combate de Marx e Engels em defesa do materialismo histórico-dialético é inspirador. Essa teoria, formada em cima de teorização da existência da luta de classes e aspirando a construção do socialismo, foi criada com a intenção de promover, efetivamente, a libertação do proletariado da exploração capitalista. Devemos estudar e defender o materialismo histórico-dialético de revisionismos diletantes e inférteis. Não é a ideia da superação da fome e da miséria que vai acabar com essas mazelas. É a ação prática, material, que levará à superação do capitalismo e construção da verdadeira igualdade e liberdade.


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