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A nova farsa de Sérgio Moro

No dia 23 de junho, quatro pessoas foram presas sob suspeita de atuarem como os hackers que teriam quebrado o sigilo de celulares e divulgado conversas de autoridades políticas, dentre elas o Ministro da Justiça, Sérgio Moro. As prisões ocorreram pouco mais de mês após as denúncias promovidas pelo The Intercept Brasil, que escancararam a verdadeira face autoritária da Operação Lava-Jato, comprovando, através dos áudios vazados, o esquema de perseguição política e de julgamentos realizados sem nenhuma prova contundente, como o que levou à prisão do ex-presidente Lula.

Foram presos Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, Suelen Priscila de Oliveira, de 25 anos, Walter Delgati Neto, de 30 anos e Danilo Cristiano Marques, de 33 anos. Dentre estes suspeitos, Walter Delgati Neto, que atende pela alcunha de “vermelho” e é apresentado como uma “pessoa influente” em Araraquara, foi acusado de, pessoalmente, ter invadido o celular de Moro. Walter, filiado ao DEM desde 2007, possui antecedentes criminais, sendo que em 2015 foi alvo de mandado de busca e apreensão sob acusação de estupro de uma jovem de 17 anos, além de ter sido acusado de estelionato após pagar uma conta em um hotel.

O fato de Delgati possuir antecedentes criminais e de ser investigado anteriormente pela polícia possibilita pensar que ele nada mais é que uma isca utilizada por Sérgio Moro para se livrar das bombas soltadas pelo The Intercept. Após extensa pesquisa sob a vida pregressa de Delgati, que inclui denúncias anônimas de que ele afirma ser amigo de Gleen Grennwald e que, após um longo afastamento das redes sociais, teria voltado postando notícias “de esquerda”, apesar de ser filiado ao DEM, o colunista Cléber Lourenço, da revista Fórum, afirmou: “tenho fortes indícios para acreditar que esse rapaz já era investigado por crimes anteriores como os estelionato e violência doméstica, foi pego e preso, lá ofereceram a oportunidade de ser o cara que Moro precisava. A Polícia Federal, comandada por Moro, foi lá e executou a coisa toda”.

De fato, como tudo o que diz respeito à Lava jato, esta última farsa nem ao menos está sendo bem executada. O suposto “hacker” teria um velho computador, com IP identificável, que salvava todas as suas gravações na tela inicial, sem nenhum mecanismo virtual de proteção. Consta entre as acusações que ele estaria disposto a vender todas as informações adquiridas para a oposição ao governo Bolsonaro. Nem o pior de todos os “hackers” conseguiria ser tão incompetente.

 

Censura e perseguição

 

Sérgio Moro, porém, está apostando suas fichas nessa prisão. Pessoa cuja idoneidade foi atacada pelas revelações de suas conversas com Deltan Dalagnol no Intercept, o Ministro da Justiça tenta, com esta farsa, interferir junto à Justiça e à opinião pública para deslegitimaras acusações que está sofrendo.

Obviamente, Gleen Greenwald, jornalista co-fundador do Intercerpt, que assina as matérias de denúncia à Moro, já se ocupa em desmontar a farsa que está sendo criada em torno dos supostos hackers. Experiente em jornalismo investigativo, o The Intercept declara seu compromisso jornalístico de preservar suas fontes e explica que a tática de desviar o foco para a fonte da informação, criminalizando-a, já foi utilizada em outros momentos históricos em que autoridades políticas sofreram denúncias de impropriedades nas suas ações. Foi o que aconteceu com o ex-funcionário da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA), Edward Snowden, após as reportagens do próprio Greenwald, publicadas em 2013 e 2014, sobre o sistema secreto de espionagem na internet, por parte do governo dos EUA e seus aliados, que afetava populações inteiras. Snowden foi acusado de vários crimes, como espionagem e roubo e teve que fugir do país.

Ao que tudo indica, o circo está sendo montado para “livrar a cara” de Sérgio Moro e, principalmente, para potencializar a capacidade de censura e intimidação do governo federal contra a oposição. No dia 25 de julho, o gabinete do Ministro do Ministério da Justiça, publicou no Diário Oficial da União a portaria de nº666 que “dispõe sobre o impedimento de ingresso, a repatriação e a deportação sumária de pessoa perigosa ou que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal”. Na prática, Moro criou um dispositivo legal que lhe permitirá prender e expulsar Gleen Greenwald do Brasil, por ele, supostamente, ser um “risco ao país”, sem direito a nenhum julgamento.

Antevendo a impossibilidade de deportar Gleen por ele ser casado e ter filhos adotados no Brasil, o próprio presidente Jair Bolsonaro se envolveu no assunto pela primeira vez, e afirmou, durante evento na Vila Militar no Rio de Janeiro no dia 27 de julho: “quem não presta tem que mandar embora. Tem nada haver com o caso desse Gleen não sei o que, aí. Tem que ver como é o caso dele. Tanto que não se encaixa na portaria o crime que ele está cometendo [...] Até porque ele é casado com outro homem, e tem meninos adotados no Brasil. Tá certo? Malandro, malandro, pra evitar um problema desse, casa com outro malandro, ou não casa, e adota criança no Brasil. É um problema que nós temos... Ele não vai embora. O Gleen pode ficar tranquilo. Talvez ele pegue uma cana, aqui, no Brasil. Não vai pegar lá fora, não”.

Mesmo reconhecendo a impossibilidade de deportar Gleen, o chefe do poder executivo do País, ameaça um jornalista com prisão. Bolsonaro se aproveita de sua reconhecida homofobia para abordar o assunto de forma jocosa e desrespeitosa, a fim de agradar sua claque de fascistas e criar distracionismos diante do real teor de seu pronunciamento, que é o ataque à liberdade de imprensa. Isso tem sido usual em seus discursos. Em conjunto com a portaria 666, fica bem clara a forma de ação do poder executivo para com seus opositores. Forja casos, cria provas, finge evidências, deporta e prende. Se necessário, como mostrou o caso de Marielle Franco, mata. Estamos assistindo o aprofundamento do regime de exceção no Brasil. Mesmo os mais parcos direitos democráticos estão em cheque. É necessário organizar, imediatamente, a luta contra os mandos e desmandos de figuras como Sérgio Moro e Jair Bolsonaro.


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