• Entrar
logo

Trump e seu racismo sórdido

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais uma vez mostrou sua verdadeira face racista neste sábado, dia 27 de julho de 2019. Como sempre, falando inanidades e absurdos em sua conta do Twitter, ele soltou a seguinte frase: “Por que tanto dinheiro é enviado para o distrito do deputado Elijah Cummings, quando este é considerado o pior gerenciado e o mais perigoso para se viver nos Estado Unidos? Nenhum ser humano gostaria de viver lá.”, além da seguinte “o distrito de Cummings é uma bagunça repugnante, infestada de ratos.” A “coincidência curiosa “que Trump não menciona é que Cummings é negro e o seu distrito é um dos poucos dos EUA de maioria negra. Ou seja: o lugar que Trump crê ser “repugnante” é um lugar de população negra, historicamente segregada, humilhada e ignorada pelos governos americanos. O deputado Elijah Cummings, do partido Democrata (oposição ao partido do presidente Trump) é negro e um representante histórico das populações negras de seu distrito. Cummings recentemente havia condenado violentamente as políticas anti-imigração do presidente, que, para efeitos práticos, tratam-se de campos de concentração onde imigrantes que procuram uma vida melhor nos EUA (incluindo crianças!) são colocados sem julgamento, sem possibilidade de recurso legal e sem previsão de sair, com direito a torturas físicas e psicológicas pelos agentes carcerários.

Como esperado, uma imensa quantidade de respostas rebatendo o racismo desvelado do presidente imediatamente fora lançada em sua direção. O presidente, covarde e venal como é, se escondeu atrás de seus seguidores tão asquerosos quanto ele, que buscaram mostrar como de fato o distrito de Cummings, no estado de Maryland, é um lugar miserável e arrasado, um cenário de filme distópico. Trump, satisfeito com a defesa feita por seus idólatras, lançou, por fim, a seguinte mensagem “Se o racista [sic] Elijah Cummings focasse mais de sua energia em ajudar o bom povo de seu distrito e Baltimore ela mesma [a capital do estado de Maryland, onde fica o distrito de Cummings], talvez progresso fosse feito em concertar a bagunça que ele ajudou a criar em muitos anos de liderança incompetente”. Oras, a resposta de Trump se resume a chamar o deputado negro Cummings de racista, nada mais do que um infantil “não, quem é racista é você!”, como uma criança de dez anos costuma fazer.

O que Trump esconde propositalmente é o racismo crônico da sociedade estadunidense e que se, de fato, o distrito do deputado Cummings tem pobreza extrema, não é por uma suposta venalidade do deputado, mas precisamente porque a população negra nos EUA sempre foi marginalizada; não é somente uma suposta corrupção, mas precisamente o sentido daquela sociedade: impossibilitar, custe o que custar, uma melhora nas condições materiais e políticas da população negra. A primeira população que sofre com cortes do governo é a negra. As cidades que não recebem dinheiro do governo muitas vezes têm maioria negra. A polícia estadunidense notoriamente brutaliza e mata negros sem perguntar, muitas vezes mesmo sem crime, fato que já levou a sérios conflitos. O Sr. Cummings não é o responsável pelos problemas históricos que hoje estão representados na figura do presidente Trump, que brada seu racismo abertamente, com um certo orgulho perverso, típico dos defensores da supremacia branca nos EUA.

 

Reflexos de um sistema racista

 

A famosa Ku Klux Klan (KKK), a organização racista de encapuzados brancos, criada nos estados do Sul, após a abolição da escravatura, notoriamente linchava negros em praça pública por “crimes” que muitas vezes não passavam de olhar para uma mulher branca. Os linchamentos, por vezes,eram eventos nos quais a população racista e perversa levava a família para fazer um piquenique enquanto assistiam a um negro ser agredido, fuzilado e enforcado. Vale lembrar que a KKK ainda existe nos EUA, legalmente, e um de seus líderes, David Duke, regularmente entoa elogios e lambe as botas do presidente, agradecendo pelo seu racismo aberto. Tais atitudes dão margem, não só para a KKK, mas para grupos neonazistas e outros supremacistas raciais agirem publicamente contra negros e minorias

As lutas pelos direitos civis dos negros nos EUA, defendidas por figuras históricas como o reverendo Martin Luther King Jr. e Malcolm X, foram brutais e somente com muito custo foram conquistados direitos básicos como o voto e o uso dos mesmo ambientes que brancos, isto é, banheiros, restaurantes, ônibus, e demais serviços públicos e privados. Mas, a despeito das imensas conquistas de direitos, que hoje são garantidos pela ONU como direitos humanos, os negros ainda sofrem a exclusão e o racismo do sistema norte-americano. O exemplo mais patente disso tudo é população carcerária: segundo o think-tank Pew Research, ainda que negros sejam apenas 12% da população dos EUA, eles compõem mais de um terço (33%) da população das prisões. Considerando que os EUA têm a maior população carcerária do planeta (tanto relativo a população quanto em números absolutos), isso mostra como existe um sistema que segrega os negros, se não mais abertamente, agora escondidos em prisões, por crimes irrisórios ou muitas vezes nem cometidos. E, considerando que a constituição americana, na décima terceira amenda, diz que “nem escravidão nem servidão involuntária, exceto no caso de punição para um crime do qual o indivíduo seja devidamente condenado, existirá nos Estados Unidos”, temos aqui uma admissão aberta: de certa forma, a escravidão nunca foi abolida, apenas removida das plantações e introduzidas nas prisões, onde a população negra cotidianamente é reescravizada.

Por ser um sistema que divide a sociedade em classes onde uma (a burguesia) explora a outra (os trabalhadores), o capitalismo precisa segregar e oprimir uma parte grande da classe trabalhadora para enfraquecer sua resistência. Em sociedades cujo desenvolvimento econômico foi impulsionado pela escravização moderna de pessoas trazidas da África, em momentos de crise sistêmica como o atual, são sempre os primeiros a perderem os escassos direitos conquistados em anos de luta. Da mesma forma, o machismo como herança das sociedades patriarcais coloca as mulheres na linha de frente dos ataques contra seus direitos conquistados, o que é mais dramático no caso das mulheres negras.

Trump, nos EUA, sede do imperialismo atual, governa um país com a economia em frangalhos. Racismo, machismo e xenofobia são fórmulas clássicas do capitalismo para excluir parte da população para a qual já não existem empregos. Com o histórico de lutas e conquistas democráticas dos períodos anteriores, a promessa é de que os conflitos sociais se acirrem na terra do Tio Sam.


Topo