Espalhada pelos grandes centros urbanos já é rotineiro ver a juventude, com uma bicicleta alugada e um celular parcelado, pedalando e arriscando as suas vidas para se sustentar. Seu sonho por um futuro digno é incerto: a perspectiva de um bom trabalho ou de um diploma universitário, é esmagada pela situação presente da crise econômica. Resta a mentirosa “liberdade de escolha”, de uma economia em processo de “modernização”, que é vendida como novo Brasil, das amplas oportunidades, do “empreendedorismo individual”, dos aplicativos de serviço, telemarketing, do comércio autônomo de cosméticos e do mercado informal. Trata-se de uma suposta inovação do mercado de trabalho, que dá aos jovens a chance de sobreviver sob péssimas condições, trabalhando 12 horas, pedalando, sem nenhum direito garantido.
Não há espaço para o amanhã, sombrio e sem perspectivas, se a preocupação é manter-se vivo, ajudar a família, ou escapar de mais dívidas. É este o cenário para grande parte da juventude, principalmente para os mais de 80% de jovens fora das universidades, número exposto pelo Ministério da Educação em setembro de 2018, que desde cedo foram obrigados a vender sua força de trabalho e não tiveram a oportunidade de cursar o ensino superior.
No geral, de acordo com dados do IBGE, os jovens encaram um desemprego de 27% entre aqueles com até 24 anos. Se aumentarmos a amostra, os dados ficam ainda mais alarmantes: de cada 10 desempregados, cerca de 5,4 são jovens de 14 à 29 anos, ou seja, estatisticamente, mais da metade encaram as consequências de investidores e especuladores que sentem “desconfiança” com a economia brasileira.
Empresas que focam em vendedores autônomos e nos aplicativos de serviços, como o Ifood e a Uber, surfam nesta onda da flexibilização do trabalho decorrente da reforma trabalhista, imposta pelo imperialismo estadunidense e iniciada por Michel Temer. Constituem uma verdadeira vanguarda de uma tendência geral que transformou em realidade o sonho de muitos patrões ao redor do globo: esconder as relações de exploração (patrão-empregado) a ponto de ser uma gigantesca polêmica debatida por economistas, sociólogos, professores, pesquisadores etc.
O que ocorre, na verdade, é a legalização do emprego informal. Por exemplo, o motorista de Uber é um desempregado que se aproveita da falta de qualidade do transporte público para ganhar algum dinheiro. A tecnologia está à serviço do grande capital. Por isso cria o Uber, o Ifood, e outros aplicativos para aqueles cuja única perspectiva é a entrada no mercado informal. A ideia é manter essa população de trabalhadores informais economicamente ativa, sem passar fome e, por isso, grata à precarização das relações de trabalho. E também, com esse modelo o capitalista pode explorar a mão-de-obra à um preço cada vez mais barato, porque existe muita oferta de mão-de-obra ociosa.
Essa é a tendência da, como vem sendo chamada, uberização do trabalho. Precarizar os trabalhadores, cujo sujeitos centrais são os jovens, em sua maioria das classes oprimidas, que entram no mercado de trabalho precário com os seus “meios de produção” - bicicletas, motos e carros - para tentar sobreviver, trabalhando sem jornada fixa e sem nenhum direito garantido. O liberalismo conseguiu vender a farsa do “colaborador”, microempreendedor, que têm a “liberdade” de escolher o quanto trabalhar, enquanto os donos dos aplicativos ganham somas absurdas de lucro.
Este é o cenário para a juventude trabalhadora que encara o desemprego e o trabalho precário: a luta diária pela sobrevivência diante dos ataques liberais do século XXI, agora com um requinte de modernidade, perfumados pela dominação fantasmagórica dos algoritmos e fantasiados por relações de parceria e colaboração dignas da Idade Média: tudo em nome da máxima exploração.