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Aparato repressivo do Estado e o genocídio nas periferias

As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro mataram 434 pessoas de janeiro a março deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ). Foram quase cinco (4,82) mortos por dia, um recorde para o período histórico de 21 anos em que a estatística é feita. E, como sabemos, as mortes continuam neste trimestre.  A escalada do número de assassinatos teve início em 2018, com a intervenção militar na cidade, e perdura até hoje, com o aval do governador do estado, Wilson Witzel (PSC).

Comparado com o mesmo período do ano passado, o aumento foi de 18%, quando houve 368 mortos em confrontos com a polícia. “Agora, com a nova política de extermínio oficializada pelo governo Witzel, o que caberia esperar era justamente isso. O contrário seria uma grande surpresa”, declarou o sociólogo, coordenador do Laboratório de Análises da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV/UERJ), Ignacio Cano.


Continuação do massacre nas periferias

 

As ações violentas e truculentas do aparato repressor do Estado burguês promoveram a morte de seis jovens, num período de cinco dias, em várias comunidades do Rio. Os mortos são: Gabriel Pereira Alves, de 18 anos; Lucas Monteiro dos Santos Costa, 21 anos; Tiago Freitas, 21 anos; Dyogo Costa Xavier de Brito, 16 anos; Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, 19 anos e Margareth Teixeira, 17 anos. De acordo com parentes, nenhum dos jovens era envolvido com o tráfico nas comunidades, apesar de a PM ter afirmado em notas individuais que alguns destes jovens eram suspeitos e que encontraram armas e drogas com os corpos.

Gabriel Pereira Alves, estudante e jogador de futsal da base do clube Olaria, foi o primeiro jovem morto nos confrontos, atingido por um tiro no peito, em um ponto de ônibus na Tijuca, zona norte do Rio. Populares relataram uma operação da PM na região, porém, a Secretaria de Estado da Polícia Militar nega, informando que uma das bases da Unidade de Polícia Pacificadora (UPPs) do Borel foi atacada por criminosos, mas que os policiais não revidaram ao ataque.

Já Henrico de Jesus havia saído para checar o conserto de sua moto, quando foi atingido por uma “bala perdida”. A polícia afirmou que Henrico portava drogas, estava armado e tinha envolvimento com o tráfico, o que foi desmentido pelos familiares e pelo supermercado onde trabalhava como repositor. O mercado também afirmou que ele estava matriculado em uma escola municipal no centro do município e em um curso do Senac, em Niterói, região metropolitana do Rio.

Também foi morto a tiros o jovem Dyogo Coutinho. A PM fazia operação na região das comunidades do Viradouro, Grota e Igrejinha e, de acordo com a Corporação, suspeitos atiraram contra os policiais dando início ao confronto. Dyogo era jogador da categoria de base do América, em Niterói. Amigos, parentes e moradores afirmaram que ele estava indo treinar quando foi baleado. O caso de Dyogo se tornou ainda mais emblemático por uma nota lançada pela PM, afirmando que o jovem era envolvido com o tráfico. Contudo, momentos depois, a Polícia teve que voltar atrás, afirmando que a morte seria fruto de uma bala perdida.

O caso mais recente foi o da jovem Margareth Teixeira, de 17 anos, baleada na zona oeste do Rio, em Bangu. Margareth foi atingida por um tiro no peito enquanto carregava o filho de um ano e nove meses no colo, que ficou ferido no pé. De acordo com a Polícia, o corpo foi achado após troca de tiros com suspeitos, que também foram baleados e mortos.

Para o aparelho repressor do Estado, todas essas mortes são apenas “efeitos colaterais” e “acasos” de uma guerra necessária contra o tráfico de drogas. Porém, a verdadeira política imposta por essa organização é a de extermínio da população pobre, preta e periférica, independentemente de onde ela se encontre.

 

Militarização das periferias e genocídio do povo periférico

 

A campanha de segurança das comunidades através das UPPs ampliou o extermínio ao povo preto, pobre e periférico. A “limpeza” promovida não só falhou em retirar o tráfico de drogas das comunidades, como abriu portas para as milícias.

Além disso, denúncias de busca e apreensão no interior das residências sem mandado judicial, a imposição de toque de recolher, a necessidade de autorização dos policiais para a realização de eventos em área pública, a proibição de bailes funks, as revistas vexatórias de pessoas sem indicação de delito, as denúncias de abusos da PM, a tortura e o desaparecimento de pessoas são exemplos comuns e graves, evidenciados por moradores das comunidades, sobre a atuação das UPP’s. Casos de crimes como o de Cláudia Silva Ferreira, que teve o corpo arrastado por um carro da PM, no Morro da Congonha; do pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha, que desapareceu depois de ser levado por policiais para a sede da UPP no morro e do dançarino Douglas Rafael da Silva (DG), encontrado morto no Morro do Pavão-Pavãozinho, em condições não esclarecidas, são crimes que alertam sobre a conduta fascista da Polícia, que tem como modus operandi o extermínio da população periférica.

O racismo institucional do aparato repressor do Estado se mostra cada vez mais para a sociedade. O genocídio do povo negro ocorre diariamente nas favelas e periferias, assassinando homens e mulheres jovens, taxados de criminosos pelo simples fato de serem pretos e pobres. O termo “bandido” se aplica apenas a essa parcela da população, nunca aos bandidos de “colarinho branco”, ou àqueles que possuem envolvimento comprovado em esquemas de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, esquemas de milícias ou outros crimes passíveis de punição. Os crimes da casta de parasitas burgueses são blindados pelos aparatos repressivos, construídos para lhes proteger, enquanto a população fica a mercê das matanças. Afinal, a mesma justiça que se cala diante desses crimes é a que condena e encarcera aqueles que já são marginalizados pela sociedade e caçados pela Polícia.

A população das comunidades e favelas não deve ser refém do medo imposto pela Polícia. Os movimentos sociais e o Movimento Negro devem fazer a denúncia exaustiva dos ataques sofridos nas periferias, entendendo que o problema do genocídio da juventude negra não passa somente por uma questão de raça, mas também pela questão material da opressão. Somente com a união dos trabalhadores que moram nestes locais poderemos realizar a luta necessária para acabar com a estrutura racista brasileira.


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