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“Marighella”: filme de guerrilheiro negro é censurado pelo governo

O longa-metragem inspirado na vida do guerrilheiro Marighella, dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge, teve sua estreia cancelada no Brasil. “Marighella” sofreu pressões dentro da Agência Nacional do Cinema (ANCINE) num momento em que o governo entreguista de Jair Bolsonaro tenta não só censurar e controlar o audiovisual brasileiro, com críticas explícitas às produções culturais que o desagradem , como também retirar verbas destinadas à área, cogitando até mesmo o fim da Agência.

O filme foi exibido no Festival de Berlim, em fevereiro deste ano, sob aclamação da crítica e do público. Com cerca de 2h40 de duração, o longa foi inspirado pela obra “Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo”, de Mário Magalhães. O livro conta a história do militante durante os últimos cinco anos de sua vida, do início da Ditadura Militar, em 1964, até o seu assassinato, promovido pelo aparelho repressor do Estado, em 1969.

Autor do livro que deu origem ao filme, Mário Magalhães, em entrevista ao site Fórum, afirmou: “Nos tempos da Ditadura parida, em 1964, da qual Jair Bolsonaro tem tanta saudade, as artes e a cultura também foram alvejadas. Para censurar, não é preciso declarar de modo escancarado, à maneira do prefeito Marcelo Crivella, na Bienal do Livro do Rio. É possível asfixiar financeiramente o cinema e o audiovisual. Na forma, alegam-se pormenores burocráticos. O conteúdo, seletivo, é de censura da arte”.

Carlos Marighella nasceu na Bahia em uma família humilde, filho de um emigrante italiano e de uma negra, filha de ex-escravos. Foi militante político, deputado federal, escritor e cofundador da Ação Libertadora Nacional, organização de caráter revolucionário que, juntamente com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), foi responsável pelo sequestro do embaixador norte-americano, Charles Elbrick. Marighella foi preso várias vezes e torturado, sendo executado durante uma emboscada.

A censura promovida pelo atual governo, saudosista do período da Ditadura, não é diferente daquela que foi vivida nos anos de chumbo no Brasil. A obra “Marighella” não é apenas um filme, mas uma afronta à elite, pois mostra o grito de luta e a resistência de um negro pobre, militante comunista e guerrilheiro, que lutou pela liberdade contra um regime autoritário de extrema-direita e foi morto por isso.


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