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Trump passa a perna em Bolsonaro em relação à OCDE

O governo dos Estados Unidos havia prometido a Jair Bolsonaro, em ocasião da visita que o governo brasileiro fez à Casa Branca, em março deste ano, que garantiria esforços para o Brasil fazer parte da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). A promessa não se concretizou e Bolsonaro foi, novamente, motivo de "chacota" internacional. O presidente estadunidense, Donald Trump, não indicou a entrada do Brasil, propondo apenas convidar Argentina e Romênia. O fato veio a público, no último dia 10 de outubro, após o jornal Bloomberg News divulgar uma cópia da carta de Michael Pompeo, secretário de Estado dos EUA, ao secretário geral da OCDE, José Ángel Gurría, na qual deixava clara a posição dos EUA em desfavor do governo brasileiro.  

A carta, divulgada na íntegra pelo site Brasil 247, dizia: “Caro senhor secretário-geral. O Presidente Trump e eu recebemos as suas cartas de julho a respeito da expansão da OCDE. Lamento que elas não representem com precisão a posição dos EUA. Propomos convidar apenas a Argentina e a Romênia. Os Estados Unidos continuam a preferir expansão em ritmo cadenciado, que leve em conta a necessidade de pressão por reformas de governança e planejamento sucessório. A proposta dos EUA permite expansão sem que se desvie destas prioridades. Vamos continuar encorajando outros membros da OCDE a adotá-la. Sinceramente, Michael R. Pompeo”.

Após a divulgação da carta pelo Bloomberg News, Trump tentou negar a veracidade do documento oficial do secretário de Estado dos Estados Unidos ao secretário geral da OCDE, afirmando, em suas redes sociais, que “o comunicado conjunto divulgado com o presidente Bolsonaro em março deixa absolutamente claro que apoio o Brasil no início do processo de adesão plena a membro da OCDE. Esta reportagem é fake news”. O cinismo sem limites é modus operandi da burguesia, por isso não é de se espantar a tentativa de desmentir um documento oficial por meio de mensagens nas redes sociais.

 

O que é a OCDE?

 

Em 1948, três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, foi criada a Organização para a Cooperação Econômica Europeia (OECE). O discurso era para não se cometer o mesmo erro do fim da Primeira Guerra Mundial, em que as pesadas imposições políticas e econômicas contra os países derrotados foram alguns dos motivos para o início da Segunda Guerra. Assim, a proposta seria a cooperação para a reconstrução dos países envolvidos diretamente e que sofreram bombardeios nos combates da 2ª Guerra Mundial, sendo o principal financiador da Organização era os Estados Unidos.

O verdadeiro motivo, no entanto, era o receio, por parte do grande capital, que a situação de penúria pós-guerra na Europa Ocidental levasse à explosão de revoluções de caráter socialista, a exemplo da Rússia, em 1917. Em 30 de setembro de 1961, com a entrada formal do Canadá e dos Estados Unidos, a OECE se tornou OCDE.
Não por acaso, a Organização é conhecida como “Clube dos Ricos”. Atualmente, os países participantes da OCDE são: Austrália, Áustria, Alemanha, Bélgica, Canada, Chile, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Israel, Irlanda, Itália, Japão, Letônia, Luxemburgo, Noruega, Nova Zelândia, México, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unidos, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia.

Os países membros possuem elevado índice de desenvolvimento humano são responsáveis por cerca de 80% do comércio e investimentos mundiais. A OCDE é uma das práticas mais clara e visível do imperialismo, onde países do primeiro mundo se unem para decidir o que fazer com países menos desenvolvidos, no sentido econômico capitalista.
Um exemplo de como a OCDE atua em relação aos interesses do grande capital é a aplicação, em âmbito global, do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Em teoria, a ideia é avaliar sistemas educacionais de países-membros e parceiros da OCDE, através da realização de exames nas áreas de ciência, leitura e matemática. No Brasil, o exame é realizado desde 2000. Em sua última aplicação, em 2018, os resultados brasileiros foram negativos: dentre os 70 países avaliados, o Brasil ficou em 59º em leitura, 63º em ciências e 65º em matemática. A grande "solução" apresentada à época pelos aplicadores foi a privatização do ensino básico brasileiro. A educação, junto à saúde, é um dos poucos setores de prestação de serviços no Brasil que ainda não está completamente entregue à iniciativa privada. A privatização da educação brasileira é de forte interesse de grandes conglomerados educacionais internacionais, que querem transformar este importante direito em mais uma forma de se extrair lucro.

 

O real objetivo de Bolsonaro na OCDE

 

Sendo, portanto, um mecanismo imperialista de exploração do terceiro mundo e da classe trabalhadora, fica a pergunta: por que Bolsonaro fez tanto esforço e ganhou uma vaga promessa de Donald Trump de fazer parte, em algum momento, da OCDE? Pelo mesmo motivo que o presidente está vendendo todas as riquezas naturais, privatizando importantes estatais a preços de banana, implantando a retirada de todos os direitos trabalhistas, inclusive o básico direito a se aposentar. Ou seja, continua com a política entreguista que o presidente tem adotado.

Bolsonaro não é patriota. Não tem nenhum interesse de posicionar o Brasil em um melhor local na divisão internacional do trabalho. Na verdade, o presidente brasileiro não passa de uma marionete nas mãos do grande capital. Sua política levará a um aprofundamento, nunca antes visto, das relações neocoloniais do Brasil com o grande capital.

Em seu sentido dialético, ao mesmo tempo, Trump se sente completamente confortável em deixar Bolsonaro esperando. Para o imperialismo, a situação no Brasil está completamente “dominada”. Dentre os subalternos, Bolsonaro se destaca em sua posição especialmente receptiva aos mandos e desmandos vindos dos Estados Unidos. Quando vier (se vier) a entrada na OCDE, grande desejo de Bolsonaro, será mais uma maneira do grande capital em ampliar o controle da economia brasileira.


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