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Eles são o futuro do Brasil

A capa do “Caderno 360 graus”, do Jornal Correio Braziliense, divulgada no último dia das crianças, publicou a matéria com o título: “Eles são o futuro do Brasil”. Tratou-se de uma montagem com 27 crianças brancas inseridas em um plano de fundo com a forma do Mickey Mouse, personagem de desenho estadunidense. Tal artigo é uma demonstração do racismo estrutural, uma vez que, apesar de o Brasil ser um país composto em sua maioria por pessoas negras, as crianças negras foram excluídas da publicação, passando a ideia de que apenas os brancos são “o futuro do País”.

Publicações como esta, altamente excludentes, trazem à tona outra grande preocupação: a vulnerabilidade social, o racismo estrutural e a negligência do Estado, que serve apenas aos interesses dos mais ricos, são fatores fundamentais que dificultam a permanência destas crianças nas escolas. Em outras palavras: como as crianças negras vão se sentir pertencentes à sociedade diante dessa onda de colonização moderna, impulsionada pela postura entreguista e subserviente do governo Bolsonaro ao imperialismo, e incentivada pela imprensa burguesa?

 

Escola não é lugar para negros

 

Em 2018 , a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que 3,9% das pessoas de cor branca com idade de 15 anos ou mais eram analfabetas, enquanto que entre as pessoas de cor preta ou parda, na mesma faixa etária, o percentual alcançava 9,1%. Ou seja, o analfabetismo mais que dobra entre a população negra jovem, uma evidencia da exclusão dos negros do direito à educação.

Também não podemos deixar de falar do distanciamento educacional dos temas relacionados à cultura ancestral africana. Os boicotes para a aplicação da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, é mais um dos métodos que a direita utiliza para ocultar a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira.

É um grande desafio para a juventude negra se manter nas fileiras educacionais em uma sociedade que não assume sua identidade. O Estado, por pressão dos interesses capitalistas, patrocina cada vez mais o distanciamento desta formação histórica, enquanto que a imprensa burguesa, agora de forma ainda mais explícita, cumpre com o papel de propagandear tal política.

O genocídio da população negra vem avançando a cada dia no seio da sociedade brasileira, conforme demonstrado pelos dados do Atlas da Violência, pesquisa divulgada em junho pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Não é de se espantar que num País em que se mata, em média, 23 mil jovens negros por ano, essa mesma população seja excluída das escolas. O racismo estrutural, causado pela herança escravista colonial, está presente em todos os espaços. Trata-se de uma política institucional, que tem por objetivo manter uma importante parcela da população escravizada, subjugada aos interesses do grande capital. A população negra, por representar a esmagadora maioria da classe operária no Brasil, está na linha de frente destes ataques.

Neste sentido, a discussão que deve ser levada adiante não é meramente de inclusão das crianças negras em peças publicitárias. Apesar da representatividade ser algo importante, a sua simples aplicação, sem a retirada da base da opressão, não resolve o problema. De fato, deve ser garantido às crianças negras, pobres e marginalizadas a entrada e permanência nas escolas. Mais que isso, é necessária a elevação da consciência para preparar o enfrentamento contra os que querem submeter o Brasil à total subserviência e precarização.


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