• Entrar
logo

Mais crise, mais desgaste

O desgaste das políticas neoliberais, de terra arrasada, já é uma realidade em âmbito global. No Brasil, tal convulsão se configura no que a imprensa tem chamado de “crise do PSL”. No último dia 8 de outubro, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi gravado afirmando a um apoiador para "esquecer o PSL". Em contrapartida, o atual líder do partido na Câmara, deputado Waldir, declarou que iria “implodir” Bolsonaro, assegurando o óbvio: que o presidente tenta comprar parlamentares com cargos. Os embates não pararam por ai: a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) foi retirada do posto de líder do governo no Congresso pelo presidente. Desde então, ela tem protagonizado troca de ameaças via redes sociais com o filho de Bolsonaro, Eduardo, chegando a afirmar que não tinha medo de milícia.

Em meio à crise política do PSL, o governo passa por mais um escândalo ambiental. Depois de ser execrado na mídia mundial pelos incêndios na Amazônia, Bolsonaro, agora, está tendo que lidar com uma “borra” de petróleo que invadiu dois mil quilômetros da costa brasileira. Manchas de petróleo já atingiram 187 pontos da costa. Embora o presidente tenha acusado publicamente a Venezuela, foram encontrados tambores de petróleo, produzidos e comercializados pelo grupo Shell. Graças aos códigos dos tambores, a Empresa identificou que se trata de produtos produzidos na Europa e no Oriente Médio.

Fato é que o governo vem se desgastando cada vez mais. Além dos fatos novos, temos o desemprego em alta e milhões de trabalhadores sendo obrigados a entrar no mercado informal para garantir minimamente a sobrevivência. O governo se debateu para aprovar e se debate para por em prática uma série de medidas impopulares, como a aprovação da Reforma da Previdência e o aprofundamento da Reforma Trabalhista. Em breve, essas medidas, em conjunto com o desemprego e crise econômica, gerarão um nível gigantesco de insatisfação social.

A ala militar do governo tenta se dissociar do clã, provavelmente já avaliando que o desgaste do presidente e seus filhos é inevitável.  O líder do PSL no Senado, Major Olímpio, entrou em embate direto com Carlos Bolsonaro nas redes sociais. Após críticas feitas pelo senador, Carlos o chamou de "bobo da corte". Este, por sua vez, retrucou chamando o filho do presidente de “moleque”, comparando-o a um "príncipe que faz o que quer". 

O vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão, pouco tem aparecido. Suas últimas aparições públicas foram para receber uma medalha de mérito no Rio Grande do Sul e como representante do governo brasileiro na canonização de Irmã Dulce, no Vaticano. A tática é tentar manter sua imagem intacta em caso de um eventual levante que derrube Bolsonaro.

 

Crise no seio do imperialismo 

 

No último dia 24 de setembro, foi dado início ao processo de impeachment do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. O impeachment nos EUA, caso venha a se concretizar, não seria uma mudança tão impressionante quanto se espera. Isso porque não existe oposição séria nos Estados Unidos. A política oficial se resume ao Partido Democrata, que varia de centro-esquerda ao centro-direita, e ao Partido Republicano, que varia de centro-direita ao fascismo aberto. Somente esses dois partidos teriam condições de eleger presidentes e têm recursos suficientes para eleger uma bancada forte no Congresso estadunidense (os deputados) ou no Senado. Qualquer "resistência" que parta dos Democratas tem apenas um objetivo: colocar um Democrata no poder. E um democrata no poder é mais do mesmo, basta lembrar que o governo Obama foi o que mais jogou bombas no Oriente Médio.

É importante, ainda, lembrar que as ameaças de impeachment de Trump têm funcionado para desviar a atenção de questões importantes que colocam o governo em xeque.

A desigualdade social nos EUA é a maior da história e as promessas de geração de emprego e proteção da economia nacional de Trump não se concretizam  devido à crise sem precedentes do capitalismo. Na verdade, a fragilidade de Trump está exatamente pelo fato de ser um governo de crise. Se ele for afastado por impeachment, seu vice, Mike Pence, subiria ao poder. Pence é um fascista de vertente evangélica radical e apoiador da aplicação de medidas antipopulares.

Tal qual seu comparte brasileiro, Trump tomou medida que o fez ser criticado em toda a imprensa mundial e até mesmo por seus aliados: retirou o apoio militar aos curdos na fronteira entre Turquia e Síria. O apoio se dava pelo fato dos curdos, uma minoria étnica, combaterem ativamente o Estado Islâmico (EI). Agora, sem o apoio militar, o que está se desenhando para os curdos é o genocídio. Serão atacados pela Turquia, por um lado, e pelo EI, por outro.

Sintoma do refluxo da direita pelo mundo foram as eleições em Portugal. O Partido Socialista, de centro-esquerda, se reelegeu com tranquilidade, agora com o primeiro ministro Antônio Costa. O bloco de esquerda conseguirá governar com maioria absoluta. O Partido Comunista conseguiu dez assentos no parlamento.

 

Rebelião popular na América Latina

 

Palco de golpes de Estado, eleições direcionadas e ascensão da extrema-direita, a América Latina agora já se encontra sofrendo os efeitos de governos autoritários, que aplicam as políticas neoliberais de “terra arrasada”.

No Peru estamos vendo o embate direto entre a extrema-direita autoritária e a direita dita liberal, que está no poder. Para tentar governar, Martín Vizcarra, presidente do país, utilizou uma manobra parlamentar e fechou o Congresso, convocando nova eleição parlamentar. Na Argentina, Macri está perdido. Protestos diários, em meio a uma inflação gigantesca, acabam por impedir qualquer chance de sua reeleição, abrindo espaço para a volta da frente popular.

No Equador, a população foi às ruas contra as traições cometidas pelo governo de Lenin Moreno. Mesmo tendo se elegido com base na política de centro-esquerda de seu antecessor, Rafael Correa, Moreno indicou um projeto de privatizações e de reformas neoliberais no País. A gota d'água foi o aumento de 100% no preço da gasolina. A população sitiou Quito, fazendo com que a capital fosse transferida para Guayaquil. Moreno recuou e revogou o aumento do combustível.

No Chile, as políticas neoliberais de terra arrasada também geraram o crescimento da mobilização e da contestação popular. Em protestos que se arrastam desde o dia 17 de outubro, a população está indo diariamente às ruas contra o governo de Sebástian Piñera. Vale lembrar que o Chile foi o principal laboratório do neoliberalismo na América Latina durante a ditadura de Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990. Desde então, já não há sistemas públicos de saúde, educação e previdenciários. 

A gota d’água para as manifestações foi o aumento nas passagens de metrô, anunciados pelo governo. Mesmo com Piñera já havendo revogado a lei que aumentava a passagem, os protestos continuam acontecendo, demonstrando que a insatisfação popular não era contra essa medida em específico, mas contra a própria lógica neoliberal. A repressão está sendo terrível. Desde o último dia 19/10, o governo declarou estado de emergência e colocou o Exército nas ruas para reprimir a população. O saldo, até então, é de 18 pessoas mortas. Ainda assim, a população não “arreda o pé” das ruas, demonstrando a capacidade e vontade da mobilização popular contra as políticas neoliberais.

Nessa situação, resta saber o que fará o imperialismo estadunidense para tentar controlar o continente que considera “seu quintal”. A chance da imposição de um governo “mão de ferro” no Brasil existe, já que o País é o mais importante da América do Sul. Assim, resta à classe trabalhadora brasileira iniciar a resistência, a exemplo de seus irmãos sul-americanos. Só assim derrotaremos a crise que assola o Brasil.
 


Topo