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PSL e bolsonarismo: crise de uma fraude eleitoral

Nas últimas semanas, os holofotes da política nacional se voltaram para a crise entre o presidente Jair Bolsonaro e seus correligionários do PSL (Partido Social Liberal). No inı́cio de outubro, Bolsonaro se reuniu com seus advogados e com um grupo de parlamentares do PSL, que defendem o racha na sigla, para discutir uma estratégia de desfiliação do presidente e dos parlamentares sem que o partido possa reivindicar os mandatos dos deputados. A crise se acirrou quando Bolsonaro atuou pessoalmente para retirar o atual lı́der da bancada, Delegado Waldir (PSL-GO), e emplacar no lugar o filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) . Os pedidos do presidente a deputados para que assinassem um documento de apoio a Eduardo foram gravados e divulgados por “bivaristas” (apoiadores do presidente do partido).

O pivô da crise foi a divulgação de um video em que o presidente fala a um apoiador, pré-candidato a vereador pelo partido em Recife, para "esquecer o PSL"; que Luciano Bivar, fundador e principal dirigente do PSL, estava "queimado". Um dia após o ocorrido, a deputada federal (aliada do presidente), Alê Silva (PSL-MG), chegou a fazer um discurso no plenário da Câmara, durante a sessão da Comissão de Tributação e Finanças (CFT), afirmando que o PSL é um partido que “só quer dinheiro e que se dane o povo brasileiro. Só quer dinheiro. Partido pequeno, nanico (...)”. Na verdade, governo e “bivaristas” disputam o controle do PSL, partido que recebeu o maior número de votos para a Câmara no ano passado. Só neste ano, a legenda deve receber R$ 150 milhões do Fundo Partidário, o maior valor entre as 32 siglas do País.

De acordo com a legislação, o partido pode exigir o mandato dos deputados “desertores” em função da lei da fidelidade partidária, consequência que não existe no caso do presidente, a menos que se consiga provar uma justa causa. Segundo Admar Gonzaga, um dos advogados de Bolsonaro, a Lei prevê a "justa causa" para a desfiliação, sendo ofensas, falta de transparência e impedimento de atuação parlamentar algumas das razões que poderiam justificar o movimento que está sendo planejado pelos parlamentares alinhados com Bolsonaro. Ou seja, um partido alimentado artificialmente para que a burguesia tivesse uma alternativa à direita nas eleições diante da completa desmoralização dos seus partidos tradicionais se desmancha em menos de um ano, buscando como justficativa a hipócrita argumentação utilizada durante toda a campanha eleitoral: o combate à corrupção.

A hipocrisia é tão escancarada que uma das advogadas do presidente chegou a afirmar que o partido "macula" sua imagem e dos parlamentares, sendo que toda a sociedade sabe que, tanto os parlamentares de ocasião, quanto os ligados ao núcleo duro do governo, inclusive os filhos do presidente, são alvos de denúncias por todo o tipo de improbidades com dinheiro público, além de envolvimento com milícias e crime organizado. Antes mesmo de assumir a Presidência, a família Bolsonaro foi envolvida em escândalos de corrupção, quando Flavio Bolsonaro foi flagrado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividade Financeira) em movimentação financeira suspeita, envolvendo Fabrı́cio José de Queiroz, seu ex-motorista e segurança. Uma das primeiras medidas do presidente foi transferir o Coaf para o Ministério da Justiça, sob a responsabilidade do juiz Sérgio Moro, e demitir o então presidente do Conselho.

Um governo de crise

Bolsonaro e um time de oportunistas eleitorais ingressaram no PSL, até então uma legenda insignificante, nas vésperas das eleições de 2018, aproveitando-se da forte campanha midiática contra os partidos tradicionais e contra o que chamaram de “velha polıt́ica”. O partido virou abrigo para a mais tosca e violenta expressão da extrema-direita nacional, mas, por ser também expressão da crise sem precedentes das instituições burguesas, fruto da crise econômica, vêsuas contradições se acirrarem conforme aumenta a insatisfação popular com o governo.

Para a classe trabalhadora é importante entender que a eleição de Bolsonaro foi uma fraude polıt́ica organizada pelo imperialismo, viabilizada por meio do golpe que derrubou a presidenta eleita, em 2016, e prendeu o ex-presidente Lula, candidato preferido do povo nas eleições de 2018. Por se tratar de um golpe, Bolsonaro nunca teve o apoio massivo da população. Vale lembrar que 89.507.308 brasileiros, ou seja, aproximadamente 60,76% do eleitorado, não votaram nele. Já o crescimento do PSL no parlamento deve ser avaliado através dos mecanismos viciados da democracia burguesa.

 

A solução para a crise deve ser dada pela esquerda

 

A repercussão da crise entre Jair Bolsonaro e a cúpula do PSL teve efeito desastroso para o governo, que perde fortes aliados no Congresso. Deputados do partido ligados ao presidente da sigla, Luciano Bivar (PE), prometem atuar de forma independente, enfraquecendo a base de apoio do governo na Câmara. Além disso, ex-aliados importantes partiram para o ataque, como é o caso de Joice Hasselmann (PSL-SP), destituıd́a do posto de lıd́er de governo no Congresso por não endossar uma lista contra Waldir, e o próprio Waldir. Ambos, agora, encampam campanha ferrenha contra Bolsonaro.

Porém, a briga entre o governo e seus correligionários, encenada em torno da hipócrita campanha contra a corrupção, não tem nada a ver com os interesses do povo. Em meio a maior crise polıt́ica enfrentada por Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi eleito pela revista britânica Global Capital como o “melhor ministro de finanças do mundo em 2019”, por propor uma guinada liberal na polıt́ica econômica e dar encaminhamento às reformas estruturantes. Mas a revista pondera que o contexto polıt́ico polarizado, estimulado pelo presidente Jair Bolsonaro, leva a incertezas sobre o processo de ajuste das contas públicas. Ou seja, enquanto o PSL e o governo disputam espaço para as próximas eleições, o mercado  inanceiro se mostra preocupado com o cumprimento dos planos de ajustes fiscal. Qualquer solução dada pela direita para essa crise terá como objetivo principal aprofundar os planos de desmonte da economia nacional, destruição dos direitos dos trabalhadores, fim dos serviços públicos e entrega das riquezas naturais e das empresas estatais ao capitalismo estrangeiro.

As crises do governo Bolsonaro devem ser encaradas como oportunidades para a classe trabalhadora organizar a luta contra as polı́ticas neoliberais impostas pelo imperialismo. Não é possıv́el alimentar a crença nas instituições burguesas e esperar por novas eleições, uma vez que toda a podridão do sistema está voltada contra o povo. E preciso barrar, urgentemente, o avanço da extrema-direita fascista, representada por Bolsonaro, e toda a agenda neoliberal do grande capital contra os trabalhadores, através dos métodos da luta de classes.


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