Apesar de ser a maioria, somando 54% da população brasileira, os negros seguem sendo excluídos e marginalizados em todos os aspectos. Este fato e´ fácil de perceber ate´ em campanhas publicitárias, onde os negros são excluídos ou, quando aparecem, são sempre colocados em segundo plano, materializando a ideologia racista que coloca que o lugar do negro não e´ o de protagonismo, mas o de servidão. De acordo com o estudo TODXS, uma analise de representatividade na publicidade brasileira, feito pela agência publicitária Heads, em parceria com a ONU Mulheres, a publicidade brasileira reforça estereótipos e continua a não representar a real diversidade da sociedade.
Essa exposição discriminatória e´ muito forte especialmente no âmbito feminino. Mulheres negras como domésticas ou mães solo, e homens negros como seguranças, motoristas e trabalhadores braçais são apenas alguns dos estereótipos reforçados pelas propagandas, que têm sido alvo de forte pressão por parte dos movimentos sociais organizados. No caso dos negros, a desconstrução dessa imagem se da´ num conceito de afirmação das pautas do movimento negro e, também, do “empoderamento” do povo negro.
Essa pressão foi responsável, por exemplo, por obrigar o Ministério Público do Trabalho (MPT) a lançar uma campanha visando a` inclusão de mais profissionais negros no setor. O resultado foi que o MPT firmou um pacto com as 15 maiores agências de propaganda do País, que deverão realizar um censo com recorte de raça/cor e gênero de forma global e com indicadores de cargos de gerência e diretoria entre os funcionários para possibilitar a criação de um observatório permanente.
Os casos de perseguição, censura e racismo se aprofundam com o atual governo, um “menino de recado” dos interesses do grande capital internacional. Os ataques e a repressão ao povo negro, a` cultura e a diversidade se acirram. Temos, como exemplo, o caso do comercial do Banco do Brasil, que celebrava a diversidade, e foi vetado pelo governo, que também demitiu o diretor de propaganda do banco estatal.
Devemos refletir, porém, sobre qual o tipo de “empoderamento” esta´ sendo exibido a` população negra. Não por acaso, os negros ocupam maioria entre os mais pobres. Em 2017, 10% dos negros encontravam-se em situações de extrema pobreza ou de pobreza, enquanto o mesmo índice para pessoas brancas era de 2%. Os negros recebem os piores salários no mercado, além de ocuparem apenas 10% dos cargos de chefia. Como se vê, a opressão do povo negro e´ algo material e deve ser combatido nestes termos e não somente do ponto de vista dos “costumes”. A tomada do poder pela população negra não se restringe a` pauta identita´ria, passa pelo combate a` raiz do racismo estrutural da sociedade: o capitalismo.
A representatividade e´ uma conquista importante, assim como a desconstrução dos estereótipos nocivos, mas não e´ um “fim em si mesma”. O conceito do empoderamento burguês, atrelado a` ascensão social do negro, não condiz com a realidade dos negros pobres e periféricos, que são marginalizados e assassinados pelo Estado. O real empoderamento do povo negro só será possível com a tomada do poder político e econômico das mãos da burguesia, que vê toda a classe trabalhadora apenas como mercadorias.