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Dados: o novo petróleo do imperialismo

A rede social Facebook, uma das mais acessadas ao redor do globo, protagonizou, em seus 15 anos de existência, diversos escândalos pelo mau uso dos dados de seus usuários. Em abril deste ano, a empresa de segurança virtual UpGuard denunciou um vazamento que expôs as senhas de 22 mil contas, além de detalhes de movimentação de mais de 540 milhões de usuários. Os dados foram localizados nos servidores de Nuvem da Amazon e incluíam comentários, curtidas, interações, imagens e outros dados da rede social.

Não foi a primeira vez que um vazamento de dados dos usuários do Facebook aconteceu. No ano passado, vários dados de usuários brasileiros, ingleses e norte-americanos foram vazados para a empresa Cambridge Analytica, impactando diretamente nas eleições de Donald Trump nos EUA, e de Jair Bolsonaro, no Brasil, além da votação do BREXIT, no Reino Unido. A Cambridge Analytica, através dos dados pessoais dos usuários, traçou perfis psicológicos e de acesso, utilizando-se dessas informações para enviar mensagens focalizadas, contendo notícias falsas, as fake news, para pessoas que poderiam ser mais influenciadas por esse tipo de conteúdo.

O whatsapp foi comprado pelo facebook, em 2014, e desde então uma série de polêmicas também atingiram o aplicativo de mensagens. Recentemente, o gerente de políticas públicas e eleições globais do Whatapp, Ben Supple, durante uma palestra no festival Gabo, admitiu, pela primeira vez, que a eleição de 2018, no Brasil, teve envios maciços de mensagens, com sistemas automatizados contratados por grandes empresas. “Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedoras de envios maciços de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”, disse Ben.

Estas empresas utilizam modos fraudulentos, com CPFs de idosos, para realizarem os cadastros dos números, possibilitando o uso destes números para o envio das mensagens. Os dados compartilhados através dos servidores do Whatsapp chegam rapidamente em milhões de pessoas e se espalham na mesma velocidade, tornando difícil conter a propagação de notícias falsas. Estes dados também foram utilizados pela empresa Cambridge Analytica para manipular as eleições a favor do candidato entreguista e capacho do imperialismo, Jair Bolsonaro.

 

Facebook sabia da Cambridge Analytica desde 2015

 

"Suspeitamos que muitas dessas companhias estão fazendo tipos similares de coleta, sendo a maior e mais agressiva entre os conservadores a Cambridge Analytica, uma companhia suspeita (para dizer o mínimo) de modelagem de dados que entrou profundamente em nosso mercado", dizia um email de um funcionário. Este e outros documentos apresentados pelo Facebook e pelo Procurador-geral do Distrito de Columbia, nos Estados Unidos, mostram que o Facebook tinha conhecimento da atuação da Cambridge Analytica, desde setembro de 2015. A informação contraria o que Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, vem sustentando durante toda a apuração do caso. Em abril de 2018, quando foi sabatinado pelo Congresso americano durante 10 horas, Zuckerberg afirmou que ele e sua companhia ficaram sabendo do uso de dados pela Cambridge Analytica em dezembro de 2015. A versão vem sendo repetida pela empresa desde então.

O fato é que o Facebook tem um arsenal de informações à disposição do mercado, das eleições e de todo o tipo de golpistas e que, inevitavelmente, irá lucrar com isso. A Empresa pode, por exemplo, oferecer recursos preciosos para governos de extrema-direita realizarem o controle social que desejam. O rastreio através de fotos e localização do Sistema de Posicionamento Global (o GPS – Global Positioning System) ajuda a saber não só onde a pessoa se encontra, mas também a frequência com que sai de casa, locais favoritos, trajetos, etc.

 

Roubo de dados a favor do imperialismo

 

Não parece ser coincidência que os dados vazados do Facebook estivessem nos servidores da Amazon. A Empresa vem expandindo seu mercado tecnológico e seus servidores de nuvem, ampliando seu tráfico e concorrendo com grandes nomes, como a Google.

O questionamento que nos vem é: por que e com qual finalidade estes dados, que envolviam números de telefone e detalhes da vida cotidiana de 540 milhões de pessoas, seriam utilizados? A resposta está na sanha por lucros do sistema capitalista. Os grandes monopólios privados, sempre interessados em vender mais para um número cada vez maior de pessoas, teriam grandes lucros com a utilização destes dados e a crise mundial do capitalismo força o uso de táticas espúrias para conseguir seus objetivos,  buscando, cada vez mais, brechas para invadir e persuadir consumidores.

 

Dados públicos nas mãos de grupos privados?

 

Hoje, os dados pessoais localizados em servidores são como ouro, pois todas as movimentações virtuais são gravadas digitalmente nesses servidores. Não somente acessos às redes sociais ou mensagens de texto e voz, como também contas e dados bancários, informações pessoais e privadas, locais visitados, fotos etc. No Brasil, todas essas informações passam por servidores e são captadas e processadas por empresas de Tecnologia da Informação, como o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) e a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (DATAPREV).

O SERPRO e a DATAPREV são empresas estatais de importância vital para o funcionamento do País, e de excelência nos serviços que prestam. Em seus servidores concentram-se os dados de todo o funcionalismo público brasileiro: de processos judiciais a nome dos servidores públicos de todos os estados da Federação. O governo entreguista de Bolsonaro, sob a égide liberal e privatista do ministro da economia Paulo Guedes, vê na privatização de ambas as empresas a oportunidade perfeita de entregar, de uma só vez, os dados de milhões de brasileiros e de todo o funcionalismo público para o imperialismo. Uma empresa privada que se torne proprietária do SERPRO e da DATAPREV teria o poder de manipular bases de dados relacionadas a todas as atividades do País e poderia controlar e ou interferir em questões estratégicas. Além disso, a privatização abrirá caminho para que informações passem a ser comercializadas sem autorização dos cidadãos cadastrados nesses bancos de dados.
O caso da empresa de Mark Zuckerberg deve servir de alerta sobre o poder de manipulação que a capacidade de prever nossas ações – e nossa fidelidade – pode dar a um grupo privado. É sabido que, nas eleições americanas de 2016, a equipe de campanha digital de Donald Trump usou as ferramentas de direcionamento do Facebook com resultados impressionantes. A empresa nunca ocultou sua colaboração com campanhas políticas da direita pelo mundo e se diz capaz de influenciar a taxa de comparecimento às urnas. Em um dos vários escândalos que colocaram em xeque a confiabilidade do Facebook, a empresa afirmou que a colaboração com o Partido Nacional Escocês teria favorecido sua vitória esmagadora.

Defender a soberania nacional frente aos ataques predatórios de uma casta de parasitas internacionais que desejam retirar todos os recursos do País, deixando a população sobrevivendo de migalhas, passa pela proteção e manutenção destas empresas como estatais. Empresas que não visam lucro, mas a prestação de um serviço de qualidade e excelência para a população. A classe trabalhadora deve lutar para defender as estatais, que são mais que empresas, são patrimônios nacionais.


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