No dia 08 de novembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi libertado de sua prisão política, em que era mantido há mais de um ano. O motivo para a prisão era evidente: Lula era o candidato favorito do povo e todas as pesquisas eleitorais o colocavam como líder das intenções de voto. Sua prisão foi um golpe promovido pela extrema-direita, com auxílio do Supremo Tribunal Federal, orquestrado pelos ditames imperialistas no Brasil.
Diante destes fatos, a questão que fica em evidência é: qual seria a motivação para a libertação de Lula, uma vez que sua soltura não foi resultado direto da pressão popular. As direções petistas, em âmbito político, sindical e popular, de fato não levaram adiante uma política de massas que fizesse a palavra de ordem “Lula Livre” desencadear o medo das elites políticas e econômicas ao ponto de libertarem um preso político.
Algumas possibilidades são apontadas. A primeira é que a libertação do ex-presidente seja uma tomada de posição calculada em função da desagregação da base política de Jair Bolsonaro. Essa desagregação, inclusive, alcançou seu ponto máximo no último dia 12 de novembro, quando Bolsonaro anunciou sua desfiliação do PSL e a criação de um novo partido, chamado de Aliança Pelo Brasil. A crise no PSL se tornou pública após o “vazamento” de uma fala do presidente a um apoiador, ainda em outubro, em que afirmava que era necessário esquecer o partido, acrescentando que seu líder, Luciano Bivar, estaria “queimado pra caramba”. A partir daí se acirrou as disputas entre o grupo ligado à Bolsonaro e um grupo ligado a Bivar.
Outra possibilidade seria um acordo, por cima, das direções partidárias com setores da burguesia nacional, garantindo a política de “troca de favores”, onde a mobilização contra o governo e todas as suas medidas antipovo fosse mais arrefecida do que já está. Por fim, como se pôde observar nas últimas semanas pelas movimentações e mobilizações populares na América Latina, a libertação de Lula pode ser parte de um mecanismo da burguesia para tentar conter a inevitável reação do povo à política de “terra arrasada” imposta pelo neoliberalismo. Tal política retira direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora, promove a entrega de todas as estatais e riquezas naturais aos monopólios e, consequentemente, aprofunda os laços neocoloniais no Terceiro Mundo em relação ao imperialismo. Neste sentido, Lula poderia cumprir novamente com o papel de liderança que levaria a cabo uma política de conciliação de classes, auxiliando, com pequenas concessões à classe trabalhadora, na contenção de um processo mais radical por parte do proletariado brasileiro.
Europa
Em um dos centros do imperialismo, a Europa, um importante fato político tornou mais complexa a correlação de forças. As eleições legislativas na Espanha levaram à vitória do partido socialdemocrata - PSOE, que ficou com 120 assentos. O conservador Partido Popular ficou com 88 assentos e a extrema-direita, representada pelo VOX, ficou com 52 cadeiras. A quarta força, também de esquerda, chamada de Esquerda Unida, ficou com 35 assentos. Ou seja, nem o centro-esquerda nem a direita espanhola conseguirá maioria parlamentar. O PSOE, que lidera o governo, se encontra num impasse. O centro-esquerda precisa angariar 176 votos das 350 cadeiras para conseguir maioria e governar com maior “tranquilidade”.
O líder do PSOE, Pedro Sánchez, garantiu que haverá “um governo progressista”. Para isso, deverá buscar, novamente, o apoio dos partidos nacionalistas catalães. Ou, ainda, deverá contar com a abstenção do Partido Popular, em uma aposta no cansaço da população com o impasse político no País. Fato é que a situação na Espanha escancara as falácias da democracia liberal, mostrando que não há possibilidade de um governo progressista existir sem cair nas armadilhas da famigerada “governabilidade”.
No Reino Unido, se aproxima a eleição geral, que será realizada no próximo dia 12 de dezembro. O Partido Conservador, do Primeiro-Ministro Boris Johnson, está liderando as pesquisas com 42% das intenções de voto. Os trabalhistas têm 28%; os liberais-democratas, pró-União Europeia, têm 15% e o Partido do Brexit possuí 4%.
O mais notável dessas eleições é que o Partido Conservador, quando sob a liderança de Theresa May, que abriu mão do cargo em 23 de julho deste ano, tentou por inúmeras vezes aprovar em plebiscito (ou por meios parlamentares) a saída do Reino Unido da União Europeia. Boris Johnson, que assumiu o cargo em seguida, já está mudando de posição, afirmando que não conseguirá promover essa medida. Se colocar contra a participação do bloco econômico e apostar no nacionalismo tem se tornado a marca registrada da extrema-direita na Europa. A mudança de posição do Partido Conservador configura-se como um indicativo de enfraquecimento do posicionamento político da extrema-direita.
Crise na América Latina
No último dia 10 de novembro, a Bolívia sofreu um golpe de Estado. Após intensa pressão desses setores, como o Exército, controlado por Williams Kaliman, e do fundamentalista religioso neopentecostal, Luís Fernando Camacho, o presidente democraticamente eleito, Evo Morales, foi forçado a renunciar ao cargo. Com a vida em risco (a casa de parentes foi queimada, uma prefeita da base aliada foi arrastada pelas ruas e teve seus cabelos cortados, diversos casos de tortura, violência etc.), Evo conseguiu asilo político no México, no último dia 12 de novembro.
O Golpe contra Morales faz parte da política que o imperialismo estadunidense vem adotando na América Latina para tirar os governos de “frente popular” e colocar o continente cada vez mais sob o seu controle. “Curiosamente”, o golpe na Bolívia ocorre logo após o ascenso das massas no Equador e no Chile, ocorridos nos meses de outubro e novembro deste ano, contra os ataques de governos fantoches colocados para fazer valer os interesses imperialistas nestes países. No Chile, inclusive, as manifestações continuam ocorrendo. No último dia 12 de novembro, os protestos entraram em sua quarta semana, mesmo com os recuos de Sebastian Piñera em relação ao aumento no preço das passagens de metrô, estopim da mobilização popular. No mesmo dia, houve Greve Geral, a maior em décadas, com reivindicações exigindo direitos básicos, como educação, saúde e aposentadoria. Já foram registradas ao menos 20 mortes desde o início das manifestações e a economia chilena sofre os efeitos das paralisações.
O caso da Bolívia também se concretizou após a eleição da coalizão de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, na Argentina, e da soltura de Lula de sua prisão política, no caso brasileiro. Além disso, tivemos o fechamento do Congresso peruano, após embates entre fujimoristas de extrema-direita, pró-imperialistas, e aliados do atual presidente Martín Vizacarra, de centro-direita, que, por pressão da população nas ruas, foram obrigados a se posicionar contra o imperialismo.
Na atual correlação de forças da luta de classes na América Latina, o golpe na Bolívia é uma tentativa do imperialismo de causar um impacto de reacionarismo no continente. Em momentos de agudização de luta de classes, o imperialismo “mexe” seus peões na tentativa de manter suas taxas de lucro a partir da exploração do resto do mundo. É necessário, em contrapartida, aprofundar a mobilização popular no sentido da tomada do poder. Só assim os trabalhadores alcançarão sua soberania real.