A Secretaria de Cultura, órgão submetido ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, nomeou, no mês da Consciência Negra, o jornalista Sérgio Nascimento Camargo para chefiar a Fundação Palmares. Fundada a partir da Lei nº 7.668, de 22 de agosto de 1988, a Instituição tem como um de seus objetivos “promover e apoiar a integração, social, econômica e política dos afrodescendentes no contexto social do país”. Ocorre que o novo presidente da Fundação Palmares é o típico “capitão do mato”, um homem negro que prega, entre outras coisas, que a escravidão foi “benéfica para os descendentes”, conforme uma postagem feita no último dia 27 de agosto em sua rede social.
Camargo defende a tese de que não há racismo no Brasil. Isto mesmo em se tratando de um País que, segundo o último Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), registrou que dos 65.602 assassinatos computados em 2017, cerca de 49.505 são de pessoas negras, o que representa 75,4% do total de homicídios.
A pregação de ódio à esquerda, sempre com um vocabulário raso e utilizando-se de palavrões e insultos aos negros, políticos, artistas, , gays e mulheres que se alinham a algum tipo de pauta progressista é regra nas postagens feitas pelo novo presidente da Fundação em suas redes sociais. Trata-se do mesmo padrão assumido pelo governo Bolsonaro, o que mostra seu completo alinhamento com a política fascista defendida pelo representante da extrema-direita.
Sérgio Nascimento de Camargo foi escolhido para assumir a pasta basicamente por dois motivos: 1) fortalecer a pauta do governo federal, que se baseia em discurso de ódio contra minorias, e por em prática todos os ataques contra o povo negro; 2) promover a desmoralização das pautas negras e intensificar o discurso racista, usando um negro como instrumento para tal, pois é justamente na base do ódio de classes, raça e gênero que assenta o governo Bolsonaro. Durante o fechamento deste jornal, o juiz Emanuel Guerra, da 18ª Vara Federal do Ceará, suspendeu a nomeação de Sérgio para a Fundação, alegando que houve “excessos” nas declarações de Camargo em redes sociais. Guerra fez um resumo das declarações – que, para ele, contém termos “em frontal ataque as minorias cuja defesa, diga-se, é razão de existir da instituição que por ele é presidida”.
A nomeação do jornalista foi mais uma tentativa governista de tocar a sua pauta de destruição da ancestralidade, cultura, costumes e história da população negra, submetendo um dos principais órgãos, constituído teoricamente para incentivar a proteção e preservação da identidade do povo brasileiro, ao ódio patrocinado pelo imperialismo.
Por trás de um discurso totalmente alienado, sem nenhum argumento lógico, o dirigente da Fundação Palmares busca promover a política de perseguição que é perpetrada por Bolsonaro e sua trupe. Isso mostra que a discursão de raça, gênero, sexualidade etc., que venha desprovida de um debate de classes não interessa aos oprimidos. Ter um negro assumindo uma pasta como esta não muda absolutamente nada a situação do povo negro se a política adotada for a da burguesia. Ou seja, o debate identitário isolado do debate de classes não ataca a raiz do problema.
O imperialismo sabe que um dos caminhos para impedir o alcance da consciência de classe pelos trabalhadores é a divisão, enquanto que atacar as bases das pautas da parte mais oprimida da população é um meio para conseguir aumentar a exploração e, consequentemente, o embrutecimento da classe trabalhadora. Não por acaso, o mesmo movimento é feito contra as mulheres, através da ministra Damares Alves; com os trabalhadores do campo, por meio da nomeação de Tereza Cristina, mais conhecida como a “musa do veneno” para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
A manobra da direita consiste em fazer um trabalho para justificar uma pretensa representatividade, de indivíduos de raça ou gênero oprimido, quando, na verdade, o que se pretende é atacar as pautas e bandeiras destes setores. Em outras palavras, a ordem é cooptar oprimidos e transformá-los em opressores para desmoralizar os grupos que lutam por justiça social para sua ancestralidade, cultura e forma de ser. Assim, o que está em jogo é evitar a libertação da classe trabalhadora através da consciência de classe, raça e gênero, elementos que são constitutivos da opressão do capitalismo.