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Eleições na Argélia

No último dia 12 de dezembro foram realizadas as eleições para o cargo de presidente da Argélia. O pleito ocorre após  um ano de 2019  repleto de instabilidade política no país. Em fevereiro de 2019, Abdelaziz Bouteflika anunciou que  concorreria ao seu quinto mandato presidencial, tendo governado a Argélia continuamente desde 1999. Na história recente,  isso fez dele o chefe de Estado a governar o país por mais tempo. A população e as forças armadas, porém, não aceitaram a possibilidade de Bouteflika continuar no poder e fizeram forte pressão para sua renúncia. No dia 2 de abril, devido ao ultimato dado pelo alto-comando do exército, o então presidente renunciou e a Argélia encontra-se em um governo interino desde então.

Nos meses seguintes, o grupo “Hirak” organizou protestos semanais contra Bouteflika e o governo interino. Este grupo entende que as eleições na Argélia são uma farsa, apenas uma continuidade do governo anterior. As manifestações cresceram em número com a crise econômica e a instabilidade política advinda de memórias da Guerra Civil (1991-2002). Desde então, a polícia e o exército têm atuado para reprimir violentamente os protestos organizados pelos argelinos ligados ao Hirak. Em entrevista veiculada no jornal Globo, Djamel Faradji, desempregado de 27 anos, afirmou: "Sou argelino e não vou votar contra meu país".

Isso ocorre porque no pleito atual, os cinco candidatos ao cargo, entretanto, são antigos membros do governo de Bouteflika, o que fez com que os grupos de oposição à esquerda, principalmente o meio sindical argelino, os chamassem de “filhos do sistema”, acusando as eleições de serem uma farsa para manterem o antigo governo no poder. Protestos ocorreram por todo o país, clamando ao povo que não fosse votar. Vários postos eleitorais foram fechados, outros permaneceram vazios o dia todo e os 40% da população que escolheram votar foram vaiados pelos manifestantes. A polícia reprimiu as manifestações com gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Abdelmadjid Tebboune, ex-Primeiro Ministro de Bouteflika, foi eleito com 58,15% dos votos.  O novo presidente enfrentará uma economia degradada, devido à queda da receita de petróleo, ocasionada pela guerra comercial entre Estados Unidos e China e que vem ditando as relações econômicas mundiais. Ademais, o mesmo deverá lidar com o aumento dos protestos realizados pelo Hirak, em um governo que já não tem legitimidade devido ao baixo número de votos obtido pela população.

A situação na Argélia é um desdobramento dos conflitos intra-imperialistas. Enquanto os Estados Unidos tenta ampliar sua dominação na América Latina, através da imposição de governos fantoches e a China vai expandido seu mercado  a outros países do mundo, a União Europeia tenta manter algum grau de controle econômico na África. Por isso a imposição de um governo que seja nada mais que uma continuidade de Bouteflika, que foi um homem da União Europeia no comando da Argélia. Resta saber qual vai ser a reação dos setores organizados da população argelina. As manifestações durante o próprio dia das eleições dão um indicativo que não há interesse em retroceder e permitir que a Argélia seja apenas mais uma neocolônia no Terceiro Mundo.

 


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