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Preparar a nova revoada dos Galinhas Verdes

Na semana do Natal, um vídeo que circulou nas redes sociais esquentou a polêmica em torno do especial de Natal do grupo humorístico Porta dos Fundos, cujo conteúdo é disponível na plataforma de streaming para os assinantes da Netflix e no Youtube. No vídeo, um grupo de supostos integralistas reivindicaram a autoria do ataque com coquetéis molotov à sede da produtora do Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, inclusive com imagens das explosões.

O programa, lançado em 3 de dezembro, havia se tornado alvo de ataques da direita, com várias tentativas de censura. A Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, por exemplo, moveu um pedido de liminar para retirar o programa do ar. A promotora Barbara Spier enviou um despacho para a 16ª Vara Cível do Rio em que defendeu a censura da produção, mas o pedido foi negado por decisão judicial que não enxergou violação à liberdade de crença e incitação ao ódio na produção artística.

 

Caminho aberto para o fascismo

 

Após as tentativas frustradas de censura ao filme, a extrema-direita usou do seu recurso tradicional para calar a livre expressão: a violência. O ataque com coquetéis molotov foi um exemplo claro de como a intolerância religiosa servirá de instrumento para tentar calar o pensamento divergente e a esquerda em geral e, assim, salvaguardar, sem críticas, os projetos da política antipovo que está no poder.  

O grupo que assumiu o atentado à produtora se autodenomina “Comando Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira” e, no vídeo, seus membros aparecem encapuzados enquanto leem um manifesto e exibem imagens do ataque.

Mais importante do que comprovar a autoria do ataque é o fato de um grupo de extrema-direita se sentir confortável em exibir sua intenção de intimidar os opositores pela violência porque sabe que tem, para isso, apoio dos que estão no governo do País. Por outro lado, a maior parte da esquerda se mantém apegada às instituições democráticas burguesas e a um suposto pacto de convivência pacífica jamais respeitado pelo Estado capitalista.

 

Integralistas versus antifascistas

 

Na década de 1930 o fascismo era crescente no Brasil e no mundo. Em um momento muito semelhante com o atual, de intensa crise do capitalismo, a Ação Integralista comandada por Plínio Salgado foi criada com o objetivo inicial de combater os sindicatos e as organizações de esquerda. Por usarem uniformes militares verde-oliva ficaram conhecidos como “galinhas verdes”. Em 1932 Plínio Salgado fundou a Sociedade de Estudos Políticos que disseminava a ideologia inspirada no fascismo e em todo tipo de orientação reacionária para combater a crescente politização da classe operária sob influência dos comunistas e anarquistas.

Com resposta ao crescimento do fascismo, partidos e correntes de esquerda, com destaque para os trotskystas, em 1933, se unificaram em torno da FUA, Frente Única Antifascista, que agregou várias organizações operárias entre anarquistas, socialistas e sindicatos. A partir daí os enfrentamentos entre a FUA e a Ação Integralista foram constantes, com a polícia de Getúlio Vargas sempre atuando contra os antifascistas.  

 

A fuga dos galinhas verdes

 

Para demonstrar sua força, contando com reforços vindos do Rio de Janeiro, os integralistas paulistas convocaram, no dia 7 de outubro de 1934, uma manifestação na Praça da Sé. Mais de 8 mil efetivos, inclusive grupos armados, marcharam pelas ruas da capital paulista entoando seus hinos fascistas. Porém, os membros da FUA estavam organizados ao redor, preparados para dissolver, através do enfrentamento direto, a manifestação dos “galinhas-verdes”. A praça da Sé tornou-se um campo de batalha cujo resultado foi a debandada vexatória dos integralistas, que abandonaram nas ruas seus uniformes verdes para não serem reconhecidos na fuga. A batalha ficou conhecida como “a revoada dos Galinhas Verdes” e a derrota debilitou a Ação Integralista que, após o episódio desapareceu da cena política nacional.

 

A necessária unidade antifascista

 

O episódio da Batalha da Sé comprovou a importância da unificação das esquerdas e da ação direta como resposta às tentativas dos fascistas de se imporem pela força.

No Brasil atual, os partidos e grupos de esquerda ainda não iniciaram sequer um debate real sobre como se dará a unidade antifascista. Enquanto as liberdades democráticas são atacadas e os grupos violentos de extrema direita se fortalecem, a esquerda pequeno-burguesa procura manter entre os trabalhadores a crença em uma suposta normalidade democrática que barraria o avanço da extrema direita nas próximas eleições. As palavras “frente” e “unidade” têm sido proferidas em nome, somente, de alianças eleitoreiras e a luta antifascista não saiu do discurso.

Quando a esquerda se unifica para alimentar a fé das massas nas instituições burguesas, acaba por camuflar a disputa entre os princípios que cada agrupamento defende para ganhar a confiança da classe trabalhadora. Para os grupos revolucionários o princípio fundamental é a necessidade de lutar pelo poder, assim como faz a direita.  

Na obra “Aonde vai a França”, publicada em 1934, Leon Trotsky, ao responder à questão por quais meios se luta pelo poder, afirma: “Por todos os meios que conduzam a esse objetivo. A Frente Única não renuncia à luta parlamentar. Mas utiliza o Parlamento antes de tudo para demonstrar a impotência deste e explicar ao povo que o governo burguês atual tem uma base extraparlamentar e que não se pode derrotá-lo a não ser com um poderoso movimento de massas.”

O fascismo é o recurso utilizado pela direita para amedrontar e calar, através da violência, os trabalhadores que se levantam contra a destruição de seus direitos. Para derrotá-lo será preciso formar uma verdadeira Frente Única que tire as massas da passividade. Para isso, o primeiro passo é abandonar a subserviência ao reformismo  dos grupos pequeno-burgueses que poderá jogar a inevitável revolta popular nos braços de  grupos de desagregação política, a exemplo do que tem ocorrido nas “revoluções coloridas” por todo o mundo.


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