No dia 09 de março, uma nova crise econômica em escala mundial quebrou as bolsas pelo mundo. O motivo inicial foi a queda em 30% do petróleo do tipo Brent na abertura dos mercados asiáticos. Segundos após o início do expediente, o preço do barril foi de US$ 45 para US$ 31,52. O motivo desta queda substancial foi a ruptura do acordo em manter os preços do petróleo estáveis entre Rússia e Arábia Saudita, em que os sauditas chegaram a oferecer descontos de 20% no preço do petróleo bruto em determinados mercados.
O desacordo tem fundo político. A Arábia Saudita, líder não declarada da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), é hoje o maior exportador de petróleo do mundo, com capacidade de produzir diariamente 12 milhões de barris. Isso dá uma margem ao país para aumentar ou diminuir a produção com maior facilidade que seus concorrentes. Depois de outra crise de baixas no preço do petróleo entre 2014 e 2016, os países membros da OPEP e outros grandes produtores do combustível, como a Rússia, que ficou conhecida como OPEP+, selaram um acordo de reduzir a produção de modo a permitir a recuperação dos preços.
A estratégia vinha funcionando até a sexta-feira. Houve uma proposta de um novo corte, de 1,5 milhões de barris diários, dos quais 500 mil seriam sacrificados pelos países que não fossem da OPEP, como a Rússia, em virtude das tensões que rodeiam o mercado com a expansão do novo corona vírus. Porém, o governo russo rechaçou tal proposta, pois ansiava primeiro, ver os efeitos reais da pandemia no mercado, além de que a análise russa inferiu que reduzir a produção beneficiaria apenas o mercado dos Estados Unidos, que, com a redução de 2016, tornou-se o principal produtor de petróleo do mundo. Como um dos postos avançados dos Estados Unidos no Oriente Médio, a Arábia Saudita, com sua invejável capacidade produtiva do combustível, aumentou a produção de petróleo, o que reduziu drasticamente seu preço.
Esta crise demonstra o processo de mundialização econômica do capitalismo imperialista, que transformou todo o planeta em interdependente dos ditames econômicos do centro do capital. Mostra disso é que quem arcará com perdas econômicas sensíveis é a própria Aramco, empresa petrolífera saudita, cujas ações caíram em 9% ainda no último dia 9. A bolsa da Arábia Saudita apresentou recuo de 8%. Isso para proteger os Estados Unidos da jogada russa.
Todo o mundo sofreu as consequências. Houve circuit’s breakers em diferentes bolsas de valores, como a de São Paulo e de Nova York. Em tradução livre, a expressão significa quebrador de circuito, e o objetivo é paralisar os pregões das bolsas de valores quando há uma queda brusca dos índices econômicos demonstra o grau de especulação financeira em que nos encontramos no século XXI. Apenas pelo pânico de ações político-econômicas em uma região do mundo, o risco de quebra do capitalismo em âmbito global é real e generalizado.
Países cujas economias dependem basicamente do petróleo estão na linha de frente da crise. A Venezuela, por exemplo, que já arca com o caos econômico gerado pelas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e cujo produto interno bruto é dependente em elevado grau dos preços do petróleo no mercado mundial, irá sofrer uma crise econômica ainda maior, o que deverá acontecer também com outros países com economia semelhante, como Irã, Angola, Nigéria, México, Noruega e Brasil.
Efeitos no Brasil
O Brasil, imerso numa crise econômica avassaladora devido às medidas entreguistas da equipe econômica de Jair Bolsonaro, capitaneada por Paulo Guedes, vem sofrendo as consequências da queda do preço do petróleo. No dia 09, a bolsa de São Paulo teve sua pior queda no século XXI, caindo 12,7%. No dia 10, houve recuperação em 7%, mas no dia 11 houve nova queda de 10%. A Petrobrás perdeu R$ 91 bilhões em valor de mercado apenas no dia 9.
Paulo Guedes, em coletiva de imprensa, afirmou que sua equipe é serena e experiente e que está tranquila. Aproveitou o momento para defender sua política de ataques aos trabalhadores dizendo que ainda que não é hora de ninguém “pedir aumentos, pedir facilidades. Ao contrário, perguntar o que cada um pode fazer pelo seu país”. Suas palavras podem ser facilmente medidas como a de alguém que busca tempo e está em uma situação delicada. Sobre as recorrentes altas do dólar, que já está no maior patamar da história do Brasil, o entreguista afirmou que é típico de momentos de incertezas econômicas. Vale lembrar que desde o início do governo Bolsonaro o dólar só registrou aumentos.
Como solução mágica para os problemas, Guedes, novamente, vem apresentando e defendendo reformas de austeridade. Disse à imprensa que “a melhor resposta à crise são as reformas. Vamos mandar a reforma administrativa, o pacto federativo já está lá, vamos mandar a reforma tributária e seguir o nosso trabalho”. Os trabalhadores já entenderam que as “respostas para a crise” desse governo significam proteger os interesses imperialistas das grandes corporações. As reformas trabalhistas e da previdência foram apresentadas como salvação da política brasileira e, mas não deram sinais de qualquer melhora na economia, muito pelo contrário, a crise se aprofundou e o número de desempregados e trabalhadores informais só aumenta. A reforma administrativa servirá para tirar as obrigações da União com os estados, enquanto destrói mais direitos dos trabalhadores, e a tributária para taxar os mais pobres.
O capitalismo passa por uma crise global desde 2008, sem demonstrar sinais de recuperação. Por isso, governos como Bolsonaro, que só servem para aumentar os laços neocoloniais do imperialismo com o terceiro mundo, tirar os direitos trabalhistas e seguirem adiante com políticas privatistas e entreguistas, foram impostos nos últimos quatro anos em vários países de economia dependente Com o aprofundamento da crise global, sem nenhuma previsão de recuperação, a tendência é que estes governos endureçam ainda mais suas medidas entreguistas e anti-povo, ou que sejam trocados por regimes de terror aberto, que simplesmente irão impor estas mudanças, controlando com violência a revolta dos trabalhadores.
Nesse sentido, só uma reação organizada, forte e incisiva da classe trabalhadora, com greves, ocupações de local de trabalho e paralisação darão resposta à ganância dos grandes capitalistas. O momento é de por fim à paralisia histórica dos movimentos sindicais e sociais e lutar não pela substituição de um governo burguês por outro, mas pela tomada de poder pela maioria, que levará ao fim do capitalismo e de seus ciclos de crise.