A atual pandemia do corona vírus, que assola todas as nações do mundo, põe à luz, mais uma vez, a crueldade, a ganância, o egoísmo, a mesquinharia e outros diversos males inerentes ao sistema capitalista.
Aproveitando-se da rápida disseminação do Covid-19, um vírus que já infectou mais 200 mil pessoas e provocou mais de 8000 mortes pelo mundo afora e com números ainda crescentes (dados aferidos pela Universidade Johns Hopkins), o capitalismo reforça seus velhos e batidos argumentos da Lei do Livre Mercado e da Oferta e Procura para justificar os aumentos ilegais e abusivos de insumos essenciais para prevenir e minimizar o avanço dessa perigosa pandemia.
A chegada do corona vírus ao Brasil e a expectativa de que a Covid-19 alcance o pico de casos no país até o final do mês, tem pressionado para cima o preço de itens de higiene, saúde e produtos hospitalares devido ao aumento da procura por artigos como álcool em gel e máscaras de proteção.
Preços fora da realidade
Segundo pesquisas que comparam preços em sites brasileiros, um frasco de álcool em gel de marca popular subiu de R$ 16,06 em 27 de fevereiro para R$ 41,99 em 4 de março deste ano. Um aumento de 161% em menos de uma semana. O abuso dos preços também afetou os hospitais e as clínicas do país, grandes consumidoras desse tipo de produto. Pesquisas recentes também averiguaram que o preço das máscaras cirúrgicas subiu 569% desde o início do surto.
Os defensores do Livre Mercado alegam que o aumento exponencial da procura por esses produtos gera um aumento da demanda pela matéria-prima necessária para produzi-los. Isso pressiona ainda mais o preço para maior, desde o começo da cadeia produtiva até o ponto de venda final. Também argumentam que esse desequilíbrio diminui a margem de lucro dos empresários e quando isso acontece, eles simplesmente optam por não produzir e não vender aquele item que dá pouco lucro, o que agrava ainda mais a situação de desabastecimento.
O livre mercado não se preocupa com os problemas da população, principalmente a mais pobre, e muito menos garante o bem-estar e a segurança sanitária da sociedade como um todo. Muito pelo contrário, os representantes do capital privado, no egoísmo e ganância que lhes é peculiar, se aproveitam de toda e qualquer situação, até mesmo de uma mortal epidemia de proporções globais, para garantir uma bela e injusta margem de lucro.
Então, o que fazer?
Diante dos avassaladores efeitos da pandemia, até a imprensa burguesa, porta-voz dos interesses mercadológicos tem defendido como proposta de ação a ser tomada pelas autoridades brasileiras, visando minimizar uma crise de abastecimento desses produtos fundamentais para a prevenção e combate aos Covid-19, a adoção de três medidas básicas: regulação dos preços, controle da quantidade de itens que cada cidadão poderá adquirir e investimento na oferta pública de bens e serviços essenciais de saúde. Porém, tais medidas estão longe de representar a necessária eficácia no combate à epidemia. O ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou, no último dia 16, um plano pífio do governo Bolsonaro para o combate à pandemia que inclui algumas isenções tributárias para a importação de equipamentos hospitalares, mas nada de injeção de verbas no SUS (Sistema Único de Saúde) que possa garantir a ampliação de leitos ou o aumento da capacidade hospitalar, por exemplo.
Um bom exemplo sobre a importância do poder público para garantir a oferta de saúde pública como política de bem estar social é o acesso aos testes para diagnosticar o Corona vírus. Se determinadas comunidades (as mais pobres, em piores condições sociais, principalmente) não tiverem acesso ao teste, teremos problemas em diagnosticar a doença e a epidemia vai se espalhar ainda mais. Na contramão do que a maioria dos governantes de países afetados pela pandemia está dizendo, Paulo Guedes, ao afirmar que pretende transformar a crise em reformas, apresenta o desmonte do setor público como medida para mitigar os impactos da proliferação do Covid-19 no Brasil.
A figura caricata de Jair Bolsonaro desprezando o risco social da pandemia é um sinal claro de que o governo brasileiro pretende deixar a responsabilidade da prevenção e do combate ao Covid-19 nas mãos dos cidadãos, bombardeados diuturnamente com mensagens confusas, e muitas vezes falaciosas sobre as rotinas para evitar e minimizar o avanço da doença. Os trabalhadores devem exigir a ampliação dos investimentos na saúde pública, gratuita e de qualidade, obrigação e prioridade a ser cumprida pelo Estado. Chegou o momento de se lutar veementemente contra os abusos do capitalismo que, diante de sua mais severa crise, não respeita nada nem ninguém e se aproveita de uma pandemia mortal, principalmente para trabalhadores, idosos e crianças das populações menos favorecidas para tentar garantir suas taxas de lucros.