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Bolsonaro ameaça o povo brasileiro

Na noite da última terça feira (24), o presidente Jair Bolsonaro convocou as redes nacionais de TV e Rádio para um pronunciamento oficial, relacionado ao Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. O presidente, mais uma vez, tentou minimizar a pandemia, reafirmando que era apenas uma “gripezinha” ou “resfriadinho”. Pior: pediu para que prefeitos e governadores abandonem a política de “terra arrasada” e “liberem” a população do confinamento social, para, supostamente, proteger a economia e conseguir controlar a onda de recessão que virá. Bolsonaro também criticou a imprensa que, segundo ele, espalha “pavor” e “histeria”.

Em um trecho de seu discurso, o presidente afirma que não há necessidade de se fecharem escolas, já que o grupo de risco da doença é formado por pessoas acima de 60 anos, contradizendo todos os protocolos de precaução da proliferação da epidemia.

Os dados oficiais do Ministério da Saúde, por sua vez, contabilizados na última terça-feira, mostram que o País está numa onda ascendente, já somando 48 mortes e 2201 casos confirmados da doença, um aumento de 16,4% em um dia. Importante destacar que os números referentes aos casos confirmados estão subnotificados, uma vez que a orientação é que as pessoas só busquem os hospitais caso apresentem os sintomas graves da doença.

Ao pedir que a população “volte à normalidade” e que se ponha “fim ao confinamento em massa”, o pronunciamento de Bolsonaro vai na contramão de todos os órgãos mundiais de saúde e da esmagadora maioria dos governantes em escala global. O presidente ignora, inclusive, os dados e protocolos de seu próprio governo, exibindo não só um desrespeito pelas vidas das pessoas, como também uma irresponsabilidade com a segurança da população brasileira frente à pandemia que se espalhou pelo Globo.

Parlamentares, governadores, prefeitos, políticos, entidades e trabalhadores reagiram rapidamente ao discurso e utilizaram as redes sociais para criticar o presidente e pedir para que a população se mantenha em suas casas e não abandone o isolamento. O Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, escreveu em suas redes: "Entre a ignorância e a ciência, não hesite. Não quebre a quarentena por conta deste que será reconhecido como um dos pronunciamentos políticos mais desonestos da história".

Já a carta a Sociedade Brasileira de Infectologia afirmou: “Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e todos os demais profissionais de saúde estão trabalhando arduamente nos hospitais e unidades de saúde em todo o País. A epidemia é dinâmica, assim como devem ser as medidas para minimizar sua disseminação. ‘Ficar em casa’ é a resposta mais adequada para a maioria das cidades brasileiras neste momento, principalmente as mais populosas”.

A Associação Brasileira de Imprensa também se pronunciou contra as afirmações de que os meios de comunicação tenham sido a causa da apreensão de todos e, em nota, afirmou: "Decididamente, num momento em que se exige serenidade e liderança firme e responsável, com seu comportamento irresponsável e criminoso o presidente mostra não estar à altura do importante cargo que ocupa”.

 

Por que este discurso?

 

A sociedade organizada brasileira e parte da imprensa mundial se perguntam por que Bolsonaro, que tem conseguido aplicar todas as medidas antipovo e antipátria, com sucesso e em tempo recorde, proferiu este discurso que está na contramão de todas as recomendações e se contradiz tudo o que a maioria do mundo está fazendo diante do cenário de pandemia,

A resposta, obviamente, não está ao alcance da classe trabalhadora, pois a confusão criada pelas lideranças reflete a crise em que se encontra a burguesia. Segundo matéria veiculada no G1, a ala militar do governo se colocou contrária ao discurso do presidente, apostando em um tom conciliatório com os governadores dos estados. Ainda nesta matéria, está a afirmação que, com exceção do “núcleo ideológico” do governo, todas as outras alas dos bastidores governistas, inclusive os militares, classificaram o discurso como “aloprado”. Ao que parece, a imprensa burguesa tenta criar uma polarização entre a extrema-direita ensandecida, liderada por Bolsonaro, e uma extrema direita supostamente sensata, liderada por militares opositores aos seguidores do guru Olavo de Carvalho. Ou seja, pode estar sendo preparado o cenário para uma etapa mais violenta do golpe iniciado em 2016.

O discurso de Bolsonaro pode ter servido também para acalmar a base social que apoia o governo. Conforme dito publicamente por empresários como Luciano Hang, dono das lojas Havan; Roberto Justus, empresário e apresentador de programa de televisão, e Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, o combate à pandemia é menos importante que a economia. No caso de Durski, a afirmação foi ainda mais clara sobre os objetivos dos que não aceitam o lockdown: “não podemos parar por conta de cinco ou sete mil pessoas que vão morrer”. Trata-se da sinceridade em relação ao funcionamento do capitalismo: para os burgueses, vidas não importam. Importam apenas os lucros dos detentores do capital.

 

A pandemia vira cenário de disputas geopolíticas

 

Em âmbito internacional, o discurso de Bolsonaro é uma repetição da entrevista concedida por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, à rede de notícias Fox News, no mesmo dia 24 de março. Trump afirmou que o País não pode parar por causa da pandemia e relativizou a doença, comparando-a a acidentes de carro ou gripes que “matam mais”. Bolsonaro, então, novamente, cumpriu seu papel de marionete do imperialismo estadunidense, repetindo, como cordeiro, o discurso cujo objetivo maior é criar a falsa ideia de que a crise econômica sem precedentes, que levará o mundo à depressão, foi causada pela prevenção à pandemia e não pelo desgaste inevitável do capitalismo especulativo e predatório.

Em cinco minutos, Jair Bolsonaro mostrou, mais uma vez, para quê foi eleito exibindo seu caráter torpe e criminoso, atentando contra a vida da população brasileira de forma vil, ignorando os mais de 420 mil casos pelo mundo e as 800 mortes diárias na Itália e subestimando dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do seu próprio Ministério da Saúde, sem apresentar sequer uma medida de controle e segurança para a população que possa substituir o confinamento.

A ideia de se voltar à “normalidade” sob pretexto de evitar a recessão econômica é uma farsa cujo objetivo os trabalhadores estão compreendendo a cada dia mais rapidamente. As primeiras medidas adotadas diante da ameaça da epidemia, tanto do governo Bolsonaro, quanto dos governadores que, antes aliados, hoje se passam por seus opositores, foram no sentido de penalizar a classe trabalhadora, retirando seus direitos e ampliando o desemprego. Tais medidas demonstram que a pandemia favorecerá a implantação das políticas de austeridade e de repressão contra o povo. Ao adotar essas políticas antipovo, Bolsonaro desqualifica a essência de seu discurso contra as medidas de precaução ao Covid-19 e reafirma que interesse em fazer demagogia diante de seus apoiadores.

Denunciar os absurdos do governo e articular a resistência contra o cenário que se desenhará nos próximos dias, seja contra Bolsonaro, Mourão ou qualquer ala política da direita a serviço da burguesia e, portanto, contra a população trabalhadora, hoje é mais que uma forma de se proteger contra o coronavírus, é também um ato político contra os planos do imperialismo americano para o Brasil e o mundo, cuja intenção é garantir os interesses geopolíticos dos Estados Unidos na América Latina e fazer com que os trabalhadores paguem, com suas vidas, pela crise econômica criada pelas grandes corporações capitalistas.

À classe trabalhadora cabe exigir a proteção estatal que lhe garanta segurança sanitária e sobrevivência econômica diante da crise e se organizar contra todos os governantes inimigos do povo que querem se aproveitar da crise da saúde para impor os interesses econômicos das classes dominantes.

 


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