• Entrar
logo

Sem-tetos relatam falta de assistência pública e superlotação de unidades de acolhimento em pleno avanço da Covid-19

Em abrigos com pouca ventilação natural, centenas de pessoas em único dormitório são focos da disseminação do coronavírus. Com exaustores ligados a noite toda, a situação dos que têm complicações respiratórias, se agrava. O portal Terra entrevistou Richard A., que dorme ao lado de mais de mil homens todas as noites no albergue Arsenal da Esperança, o maior centro de acolhimento de São Paulo, na zona leste da capital. Dividindo espaço com moradores de rua em beliches a um metro de distância uma da outra, o homem, de 30 anos, sente medo de a aglomeração de pessoas no local virarem um foco de disseminação da doença. “Quando alguém tosse ou espirra, não sabemos se é uma simples gripe ou coisa pior”, relata Richard, que tem úlcera e recentemente descobriu um câncer no estômago. “Então minha imunidade é baixa e tenho medo de ser infectado", completa.

São mais de 24,3 mil pessoas em situação de rua só na cidade de São Paulo, que não está abrigando-as com segurança nesse momento. Dados do último Censo da População em Situação de Rua de São Paulo apontam que 11,7 mil dessas pessoas dormiram em centros de acolhida em 2019, e desse total 7,6 mil ficaram na mesma unidade de três a mais de seis meses, rodeadas por centenas de desconhecidos no mesmo quarto. Isso em uma cidade coalhada de prédios abandonados, sem uso, onde os conflitos entre a especulação imobiliária e os sem teto são constantes.

Outros abrigados também denunciam a situação de abandono em que se encontram em relação à proteção contra a pandemia. Segundo eles, faltam máscaras e álcool gel para usarem fora do albergue, já que não podem passar o dia na unidade. Além disso, fecham completamente parques e locais públicos onde poderiam se abrigar sem ficarem amontoados. Os próprios “moradores de rua” desconfiam que esteja em curso uma política de extermínio, algo que já vem sendo posto em prática através de várias ações da Prefeitura de São Paulo, durante os anos da gestão de João Dória (PSDB). Vale lembrar que em 2017 a gestão Dória (PSDB) à frente da prefeitura da maior cidade do país foi marcada por episódios dramáticos contra as pessoas em situação de rua, como o constante recolhimento de seus cobertores, colchões e outros objetos pessoais pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), além da expulsão com jatos de água fria, em pleno inverno, dos que amanheciam na Praça da Sé. Ações violentas da GCM da capital paulista são constantemente denunciadas por essa população que representa o extremo do processo de exclusão social do sistema capitalista.

No Rio não é diferente e, devido à expansão da Covid-19, diversos sem teto estão preocupados com a situação em que se encontram. Com a necessária imposição da quarentena, tornou-se mais difícil conseguirem itens básicos de saúde, higiene e alimentação. Entrevistada pelo RJ2, Scarlette Ohanna disse que as “carreatas”, grupos de pessoas que distribuem comida, estão passando com menos frequência.

A epidemia da Covid-19 obrigará a sociedade, que costuma olhar para a situação de abandono dos “moradores de rua” como parte dos problemas insolúveis das grandes cidades, a buscar soluções, pois, elas não somente estão mais vulneráveis à doença, como se transformarão em vetor de propagação do vírus. Nesse sentido, o Ministério Público do estado de São Paulo recomendou que medidas emergenciais fossem adotadas pela Secretária de Assistência e desenvolvimento Social (Smads), para ampliar a prevenção, como a realização de obras emergências para reforçar ventilação natural nos dormitórios. Já a Defensória Pública da União (DPU), pediu no dia 18 que a pasta pague aluguel social para toda a população em situação de rua, enquanto perdurar a pandemia da Covid-19, e use espaços públicos educacionais e esportivos, com atividades suspensas, para abrigar essas pessoas. O poder público ainda não deu respostas a essas exigências.

Fato é que, sob governantes que tradicionalmente defendem políticas genocidas contra a população pobre, como João Dória em São Paulo, Witzel, no Rio de Janeiro e Bolsonaro no governo Federal, não se podem esperar ações efetivas de proteção aos que já estão expostos a todo tipo de intempéries e violência e são ainda mais vulneráveis ao coronavírus. Será necessária a organização da classe trabalhadora em apoio aos movimentos sociais que lutam pelos direitos daqueles que estão à margem da cadeia produtiva.

A crise obriga o Estado a dar uma resposta urgente ao massacre social dos trabalhadores, portanto, o momento é de se exigir direitos emergenciais que garantam moradia, renda e proteção à saúde dos mais vulneráveis, para que não ocorra um verdadeiro genocídio. Junto a isso, é preciso fortalecer a luta pelo direito à moradia digna, apoiando as ocupações urbanas como um instrumento de luta política contra a especulação imobiliária, que não pode ser superior às necessidades básicas da grande maioria do povo.


Topo