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O que os capitalistas dizem sobre a crise?

Segundo previsão da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a incerteza econômica causada pelo Covid-19 deve custar US$ 1 trilhão à economia global em 2020. De acordo com o diretor da divisão Globalização e Estratégias de Desenvolvimento da agência, Richard Kozul-Wright, o vírus causa instabilidade nos mercados financeiros, preocupações com a cadeia de suprimentos mundial e incerteza no preço do petróleo, o que levaria à desaceleração da economia e um crescimento abaixo dos 2%. Ainda segundo Kozul-Wright, poucos países devem escapar aos seus efeitos.

O Secretário Geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurría, em entrevista à BBC, disse que a crise instaurada pelo coronavírus já supera o choque econômico de 2008 e o de 2001, após os atentados de 11 de setembro. Gurría também afirma que o mundo irá levar anos para se recuperar de tal crise e que um pífio crescimento econômico mundial de 1,5% já seria otimista demais para este ano.

Essas organizações, porta-vozes dos grandes investidores mundiais, afirmam que as ações de isolamento para conter o coronavírus têm tido impacto direto no consumo, produção e até mesmo em setores que não têm ligação direta com a produção. As dificuldades de produção com o isolamento e a queda no consumo levará a uma diminuição das receitas das empresas, o que levaria muitas a reduzir seu quadro de funcionários, ou até mesmo fechar as portas. De acordo com a OCDE, com a crise instalada, as pessoas podem optar por poupar dinheiro ao invés de gastar, se preparando para cenários pessimistas, inclusive situações de desemprego. Esse efeito se amplia e expande conforme o consumo cai e as empresas reduzem suas atividades.

 

A crise do capitalismo não foi criada pela pandemia

 

É fato que a pandemia do coronavírus tem acelerado e intensificado a crise econômica mundial, mas é falsa a ideia que tal colapso tenha sua origem com o vírus. Já em 2018, um relatório da própria OCDE afirmava que a taxa de crescimento do PIB mundial em 2019 seria inferior à do ano anterior e totalizaria uma queda de 0,2% da taxa de crescimento mundial entre 2018 e 2020. Naquele relatório, quase todas as economias do G20 tiveram suas projeções revistas negativamente, ou seja, desde o final de 2018, a desaceleração da economia mundial já era perceptível. No Brasil, o recente anúncio do crescimento pífio de 1,1% do PIB de 2019, em relação a 2018, comprovou o cenário de desaceleração previsto pela OCDE. Este cenário se agravou quando, na primeira quinzena de março deste ano, a Bovespa, bolsa de valores de São Paulo, lançou mão, múltiplas vezes, do “circuit breaker”, dispositivo para paralisação do pregão, depois de passar quase três anos sem ativação. Após isto, o mercado reduziu para 1,68% a estimativa de crescimento do PIB brasileiro em 2020.

O pânico nos mercados no início de março foi desencadeado pela queda nos preços do petróleo, após a decisão da Arábia Saudita de cancelar os seus cortes de produção prévios e iniciar uma guerra de preços com a Rússia.  Os preços do petróleo já vinham caindo também com os temores sobre uma queda acentuada da demanda devido aos impactos econômicos do coronavírus.

 

Os trabalhadores não devem pagar pela crise

 

Como se vê, as projeções pessimistas para a economia mundial mostram que o colapso do capitalismo estava prestes a ocorrer e foi acelerado pela crise causada pela pandemia do Covid-19. Muitos analistas já não acreditam mais em recessão, mas em depressão da economia mundial, que levará milhões de pequenos e médios empresários à falência e deixará milhões de trabalhadores desempregados, piorando ainda mais o cenário de desemprego e informalidade presente no Brasil, que já soma 12,6 milhões de desempregados e 38,4 milhões de trabalhadores informais.

Os ciclos de crises econômicas do capitalismo sempre levam ao desemprego, à miséria, à fome, à perda do poder aquisitivo da classe trabalhadora e às guerras. São nestes momentos que se acentua a luta de classes, pois os  donos do capital imperialista não querem perder seus lucros exorbitantes, e, em tempos de crise, tentarão fazer com que os trabalhadores paguem a conta. Conforme ensina Lenin, as crises (de toda a espécie, sobretudo as econômicas) aumentam em fortes proporções a tendência para a concentração e para o monopólio. Porém, apesar de a apropriação da produção continuar a ser privada, quando a concorrência se transforma em monopólio, há um gigantesco progresso na socialização da produção. Cabe à classe trabalhadora se organizar para exigir que essa socialização não seja em benefício apenas dos especuladores financeiros.

É preciso organizar os trabalhadores para exigir a proteção durante a crise. A estatização dos serviços médicos do País, a taxação das grandes fortunas e o cancelamento do pagamento da fraudulenta dívida pública são alguns dos passos necessários para garantir a transferência de renda aos mais vulneráveis, a proteção ao emprego, o atendimento hospitalar e os equipamentos de prevenção.

Se, diante da crise do Coronavírus, em todos os países do mundo, o Estado irá utilizar os recursos públicos para salvar a economia, nada mais correto que o Estado esteja controlado pelos trabalhadores, os verdadeiros produtores da riqueza e a maioria da população do planeta. Ou isso, ou os recursos retirados dos impostos pagos com o suor da classe trabalhadora servirão para manter a taxa de lucros de poucos parasitas especuladores, enquanto assistimos a uma verdadeira hecatombe mundial.

 


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