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Isolamento vertical: o genocídio dos mais pobres

No último dia 24 de março, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (ex-PSL), fez um pronunciamento oficial, em rede nacional, se colocando contra o isolamento social, medida amplamente divulgada e defendida pelos órgãos de saúde do mundo como o método mais eficaz do momento para impedir a propagação do coronavírus. Em oposição ao isolamento social, o governo defendeu o chamado “isolamento vertical”. Na terça-feira, dia 31 de março, o presidente voltou a criticar as medidas de isolamento social, chegando a distorcer a fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom. Logo mais à noite, Bolsonaro voltou a se pronunciar oficialmente, desta vez num tom mais “baixo”, mas novamente sem apresentar saídas reais aos trabalhadores quanto a garantia da sobrevivência dos mais necessitados.

Mas, afinal, o que significa a proposta de Bolsonaro de isolamento vertical? Como esta medida conseguirá conter a propagação da contaminação do COVID-19? O isolamento vertical tem como prerrogativa isolar os grupos de riscos (em especial os idosos) e pessoas infectadas com o vírus. Já as pessoas que supostamente não fariam parte destes grupos poderiam se infectar, pois não sofreriam tanto com os sintomas quanto aquelas acima de 60 anos, com histórico de doenças pulmonares, gestantes, lactantes etc. O presidente chegou a usar o seu exemplo pessoal, seu “histórico de atleta”, para afirmar que, caso infectado, seus sintomas não passariam de “uma gripezinha, um resfriadinho”.  

O discurso da extrema-direita, além da clássica demagogia, demonstra os interesses econômicos em defesa das classes abastadas. Antes de tudo, é preciso falar o óbvio: que a nova forma do Coronavírus ainda está sendo estudada e a ciência ainda não chegou a conclusões exatas sobre o comportamento da doença em pessoas que não compõe o grupo de risco. Segundo: é totalmente mentirosa a afirmação que pessoas abaixo de 30 anos não morrem em decorrência da doença, a exemplo do que ocorreu na França, que confirmou a morte de uma adolescente de 16 anos, sem histórico de doenças, pela contaminação da COVID-19. Mas para além destas questões, a proposta do governo não responde questões simples como, por exemplo, como garantir que todos que compõe o grupo de risco fiquem em suas casas? E no caso dos idosos, por exemplo, que são dependentes dos familiares, como ficaria protegido se as pessoas que compartilham a habitação continuarem indo às ruas, como incentivou o Bolsonaro? Como os idosos das famílias pobres, pessoas com histórico de doenças respiratórias, hipertensão etc., que moram em casas minúsculas, abarrotadas de familiares, terão condições de se isolar do restante da família?

Como se vê, a proposta de “isolamento vertical” não passa de “conversa para boi dormir”. A questão central deste debate é a autorização que o governo está dando, na prática, para que a população mais pobre, mais vulnerável, se coloque numa situação de exposição, uma vez que, ao não determinar o isolamento social, o Estado se isenta de qualquer responsabilidade, deixando os indivíduos  largados à própria sorte. Ou seja, “lava as mãos”.

Os empresários, os detentores do dinheiro, irão se manter em isolamento social, enquanto que aqueles que mais precisam, que necessitariam do auxílio do Estado, ficarão desprotegidos. Resumindo: defender o isolamento vertical é o mesmo que dizer que a população trabalhadora, em especial aqueles que são do grupo de risco, devem morrer para manter os lucros dos patrões, empresários e banqueiros, que poderão seguir suas vidas dentro da “normalidade”. Não podemos esquecer que vivemos num país de intensa desigualdade social e com precário acesso à saúde, saneamento básico, moradias etc., diretamente relacionado às condições de classe social da população, inerente ao próprio descaso do governo com estes setores, o que fica explícito com os cortes de verba para o SUS. É evidente que somente as pessoas das classes abastadas terão condições de, efetivamente, se defender da pandemia.

A proposta do governo, de incentivar a quebra da mobilização pelo isolamento geral, coloca em risco trabalhadores, pais, mães, filhos. Família inteiras. É preciso exigir que o governo adote políticas públicas reais que garantam a vida dos trabalhadores, o sustento dos desempregados e informais, sem armadilhas ou outras perdas de direito.

Estamos diante de uma crise histórica mundial, que foi intensificada com a pandemia. A solução não será simplória como afirma o Bolsonaro. Pelo contrário. As contradições e a luta de classes se acirram cada vez mais. Os trabalhadores só podem contar com sua unidade de classe para enfrentar a política genocida dos governos burgueses, cuja única preocupação é resguardar os lucros dos capitalistas.

 


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