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Coronavírus e geopolítica

No último dia 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou o estado de pandemia do novo coronavírus, Covid-19. O alerta era para o fato de a doença se espalhar para o mundo todo o mundo. A declaração foi dada no sentido de os governos começarem a se preparar em políticas públicas para conter a proliferação da doença. À época, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou em coletiva de imprensa: "a OMS tem tratado da disseminação [do Covid-19] em uma escala de tempo muito curta, e estamos muito preocupados com os níveis alarmantes de contaminação e, também, de falta de ação [dos governos]".

Este cenário de pandemia, rapidamente, se arrastou para uma crise econômica de maiores proporções. Após uma súbita baixa no preço do petróleo, devido a uma disputa comercial entre Estados Unidos e Rússia com a Arábia Saudita como pivô, e tendo como pano de fundo as análises russas sobre como o mercado e a produção de petróleo estadunidense lidaria com a pandemia de coronavírus, inúmeras bolsas de valores quebraram. O novo cenário de crise econômica se mostrou ainda pior que o de 2008.

E a situação só piora. Com o avanço da pandemia, a incerteza toma conta dos mercados mundiais. Este é o panorama perfeito para se iniciar uma crise geopolítica entre as duas principais economias do mundo: Estados Unidos e China.

As trocas de acusações começaram. No último dia 17 de março, o presidente estadunidense, Donald Trump, proferiu discurso chamando a doença de “vírus chinês”, em alusão ao fato de a pandemia, em teoria, ter se iniciado na China. A China, por sua vez, acusou militares estadunidenses de levarem o patógeno para a China nos jogos militares, realizados na cidade de Wuham, epicentro da pandemia, em outubro de 2019. Conforme escrito pelo jornalista Pepe Escobar, no portal de notícias Brasil 247, autoridades chinesas fizeram acusações frontais aos EUA, como Zhao Lijian, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, que sugeriu em suas redes sociais que "talvez o Exército dos Estados Unidos tenha trazido a epidemia para Wuhan".

Porém, o vírus é uma materialidade. Ele existe e está infectando e matando pessoas ao redor do mundo. E a China foi, até então, o país com maior êxito em combater a pandemia, com Wuhan, o epicentro, já sendo uma zona controlada, por exemplo. Além disso, o número de infectados e mortos nos Estados Unidos ultrapassou a China, o que obrigou Donald Trump a mudar o tom.

No último dia 21 de março, em entrevista coletiva, o presidente estadunidense elogiou o governo chinês pelas medidas que vêm adotando no combate ao vírus. Dias depois, em 30 de março, a China enviou 80 toneladas de suprimentos médicos aos EUA, na primeira de 22 remessas já programadas. Economicamente, o governo estadunidense liberou dois trilhões de dólares para tentar evitar a recessão, através de assistência para as classes sociais mais baixas e para as linhas de crédito. Rapidamente, Trump entendeu que o coronavírus não é só uma “gripezinha”.

Ainda assim, a recessão econômica é inevitável no quadro da pandemia. Nisso, a China, que melhor se preparou para lidar com o vírus, deverá sair fortalecida. Tudo indica que as guerras comerciais entre China e Estados Unidos devem continuar no próximo período.

 

Europa quebrada

 

Enquanto continente, a Europa ainda é o continente mais afetado pelo coronavírus. Com mais de 30 mil mortes confirmadas até então, e com países que chega ao índice de centena de mortes por dia, como Espanha e Itália, a recuperação ainda parece distante. O continente está com mais de 100 milhões de pessoas em regime de quarentena, as fronteiras estão fechadas, assim como o comércio.

Segundo análise divulgada no portal de notícias Money Times, os bancos e empresas europeias sofrerão queda de 40% a 50% nos seus lucros e dividendos. As consequências serão tão ou mais sérias que a crise de 2008. Vale lembrar que foi esta crise anterior que fez com que o capital europeu apertasse o cerco e fizesse ascender ao poder inúmeros parlamentares de extrema-direita.

As bolsas sofrem queda constante. Ontem (dia 1 de abril), a bolsa de Londres registrou queda de 3,83%; a de Frankfurt, Alemanha, 3,94%; a de Milão, Itália, 2,97%; a de Madri, 3,04%. As projeções indicam de 17% de recessão na zona do euro no segundo semestre. As condições de vida dos trabalhadores europeus, que em sua maioria passaram por perdas de direitos com reformas trabalhistas e da previdência, serão seriamente afetadas.

 

África e América Latina

 

No continente mais pobre do mundo, a África, o coronavírus avança a passos largos. Dos 54 países africanos, 42 já possuem casos registrados da doença e já são cerca de 5 mil pessoas contaminadas. As condições sanitárias e médicas precárias que a espoliação neocolonial causou no continente africano, certamente fará com que a situação fique dramática e mesmo a letalidade da doença, que é considerada baixa, aumentará bastante.

O mesmo se aplica à América Latina. Há caso em praticamente todos os países, somando o total de oito mil casos. Fronteiras estão sendo fechadas e, assim como na África, as piores condições sanitárias e de saúde irão levar a mais contaminação e morte. Novamente, e como sempre, serão os mais pobres os principais atingidos pela crise.    

Não por acaso, em reportagem de Icíar Gutierrez, do jornal da Bolívia “El Diário”, foi veiculada a informação que, de acordo com os estudos da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), com a crise que está em curso com a pandemia, o número de pessoas afetadas pela pobreza irá aumentar em 35 milhões no subcontinente. Irá saltar de 185 para 220 milhões de pessoas pobres, o mesmo tamanho da população brasileira. Os principais motivos deste aumento são a diminuição das exportações com a crise sendo global, a diminuição da demanda turística e a queda dos preços das matérias-primas no mercado mundial.

Em toda sua história, o capitalismo foi permeado por crises de largas proporções. Faz parte de sua existência estes ciclos, que levam à concentração de riquezas em cada vez menos mãos. E em seus períodos de colapso, a casta de parasitas que controlam o Capital fazem de tudo para salvar seus lucros. Com isso, exploram cada vez mais os trabalhadores e aprofundam o domínio econômico de países que estão no centro do capital para os periféricos.

Contudo, justamente pelo aumento das contradições inerentes ao capitalismo, os períodos de crise abrem caminhos distintos. A contrarrevolução, que parte dos detentores do capital para manter o sistema, e a revolução, que parte daqueles que são explorados por este sistema e, por isso, desejam quebrá-lo. No meio do caminho, aparecem os reformistas, que sob falsas fraseologias tentam “reformar” o capitalismo, deixando-o mais “humano”. As crises nunca irão parar no mundo divididos em classes sociais e baseado na exploração do homem pelo homem. Sejam seguidas de pandemia, em conjunto com pandemias, ou tendo por fim guerras, as crises nunca irão parar. Por isso, é necessário que a classe trabalhadora, parte oprimida pelo sistema há séculos, tome seu lugar na história e lute pela tomada do poder. Que as crises sejam pagas pelos capitalistas.

 


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