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Tragédia nas favelas brasileiras

A segunda morte confirmada por Coronavírus na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, no último dia 30 de março, levanta a discussão de como um governo, que nem ao menos admite a gravidade da situação que estamos enfrentando, poderá conduzir ações contra o altíssimo risco de contaminação que moradores de aglomerados correm por não terem condições mínimas de saneamento básico. Até as recomendações mais simples dos sanitaristas para enfrentar o vírus, como cuidados com a higiene pessoal – lavar as mãos frequentemente com água e sabão – é algo impensável para aqueles que sofrem com a interrupção constante do abastecimento de água, que têm que se deparar diariamente com os esgotos à céu aberto e que não têm dinheiro para as coisas mais básicas. Nestes casos, o uso de álcool em gel é praticamente artigo de luxo, a última coisa a se pensar quando a batalha é pela comida.

A falta de espaço nas moradias é outro grave problema: como se manterem em isolamento nestes casos, como é o indicado pelas autoridades mundiais de saúde? Pior: como se manter em casa, sem trabalhar, uma vez que o Estado brasileiro tem se negado a cumprir com o seu papel de assegurar a sobrevivência dos que mais necessitam? De acordo com uma matéria divulgada pelo The New York Times, “Depois da reforma trabalhista de 2017, o Brasil alcançou um recorde histórico de 41 por cento de empregos informais. Nas favelas, a situação é ainda mais precária: só 19 por cento têm trabalho com carteira assinada, o que garante, por exemplo, o pagamento de seguro desemprego. Desde o início da pandemia, 70 por cento das famílias que vivem em favelas já sofreram com queda dos rendimentos. A grande maioria — 86 por cento — vive mês a mês e dizem que não conseguirão comprar comida se faltam a um dia de trabalho”.  

A negligência do governo Bolsonaro em não criar políticas públicas específicas para as áreas de risco no Brasil só fez piorar o risco em que se encontram as mais de 13 milhões de pessoas que vivem nas favelas e comunidades pobres espalhadas pelo País. A chegada do Coronavírus netas comunidades escancara, ainda mais, todos os problemas que estes locais enfrentam.  O fato é que estas áreas não são chamadas de aglomerados à toa. Além de todo o problema estrutural, a alta densidade demográfica impossibilita que diversas orientações sobre confinamento ou isolamento social sejam cumpridas na sua totalidade.

A verdade é que o debate sobre a condição de vida nas favelas não pode ser desassociado da discussão sobre a putrefação do sistema capitalista, que é o propulsor, que leva as pessoas que ali estão a viverem nestas condições. Em suas obras, Marx explicou que quanto mais se concentra os meios de produção mais se aglomera trabalhadores no mesmo espaço e, portanto, quanto mais rápida acontece à acumulação capitalista, mais miseráveis são as condições habitacionais destes trabalhadores. Portanto, a situação das favelas esta diretamente ligada à forma de produção capitalista, que, como podemos ver pela postura do Presidente Bolsonaro, não está interessada em dar assistência às pessoas que mais sofrem com a política genocida do capitalismo e que até o momento estão desassistidas por um programa específico de combate à contaminação do Coronavírus.

A tragédia das favelas brasileiras deixa exposta a política genocida do sistema capitalista, a política que tem como objetivo proteger somente os grandes capitalistas, colocando o lucro acima da vida. O problema da habitação é um dos sintomas desta nefasta forma desenfreada de acumulação de propriedade privada.  E como explicou Engels em “A questão da habitação”, para pôr fim à falta de habitação, há apenas um meio: eliminar a exploração e opressão da classe trabalhadora pela classe dominante. Ou seja, a única forma de responder à altura a esta política é lutar por um sistema que priorize a vida acima do lucro e que, como consequência, reorganize de forma igualitária a habitação, tendo como força pulsante a classe trabalhadora.


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