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Para manter sua taxa de lucros, o capitalismo mata

A crise mundial do novo coronavírus (COVID-19), além de seu âmbito na saúde, é um dos motivos para a aceleração e aprofundamento do mais novo colapso econômico capitalista. Desde o aparecimento da doença, os mercados capitalistas foram se moldando para a adaptação ao lucro, que seria deslocado de produtos primários, como o ferro ou a soja, para os insumos de saúde, necessários em todo o mundo durante a pandemia.

Os efeitos da lógica capitalista logo foram percebidos através das altas de preços de produtos  de necessidades imediatas como o álcool em gel, que teve aumento de 194% no Brasil, e máscaras sanitárias, com altas de 316% praticadas pela pequena-burguesia comercial. Além de produtos básicos, o equipamento necessário para o combate à doença em hospitais, os respiradores, têm sofrido uma alta de preços criminosa, praticada pela burguesia industrial.

A elevada demanda, com caráter de urgência, é a justificativa capitalista para o aumento dos preços e dificuldades de distribuição dos produtos pelo mundo. Seguindo a lógica do livre mercado, o aumento nos preços dos produtos segue a fórmula da grande demanda, para elevar os  lucros  da indústria de produção dos insumos. Mesmo com críticas à lógica mercadológica vindas dos próprios economistas liberais, o mercado ainda funciona pautado na  continuidade da mesma, na tentativa desesperada de superar os prejuízos causados pela estagnação  industrial do mundo. Desta forma, a burguesia apresenta, mais uma vez , a  preferência ao lucro em relação à vida da maioria, deixando, em diversos países, hospitais com escassez de produtos essenciais para o enfrentamento à Covid-19.

 

Presença do Estado

 

A lógica perversa do mercado afeta principalmente a classe trabalhadora dos países mais pobres , onde a produção de tais produtos, apesar da existência de  matéria-prima, não é feita em virtude da lógica imperialista de dependência industrial.  Em relação às máscaras e aos respiradores, por exemplo, governo brasileiro se diz atropelado pelas ofertas de outros países aos fornecedores da China, que cobrem as multas no rompimento dos contratos,  enquanto países como o Estados Unidos, bastião da defesa do livre mercado, adotam medidas de tempos de guerra para garantir a primazia na obtenção dos produtos emergenciais. Governos como os da França e Alemanha acusam os EUA de  "roubo" de contratos, como aconteceu com o Brasil, quando uma carga de 600 respiradores artificiais encomendada de um fornecedor chinês por estados do nordeste brasileiro não pode embarcar do aeroporto de Miami, onde fazia escala, e a operação  foi cancelada unilateralmente pelo vendedor. A suspeita é de que os EUA tenham oferecido um valor mais alto pelos produtos.

Internamente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recorreu a uma lei da época da Guerra da Coreia para proibir a 3M, empresa americana que produz as máscaras e respiradores, de exportar seus produtos médicos para outros países. A lei, criada nos anos 1950, permite que presidentes forcem companhias a produzirem itens para defesa nacional.

Ao contrário do que prega a teoria liberal, o papel do Estado no controle do mercado  se apresenta, em tempos de crises, como a “salvação” do capitalismo. Países como o Brasil e outros, por exemplo,  começam a adotar medidas para regular os  preços dos produtos de primeira necessidades, como  propostas de isenção der impostos, tanto para compra quanto para importação de tais mercadorias.
Estas ações demonstram o importante papel do Estado na economia, porém, não invertem a lógica mercadológica  regulada pela régua da morte e do lucro. Governantes do mundo todo tentam resguardar o poder da burguesia como classe dominante através da criação de leis e regras para o combate à pandemia, por meio da injeção de recursos públicos para salvar as grandes corporações do colapso econômico. E, obviamente, os países imperialistas preservam para si a hegemonia da produção e consumo dos bens necessários ao controle da pandemia em seus territórios, ignorando a crise humanitária que se alastrará pelos países cuja economia é prejudicada pela divisão geopolítica da produção industrial.

As tentativas de salvar o capitalismo através da intervenção estatal poderão dar fôlego à burguesia, mas não acabarão com a exploração de classes. Pelo contrário, no Brasil, as medidas adotadas para combater a crise da saúde revelam a voracidade com que o sistema planeja ampliar a superexploração dos trabalhadores a fim de salvaguardar as taxas de lucros da burguesia. As imediatas medidas protetivas estatais e as posteriores reformas no sistema econômico beneficiarão um número bastante reduzido da classe trabalhadora mundial. Portanto, cabe aos trabalhadores se organizarem para garantir a devida proteção as suas vidas através da sua participação nas decisões sobre a produção, uma vez que são os produtores e continuam a produzir, mesmo em tempos de isolamento.


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