O discurso neoliberal de privatização de serviços essenciais, como os setores de saúde e educação, é a “máxima” nos círculos direitistas. O discurso, que se pauta na noção de que o setor público é “ineficiente”, “corrupto”, cheio de privilégios etc., e que, portanto, seria melhor entregar vidas para o setor privado (que busca explicitamente o lucro de grandes empresários) do que deixá-las sob assistência do bem público, predomina na atual política brasileira, dominada pelos ferrenhos defensores do livre mercado. O caso do SUS (Sistema Único de Saúde), exemplo e referência no mundo, é emblemático.
Desde a sua ascensão, o fascista dos trópicos, Bolsonaro; seu ministro da destruição, Paulo Guedes, e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, nunca esconderam que defendem a privatização do setor da saúde para agradar os megaempresários responsáveis pelos planos de saúde privados. Com o avanço do governo bolsonarista e de suas medidas antipovo, tudo caminhava para o aprofundamento desta política, inclusive para mais uma vitória dos reacionários neste campo.
Contudo, a chegada do Covid-19 (Coronavírus), uma pandemia viral, pegou o mundo de surpresa, mundo este que estava e ainda está despreparado para lidar com uma doença destas proporções, pela própria natureza do sistema econômico onde a ideia de bem-estar social é simplesmente incompatível. No capitalismo, o lucro de um punhado de parasitas deve ser priorizado, mesmo que em detrimento à vida de milhares de pessoas. Logo, pensar em saúde pública, saneamento básico, moradia digna, emprego para todos, investimento em ciência, educação etc., ações que efetivamente poderiam fazer o enfrentamento a este tipo de doença, não passa de utopia. Logo, impossível haver preparação para enfrentar esta pandemia no capitalismo.
Da China aos Estados Unidos, passando pela Itália, França, Reino Unido etc., o que se viu (e tem se visto) foram os governos tentando conter, tardiamente, a disseminação do vírus e evitar o saturamento do sistema de saúde, que rapidamente ficaram lotados com infectados . Como tentativa de minimizar os danos, em todos estes países uma constante se manteve: leitos hospitalares do sistema privado foram “estatizados”. Neste momento de crise, percebeu-se que a única forma de salvar vidas, reduzir a disseminação do Covid-19 e seus impactos na economia é investir no setor público – colocar os serviços médicos e hospitalares à disposição do combate à epidemia.
No caso do Brasil, a política genocida do governo Bolsonaro, que inclusive nega a gravidade da epidemia, tem ameaçado a vida de milhões de brasileiros, em especial os mais pobres, e poderá gerar um colapso hospitalar de consequências até agora imensuráveis.
Contudo, mesmo os liberais mais árduos, como é o caso do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), que se elegeu com o apoio do presidente Bolsonaro, com o slogan de que Minas deveria ser administrada como uma empresa, se viu forçado a assumir, na última semana, a necessidade da estatização de leitos privados, na desesperada e tardia luta contra o avanço da epidemia.
Como se vê, até os mais liberais percebem a ineficiência do setor privado para atender a população trabalhadora nesta epidemia. Resta saber se o discurso do “Estado mínimo” sairá fragilizado dessa crise ou se a burguesia conseguirá utilizar suas diversas táticas de “negacionismo” para ressuscitá-lo. Certo é que, diante da inevitabilidade da intervenção estatal no combate à crise, a maioria dos representantes do liberalismo econômico já começa a defender um ‘capitalismo de Estado”. Tudo dependerá, então, da correlação de forças que se estabelecerá na sociedade, pois a centralização do setor da Saúde poderá funcionar como exemplo e impulso para a organização do controle popular das estruturas produtivas. É a luta de classes pura e simples, conforme nos ensina o marxismo científico.